Ac. Simone Gehrke leu Fernanda Montenegro e Constanza Pascolato

Fernanda Montenegro e Constanza Pascolato

Duas biografias recentes abordam a trajetória de mulheres notáveis por contribuições muito à frente das possibilidades concedidas às profissionais de suas gerações: “Prólogo, Ato e Epílogo”, da atriz Fernanda Montenegro (Companhia das Letras, 392 páginas), e “A Elegância do Agora”, da consultora de moda e estilo Costanza Pascolato (Tordesilhas, 220 páginas).

Fernanda, brasileira, tem 90 anos e nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro; Costanza, italiana, tem 80 e descende de uma família aristocrática que fugiu da guerra para se estabelecer junto à elite de São Paulo. Em comum, dois exemplos precoces de coragem. Algo essencial ao empoderamento feminino, muito antes de o termo tornar-se símbolo da conquista de espaço relevante pelas mulheres na sociedade.

Duas damas maduras que transpiram emoção e valorizam as perdas e ganhos da passagem do tempo. Cada uma a seu modo, Fernanda e Costanza fizeram revoluções e chegaram ao auge do segundo tempo da existência ativas, esbanjando sabedoria, dignidade e inspiração.

Enquanto Fernanda lutou pela sobrevivência como atriz, transformando e dando voz às angústias, inquietações e emoções de muitas outras personagens que representou nos palcos da vida, Constanza conviveu com as mais altas camadas da sociedade paulistana, observando e destacando comportamentos e atitudes (cada vez mais raros) que diferenciam a nobreza de espírito. Aí inclusas preocupações da boa educação, como a cortesia, a gentileza e o respeito ao espaço do outro.

Se as memórias de Fernanda nascem clássicas, por sua imensa contribuição como diva das artes cênicas do país, a obra de Costanza é do tipo que nos engata pelos sentidos – desde o acabamento sofisticado, visual atrativo, ricamente ilustrado – e nos convida à leitura que se faz pelo muito que pode entregar: “Tudo o que você tem pode ser tirado de você, menos uma coisa – a liberdade de escolher como vai reagir a uma situação. É o que determina a elegância de uma vida, qual nossa atitude e estado mental, como nos relacionamos com a realidade’, anota Costanza.

Fernanda extravasa a arte de dentro para fora; Constanza ilumina a aparência der fora que parte de dentro. Compartilhar da vivência destas mulheres é, sem dúvida, uma aventura para leitores de diferentes gêneros e idades.

Simone Gehrke

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