As sete luas

– Me chame Sofia, por favor, falou ela delicadamente. – Isso mesmo, pensou, nada de Senhora Promise.

A atendente apenas sorriu, pois chamava, por educação, a todos pelo sobrenome, eram ordens da empresa. O Promise vinha da mãe, significava promessa.

– Você é minha promessa, ela falava sorrindo quando Sofia pedia para repetir sua história de vida, sua única ligação com o passado, a história de seu pai, como ela nascera, história que Sofia sabia de cor, mas adorava quando era recontada. Com os olhos embevecidos sentava-se aos pés da mãe, enquanto esta divagava seus sonhos e suas esperanças.

– Seu pai era lindo, falava a mãe com os olhos pensativos de quem mergulha no passado e vê ao longe aquela figura idílica que tanto se ama. Deixava-se ficar assim absorta, contemplando o desfilar da memória que teimava em manter-se vívida.

– Conta mais, mãe…

Como voltando de um sono letárgico ela logo completava:

– Aquele safado…

Sabia pouco do pai, somente o que ouvira da mãe, pois na pequena vila ninguém mais lembrava de que um dia ele passara por ali. Sabia apenas que foi um amor tórrido nascido e alimentado nas tardes de verão, quando o vento quente soprava naquelas paragens, rodopiando sobre o pequeno povoado esquecido e espremido entre as montanhas. Foi por essas épocas que ele aparecera, um engenheiro Don Juan vindo da capital…

– Presunçoso, chamavam-no os mais velhos na pequena vila.

Ele aparecera na cidadezinha para fazer as medições da estrada de ferro, era o progresso que chegava, nas palavras do prefeito, que gesticulava muito nas tardes de sábado, quando havia retreta na pracinha cheia de árvores e bancos convidativos a tomar uma fresca.

Nesse progresso que chegava, as meninas passaram a vislumbrar grandes chances de progredirem, vendo a possibilidade de casarem e ganharem o mundo e ele, o Don Juan, com olhos azuis, seletivos, tentando parecer indeciso, enternecia a todas. E nos afagos e apegos que se seguiam, prometia às pobres moças do interior o acesso ao paraíso, enquanto essas, lânguidas em volúpias, deleitavam-se na descoberta de que o paraíso era bem mais perto do que imaginavam. Não por menos, o sedutor engenheiro convertera o leito da estrada de ferro em leito conjugal, enquanto elas, deslumbradas como se em encantamento, digladiavam-se para tentar ficar com aquele troféu amoroso, um troféu de olhos azuis, que poderia levá-las para fora daquele mundinho tão estreito. Por isso era grande o afã amoroso em torno do jovem engenheiro, que viu-se assim envolvido por um paraíso voluptuoso e sedutor.

Mas a sedução transformou-se em promessas não cumpridas, tanto de progresso quanto de casamento e o resultado foi que o engenheiro fugiu escorraçado dali, enquanto a vila passou a contar com três moças grávidas, além das demais sonhadoras desiludidas que não chegaram a tanto. Por bem que duas conseguiram maridos nos incautos rapazes da vila, mas a mãe de Sofia se manteve fiel à promessa, um dia ele voltaria, um dia ele viria lhe buscar para irem para a cidade grande, para ganharem o mundo.

Os pedidos constantes de Sofia para contar sempre a mesma história não faziam mais a mãe sofrer. Ao contrário, deleitava-se em relembrar mínimos detalhes, pequenas coisas que marcaram aquele affair tão rápido, minúcias que acendiam o brilho nos olhos, prenunciando a esperança que se reacendia a cada vez que a história era rememorada. Sim, ele voltaria.

Certo que com o passar dos anos e o crescimento de Sofia rareavam as oportunidades da história ser revivida, mas a mãe, volta e meia, se postava a divagar, como se contando a história para si mesma, alimentando a esperança de que ele por certo bateria à porta.  Com os olhos baços fixos na pequena estrada empoeirada esperara por isso até morrer.

Qual o nome do engenheiro sedutor? Apenas Rômulo, loiro alto, sem fotografia, sem rosto, mas tão belamente retratado nas memórias da mãe:

– Parecido contigo, lindo igual você, repetia enquanto afagava os cabelos dourados da filha, enquanto fitava, com os olhos marejados de lágrimas, aquele rostinho loiro que a lembrava da promessa que obtivera.

Por isso Sofia não tinha o nome do pai na certidão de nascimento. Aliás, nem o sobrenome da mãe tinha…

I promise you, sussurrava languidamente o jovem Don Juan, de olhos encantadores e sorriso sedutor, tentando parecer estrangeiro, colocando um anel barato no dedo dela, anel que foi usado até a morte, mesmo após a pedrinha imitando rubi ter caído e a pintura imitando ouro ter se desvanecido com o tempo.

Prometera o céu a todas as moças enquanto estas se entregavam docilmente ao encanto, inebriadas pelo azul daqueles olhos, seduzidas pelo timbre daquela voz.

Quando Sofia nasceu sua mãe viu a realização material daquela promessa não cumprida, viu a manutenção de um elo que a prendia ao amado e resolveu colocar-lhe o sobrenome de Promise, a promessa de sua vida, a materialidade de seu amor e como naqueles tempos cartório não se preocupava em conferir documentos, o nome ficou esse mesmo, sequer tendo o cartorário questionado o fato de sua mãe ter por sobrenome Silveira.

Talvez por isso Sofia buscava tanto a presença masculina em sua vida. E por isso sempre os homens tinham o poder de lhe dilacerar o coração.

– Não acredite nos homens, dizia a mãe já doente, mas com os olhos grudados na estrada poeirenta, na esperança de que naquela esquina pudesse aparecer a figura alta e esguia do seu amado, loiro e fugidio.

– Como a vida dá voltas, pensava, enquanto esperava o voo que realizaria o sonho que alimentava desde criança, enquanto sua mãe, agora sob a fria lápide do jazigo, deveria estar abençoando-a por poder finalmente realizá-lo.

– Iremos para Paris, sussurrava o engenheiro no ouvido de sua mãe, com seus olhos ternos, enquanto ela agarrava com ardor a mão dele, envolvendo-se nele, como se isso pudesse dar mais chance da promessa ser cumprida.

– Paris… Repetia a mãe, com os olhos perdidos ao longe.

– Paris… Repetia Sofia, sonhando o sonho da mãe. Cresceu imaginando o quanto seria bela aquela cidade dos sonhos da mãe. Vendera tudo o que tinha, quase nada, reunira as parcas economias e resolvera ganhar o mundo. Sim… iria para Paris. Talvez encontrasse o pai, era um sonho vago, mas o sonho sempre vai ser o berço da realidade. Talvez fosse a forma inconsciente de vingar a memória da mãe, que não teve essa coragem de largar o vilarejo e sair atrás de seu sonho, de aventurar-se pelo desconhecido, de conhecer Paris.

– Chega dessa vida de autômato, pensou ao sentir doer as juntas dos dedos enquanto puxava a maleta pelo saguão, dores provenientes da digitação diária, de tanto fazer e refazer a mesma conta, contar o mesmo dinheiro todos os dias que trabalhara naquele banco.

– Trabalho sem nexo, pensava, não vendo qualquer razão esse tipo de atividade, sempre mecânica, sempre repetitiva.

– Trabalho insípido, descrevera à amiga psicóloga.

– O universo conspira para sermos felizes, relembrava o manual de autoajuda, mas as evidências pareciam apontar o contrário, tudo mostrava as desgraças da vida, em notícias avidamente devoradas por todos, como se abutres esfomeados.

Tentou ouvir os alto-falantes. A voz mecânica anunciava um novo voo, uma nova chegada, pessoas que voltavam, algumas recebidas com lágrimas, outras com sorrisos…

– Quando eu voltar haverá alguém me esperando? – perguntava-se Sofia. – E depois? Será que voltarei?

Estava numa viagem sem carimbo de retorno. Olhava com interesse as pessoas passando, enquanto Milton Nascimento cantarolava na sua cabeça:

“Todos os dias é um vai-e-vem, a vida se repete na estação, tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais voltar.” Os vários tipos de pessoas passavam em todas as direções.

– Tem que tirar o cinto também, falou a agente enquanto sua mala e suas entranhas eram inspecionadas naquelas máquinas que nos desnudam por completo, quando nos sentimos impotentes perante tudo e todos.

– A bota também, ordenou a agente com olhar autoritário e só faltava Sofia tirar saia e blusa, pois a primeira estava quase caindo ao não ter mais a sustentação do cinto.

Na escada rolante tinha a doce impressão de voar e sentiu-se novamente a adolescente que fechava os olhos e abria os braços, subindo lentamente enquanto ficava com medo da escada terminar e ela cair, ficando no dilema entre abrir os olhos ou manter-se mais um pouco naquela sensação gostosa.

Mais à frente viu a indicação e entrou na sala VIP.

Um escritório, pensou, tamanha a quantidade de notebooks, celulares e outros dispositivos em uso e eram poucas as pessoas que ficavam ali para conversar. Via que todos, mesmo quando parados, tinham pressa, via-se isso em seus olhos, os canapés iam e vinham nas mãos ágeis dos garçons que teimavam em encher as taças.

– Vinho, madame? Temos também uísque ou outra bebida…

Deixou-se ficar, era gostoso ser paparicada, embora não fosse apegada a tais mordomias. Apenas sonhava viajar, descobrir novos mundos, novos povos, novas almas, novas emoções. Pessoas são emocionantes e seus sonhos são inebriantes. No seu trabalho sempre escutava as histórias das pessoas que viajavam de classe executiva e resolvera agregar essa mordomia ao seu sonho. Por isso estava agora ali naquela sala VIP do aeroporto.

Não pode deixar de reparar no bonitão que às vezes esgueirava o olhar na sua direção, isso quando ele os conseguia levantar do notebook.

– Não, outro não, pensou meio sorrindo.

Estava livre, leve e solta. Tivera um amor, um amor de verdade quando tinha seus dezoito. Lógico que os anteriores não entravam na conta, não eram amores, eram meras paixões juvenis, aquele foi o marco divisor, quando sua alma entregou-se completamente, e tal qual o romance de sua mãe, foi tórrido, mas também foi efêmero, pouco durou, restando apenas a promessa da volta, promessa igual a que mantivera sua mãe cativa por toda a vida.

– Homens são lindos e vazios, são efêmeros e volúveis, repetia a mãe, como se em cantilena.

Como aprender com os erros dos outros é sábia virtude, Sofia, refeita das lágrimas, não repetira a mãe, arranjara casamento com o próximo pretendente, rapaz exibicionista que a queria para ajudar a custear as aparências, num relacionamento que conseguiram manter por longos oito e sofridos anos, desfazendo-se logo após a morte da mãe, que até então era o único elo de união entre dois universos tão díspares.

Bem que tentou amá-lo, mas amor é moeda de troca, é escambo, é um toma-lá-dá-cá e precisa ser regado, alimentado. Como consequência, o afastamento foi natural, era inerente, mas foi dolorido.

E agora estava ali, juntando os pedaços quebrados do que construíra ao longo de seus vinte e oito anos de vida, observando com interesse o comportamento das pessoas, vendo como algumas eram fúteis, volúveis, o quanto precisavam demonstrar que eram mais importantes que os outros, o quanto precisavam se sobressair dentre as demais.

– Sempre igual, pensava, cada qual querendo ser melhor que o rival…

– Essa moça vai para onde? Acordou do devaneio ao escutar a voz ao seu lado. Cruzou os olhos com o bonitão que sentara-se ao seu lado como num passe de mágica, pois enquanto ela divagava, sequer percebera a aproximação.

– Paris, respondeu ela com vivo interesse, e você?

Realmente ele era charmoso, devia ter uns trinta e cinco, ela tinha tino para descobrir a idade dos outros, geralmente acertava.

– Coincidência, ele falou sorrindo, também vou para lá, – business, ah, desculpe, meu nome é Jorge, muito prazer.

– Prazer, disse ela perscrutando aquele rosto bonito, meu nome é Sofia. Você trabalha com o quê?

