Agosto, mês de…

Agosto não é mês de desgosto. Basta ter olhado para o céu no primeiro dia do mês. O sol nasceu vermelho, e as nuvens tingiram-se de magenta e fúcsia, mesclando-se ao azul numa sincronia que deixaria Monet extasiado. Depois de longos dias brancos e cinzas, com nuvens escondendo a cor que nos deixa felizes, o sol deu as caras, iluminando nossas ideias durante todo o dia. Por onde andei, pessoas lagarteavam como se pudessem fazer fotossíntese. Dizem que a luz do sol evita o mofo — talvez nossas ideias estivessem mofadas, ou mofando. Talvez sejam nossos conceitos e preconceitos que precisavam de uma arejada, para quarar as impurezas.
Todos os anos, eu espero por agosto como as crianças esperam pelo Natal. Não é por causa dos presentes. Há uma magia que ronda a data que escolhemos para nascer. Não estou falando sobre ter consciência em outra vida antes dessa — afinal, essa é uma questão para uma conversa de botequim, não para uma crônica de fim de semana. Estou falando dos bebês nos ventres de suas mães. Não tenho a menor dúvida de que são eles que escolhem quando querem vir a este mundo: basta conferir o tempo de gestação, que varia de mãe para mãe.
Eu escolhi uma sexta-feira para estrear no palco desta vida, muito antes de alguém ter a brilhante ideia de dizer que é possível “sextar”. Eu sextei há 40 anos (ou quase, já que faltam ainda uns dias). Escolhi nascer no dia mais feliz da semana, aquele comemorado por todo mundo que ama o sábado na mesma proporção que se desespera quando ouve a musiquinha de abertura do Fantástico no domingo à noite. A escolha não pode ter sido por acaso, se considerar que as pessoas, quando lembram de mim, não conseguem deixar de apontar meu sorriso como meu ponto mais marcante.
Deixemos o desgosto de lado. Que possamos sextar mais vezes na semana, que o domingo não seja um dia de tortura antecipada porque teremos que abrir mão de pequenos deleites do fim de semana para encarar a realidade na segunda-feira. Que a gente possa estrear mais de uma vez na vida, não apenas quando nasce, mas cada vez que nossos sonhos se renovam.

(Crônica publicada em 03.08.19, no jornal A Notícia)

COMPARTILHE: