Blasfêmia (Adauto)

BLASFÊMIA

Tia Dete, nascida e casada MARIA ODETE MORITZ HILLBREHT, âncora de toda a família, era assim chamada por mim, seu genro político, pois criara a Marcia, minha atual Esposa. Era avó, mãe, tia, irmã, cunhada, comadre, madrinha, patroa, amiga, vizinha, para todos e, por isto, se tornou inesquecível, deixando, ao partir, saudade imensa.

Na Família se dizia que quem conseguisse brigar com Ela ganharia uma Mercedes Benz, prata, com estofamento de couro vermelho, o tanque cheio de gasolina azul alemã!

Morreu do que   tinha de maior: o coração.

Mas viveu sempre bem com a vida e a humanidade. Nem por isto, ou, talvez, por isto, deixou um anedotário fantástico, que inclui os seus casamentos – que foram dois com o mesmo noivo. Questão de religião. Casou com padre e com pastor! E de religião, outro episódio de que, só ela, seria capaz de patrocinar.

Indo à Santa Missa, em domingo, tomou a costumeira comunhão. No retorno ao banco, sentiu que a Santa Hóstia se grudara ao céu da boca. Lugar mais próprio, não?….

Tentou, inutilmente, durante algum tempo, desgrudá-la om a língua, delicadamente. Escusou-se de a tocar com o dedo. Escrúpulos. Com a língua, sim. Sem êxito.

Nervosa e irritada, exclamou “ será que esta porcaria não se vai desgrudar?

Assustou-se. Olhou para o confessionário e viu que o Padre Afonso Cruz, jesuíta e seu confessor, ainda estava absolvendo fiéis. Correu a confessar-se. Buscar absolvição ao seu pecado, à sua enorme blasfêmia.

-Mas, Dete, isto não é nenhuma blasfêmia. Não houve da tua parte nem uma intenção de ofender ao Senhor. Vai, vai tranquila agradecer pela Santa Eucaristia.

Como ela resistisse, para reforçar a sua ponderação, Padre Afonso contou-lhe haver precedentes.  E com quem? Com Dom Jaime Câmara, quando Cardeal do Brasil, presidindo o Congresso Eucarístico em Florianópolis.

-Dom Jaime, ao se aproximar uma senhora para tomar a Santa Comunhão, com uma criança no colo, viu que a criancinha estendeu a mão para pegar a Santa Hóstia. Instintivamente escondendo-a, advertiu:  Não, não, neném, cacaca….

 

 

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