– Estou dirigindo a construção de uma usina no norte do país.

Descreveu que fazia parte de um grande consórcio de empresas e estava indo para uma reunião em Paris com os diretores. Na realidade era uma reunião de negócios, iam apresentar o projeto para um grupo de investidores japoneses, pois tratava-se de um megaprojeto e havia necessidade de alocar mais recursos…

– Desculpe, falou ele diminuindo o ritmo da voz que havia se alterado, essa conversa está te chateando. É que viajar me deixa nervoso.

– Não, não, sem problemas, emendou Sofia ao mesmo tempo em que o garçom lhes enchia nova taça.

Interessante que ele falava sorrindo e era isso que lhe dava aquele charme todo especial, principalmente com aqueles olhos negros profundos.

– Você também está indo a negócios? Perguntou, reparando que de perto ela era ainda mais bonita.

– Não, estou indo para passear um pouco.

– Você mora em Paris? Sofia não sabia se a usina era no Brasil ou na França, mas sabia que a melhor tática para manter uma conversa acesa era fazer perguntas e agora Jorge era a única referência que tinha, estava ali sozinha. Ou melhor, agora se dava conta de que estava realmente sozinha no mundo.

– Não, moro no Rio, isso mesmo, Rio de Janeiro, mas essa vida de cidade grande está muito corrida…

A conversa fluiu rápida e natural, o garçom encheu de novo as taças, os sorrisos se transformaram em gostosas risadas e quando seus olhares se cruzaram novamente conseguiram ler lá no fundo as palavras que eram escritas nas estrelas, augurando que foram talhados um para o outro. Tiveram certeza que suas almas se completavam, eram almas gêmeas que se procuravam no turbilhão da vida e que agora estavam se entrelaçando num murmúrio, repetindo em seus ouvidos que, sim, o amor existe e estava disponível para eles, como o vinho das taças que teimava em ser servido e sorvido em extremes de prazer.

Falaram das suas vidas e dos seus sonhos, das areias e seus castelos e dos amores que precisavam conquistar para os habitar e não perceberam o voar das horas, mas perceberam que seus assentos no voo não eram contíguos, mas sempre há uma agente de bordo solícita que pode tomar providências, pequenas modificações de última hora, principalmente para um moço tão bonito e quando se tem dinheiro a coisa fica ainda mais fácil.

– Pois não, senhor, já está providenciado, ao seu dispor senhor, falava a aeromoça.

A poltrona era deliciosa, ela não conhecia tanto conforto e antes mesmo do avião decolar Sofia já se sentia nas nuvens.

– Para o jantar, madame prefere magret com champignon ou mignon ao madeira?

Se tivesse uma vela acesa o jantar seria ímpar, mas seria pedir demais, o vinho era maravilhoso, o rosto já estava afogueado e as risadas eram generosas.

– Coma querida, dizia Jorge, e tudo o que ela desejava era beijar aqueles adoráveis lábios que lhe sorriam, que cuidavam dela, que lhe davam atenção.

Realmente o universo conspira para sermos felizes, pensava, mudando repentinamente de opinião. Pelo menos aqui em cima.

Sentiu novamente o afoguear do amor, a inebriante brisa da paixão, que quando sopra arrasta levemente os corações para o horizonte que teima em refletir a luz da lua, que agora se divisava da minúscula janela do avião. Vista ali de cima, a lua pairando sobre o acolchoado de nuvens, tinha muito mais poder de sedução e as estrelas escreviam em letras luminosas no breu do céu que a eternidade é feita de pequenos momentos, momentos iguais a esses, então carpe diem, pois a vida é curta, então curta.

A descida do avião, as mesuras no hotel, o quarto espaçoso e deslumbrante, o enlace dos corpos sedentos de paixão, o quedar-se inebriada após o amar, o esvoaçar do tempo nas cortinas sopradas pelo vento, que parecia escoar-se lentamente, nada mais parecia afetar Sofia, tudo fazia parte de uma grande conspiração arquitetada sob a luz das estrelas e sob as bênçãos da lua, deitada em forração de nuvens. Já não se impressionava com mais nada, pois ainda se encontrava nas nuvens.

