A Feira do Livro de Joinville

Como criadora e organizadora da nossa Feira, desde 2003, devo esclarecer, de início, um ponto fundamental: não falo dos benefícios evidentes de uma feira de livro para uma comunidade porque criei uma na cidade onde vivo. Ao contrário, asseguro que criei uma feira de livros na cidade porque acredito absolutamente nos proveitos que cada cidadão pode tirar de um evento em torno de livros e leitura. Asseguro, também, que, quando eu deixar de ser uma das grandes “curtidoras” de cada atividade da Feira do Livro, saberei que é hora de encerrar minha participação na sua organização.

Explicado esse pormenor importante, gostaria de dizer que a maior prova de que uma feira de livros é sempre fundamental para a vida cultural e educacional de qualquer lugar é o fato de, cada vez mais, elas, em diversos modelos, se alastrarem pelo mundo civilizado, que tem consciência do papel da leitura, na formação do sujeito e na construção da cidadania.

Sobretudo quando têm compromisso de ir além da já importante exposição e venda de livros, elas são um convite quase irrecusável a leitores (sempre!) e não leitores desconfiados de que “ali tem coisa!” a passearem entre livros e acabarem fisgados por um título especial, um autor querido, um assunto atualíssimo e empolgante.

Além desse encontro de leitor e obra, em geral as feiras proporcionam um diálogo entre leitores e escritores – cara a cara–, e esse é, sem dúvida, um dos grandes momentos da vida  dos participantes de uma feira (como o momento inesquecível do menininho, numa  conversa de Orígenes Lessa  com seus pequenos leitores. A criança cutucou a perna do escritor notável: “ Eu achava que você era morto!”): conhecer um pouco da vida do autor, sua trajetória até virar escritor,  seus temas e preocupações primordiais, é mais que uma experiência marcante – é formadora.

Se a feira ainda proporciona uma maneira de perceber as ligações entre a literatura e outras formas de arte e outras manifestações culturais, a feira pode tronar-se tão significativa, que é difícil imaginar que saímos de um evento desses sem nenhum arrepio de vida, ou sem nenhuma nova reflexão. Nem é o caso de sublinhar o quanto todos os educadores acabam se sentindo privilegiados numa feira de livro, porque não faltarão oportunidades para enriquecer seu modo de entender e trabalhar a leitura.

E, se uma feira de livros é esse acontecimento marcante, do ponto de vista social, cultural e educacional, ela é também um negócio: para os organizadores, para os expositores, para os escritores e demais intelectuais sempre nela envolvidos. Além do empenho e entusiasmo, de alguma forma todo esse pessoal tem (ou teve) um investimento financeiro. Em geral, esse investimento é compensado na própria feira, por vendas, por visibilidade, por contatos importantes para outros “negócios”. O ganho financeiro de uma feira não pode limitar-se ao estrito período do evento. Muitos livros foram vendidos antes e serão vendidos depois do curto tempo de uma feira, muitos convites surgirão para escritores e artistas, muitas marcas serão lembradas, muita ideia promissora surge – tudo isso, a partir de dez dias passados entre livros, autores e artistas.

Por isso, acredito convictamente no retorno sempre positivo de uma feira – mesmo o financeiro, desde que a linha de tempo da análise de resultados não seja a de um momento, entre tantos, de um trabalho incansável em torno da leitura.

É por isso que, ao longo de 15 anos, com momentos de ventos mais ou menos favoráveis, faço o levantamento do custo-benefício pessoal, em todos os campos, e para a cidade, e vou em frente, sempre certa de que, tudo somado, o resultado é sempre positivo.

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