Bandaneón de Vergilio

Eis um instrumento instigante, inventado na Alemanha por Heinrich Band (1821-1860); daí a denominação – bandoneón.  Incialmente com finalidade religiosa, e depois folclórica. É por excelência o instrumento do tango; daí predominar na região do rio da Prata:  Argentina e Uruguai.

Por aqui, teve o seu auge desde o período da colonização até meados de 1960. Instrumentos preferido dos imigrantes alemães e suíços. Transportá-lo, obviamente, era bem mais fácil do que um piano.  Nenhum festejo, baile ou casamento o dispensava. Segundo Arinor Vogelsanger da dupla Kruger e Vogelsanger –  mais tarde, porém, na década de 1960, perdeu espaço para a jovem guarda. Símbolo maior: Roberto Carlos, Renato e Seus Blue Gaps, Vanderleia, Tim Maia e outros mais. Uma pena, pois há espaço par todos os gêneros musicais e instrumentos musicais. O modismo as vezes atrapalha. Foi o caso. A música regionalista gaúcha também foi penalizada, sendo resgatada graças ao festival – Califórnia da Canção Nativa -, de Uruguaiana. E, hoje, em nível nacional, predomina o gênero universitário, com qualidade musical e letras as vezes sofríveis, lembra Milton Maciel.

Em outros tempos –  gravadoras -, só em São Paulo. Kruger & Vogelsanger, por exemplo, estrearam em disco, gravando o primeiro, um Long play(LP) de 78 rotações na Chantecler -, tendo por arranjador nada menos mais do que Zé do Rancho.

Alguns instrumentistas, no entanto, continuaram musicando, caso de Vergílio Prochnow, em Pirabeiraba. Alemão tinhoso, porém, criativo. Manteve-se firme. Público mais restrito, mas fiel. E Vergílio, de saudosa memória, marcou época. Personalidade cativante.  Dele, tenho 6 CDs, talvez tenha gravado mais. Verdadeiras joias. Os títulos não deixam de ser sugestivos: 1) Relembrando o Passado; 2) Nos Bosques da Serra Verde; 3) A volta dos Bons Tempos; 4) Solos da Primavera; 5) Joinville Cento e Cinquenta Anos; 6) Cervejaria de Munique. E, ressalte-se: grande parte são composições de sua lavra.  Patrocinador e, ao mesmo tempo distribuidor: sempre a bordo de sua inseparável Zica.  Traje típico germânico. Inconfundível, portanto.  Percorria Pirabeiraba e Joinville distribuindo seus CDs. Assim cobria os custos de gravação. Sobreviver…!  Há, isso dependia da lida de pedreiro. De alegria contagiante, não negava convite para apresentações. Fosse aonde fosse, e quem o convidasse. Nos eventos natalinos na praça Caetano Évora da Silveira sua presença era aguardada com enorme expectativa.

Certa feita o procuramos para o evento, estava meio adoentado, mesmo assim não vacila. Pergunta? – Dia e hora. Confirmado, responde de bate-pronto. Estarei lá, mesmo me arrastando. Assim era Vergílio. Um companheiraço.  Jamais perguntou por pagamento ou coisa do gênero. Tocava por prazer e para divertir os presentes.

De outra feita o encontro vendendo CDs. Fica sabendo que faço poemas. O Jornal a Notícia publicará uma serie sobre dez poetas joinvilenses. Tive o prazer de ser um dos participantes. Me dá uma força danada.  Amigo, siga em frente. Precisamos de artistas, senão a vida fica muito pesada. Com o grupo folclórico Silbelfluss percorreu o Brasil todo, apresentando em Brasília, a convite do presidente Geisel.

Com a Bandoneón Fest, inciativa da família Trapp – Dorival e Dionísio, o instrumento volta ao palco. Brilha. Novos talentos surgem.  No começo de forma tímida na Sociedade Piraí, na Vila Nova, depois ampliado, no Rio da Prata. E, finalmente, na 18. edição, a abertura foi na Harmonia Lyra. O evento ultrapassou as fronteiras. Consolidou-se. Mérito à família Trapp e outras que se mantiveram irredutíveis nos anos de chumbo.

Quanto à Vergílio, Pirabeiraba e Joinville, lhe devem uma homenagem. Um reconhecimento.

Amigo, que Deus o tenha, pois com certeza o céu está bem mais animado com a tua presença. E Pirabeiraba se rejubila, e agradece.

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