– Mais champanhe? Perguntou Jorge, não percebendo que ela dormia com um lânguido sorriso nos lábios.

 

– Olha que lindo, ela falou baixinho, quase murmurando. Sua cabeça recostava-se no ombro de Jorge e ao longe a Torre Eiffel começava a piscar suas luzes, querendo roubar o fulgor alaranjado do céu, que teimava em continuar seu brilho, apesar de avisado pelas nuvens que a noite se aproximava. As luzes faiscavam no vai-e-vem frenético do anoitecer e agora a basílica atrás deles também acendeu suas luzes, ignorando os teimosos raios de sol que espiavam por cima do horizonte. Raios esses que despejavam pó dourado sobre os cimos das casas, sobre as cúpulas das catedrais, sobre as torres dos castelos, tornando a cidade inteira uma imensa escultura de ouro, que faiscava seu brilho no contraste do vermelho do céu.

A Basílica du Sacré-Coeur se erguia majestosa, atrás deles, apontando sua torre central para o céu, como se esta fosse o grande dedo indicador a mostrar o caminho que as almas deviam seguir rumo ao alto, e essa indicação era acompanhada pelas duas torres médias das laterais e pelas demais pequenas que circundavam a antiga construção sobre o outeiro, como se fossem guardiãs da sua alva cúpula. Realmente era uma linda construção que se encaixava com perfeição dentro daquele belo espetáculo.

Sentados nas escadarias, com a basílica ao fundo, contemplavam a cidade sob seus pés e Sofia tentava identificar os marcos que a tornavam tão encantadora, tão luminosa, tão amada. A Torre Eiffel era inconfundível, principalmente agora com suas luzes faiscantes se destacando no crepúsculo; também o Arco do Triunfo ao longe, agora iluminado, e o majestoso Rio Sena e seus barquinhos margeando suas sinuosas curvas. Na penumbra quase não conseguia distinguir a sombria Catedral de Notre Dame, mas tudo se acendia naquela cidade que agora realmente fazia jus ao título de cidade luz. Estava embevecida, extasiada, enamorada da vida.

– Vamos indo?, sussurrou Jorge, fazendo Sofia sair do êxtase.

– É muito lindo, respondeu ela e seus olhos estavam umedecidos, conseguia se emocionar com o pôr-do-sol, encantar-se com a beleza da cidade e deslumbrar-se com a engenhosidade do ser humano em construir algo tão belo e encantador.

Jorge ajudou-a a levantar-se.

A cúpula central da basílica continuava apontando para o céu, destacando-se no lusco-fusco da noite que se avizinhava, o jogo de luzes iluminava a imaculada brancura de seu mármore, os artistas ao seu redor já recolhiam suas artes, seus pincéis e suas ideias para voltarem amanhã, com suas ideias, seus pincéis e suas artes, as pessoas se aglomeravam nas cadeiras dos cafés que avançavam nas calçadas, vinhos eram abertos, champanhes espocavam e todos sorriam e depois riam, e por fim gargalhavam, pois todos amavam e todos celebravam a vida, a efêmera vida, como se dela fossem donos e como se dela pudessem dispor livremente.

Sofia já não sabia dizer se eram seus olhos que viam a cidade com os olhos do amor ou se era a cidade que lançava seus dardos ardentes, qual cupido, conspirando em cada sinuosa esquina. Era um encantamento, um feitiço, sentia que o amor pairava no ar. Respirava paixão e era como se sua alma estivesse em transe, qualquer lugar que olhava era belo, tudo era lindo e quando o vento roçava sua pele, sentia o tremeluzir da paixão.

Enlaçada pela cintura, era conduzida pelos braços fortes de Jorge. Uma mistura de aromas perpassavam pela brisa, a noite caíra. Como era bom amar. Caminhavam lentamente pelas ruas estreitas que desciam a ladeira da basílica. Iam jantar, mas Jorge estava sério, tinha uma reunião importante amanhã.

 

 

 

 

 

 

COMPARTILHE: