Café da manhã (Milton)

CAFÉ DA MANHÃ

      MILTON MACIEL     (Coluna do Jornal do Iririú)

 

Ah, o café, a manhã!…

O aroma inebriante, a cafeína redentora,

o pecadilho autoconcedido do açúcar.    

Ah, modo bom de começar o dia!

Bendito café da manhã…

 

Mas não é o melhor de tudo.

O melhor, o mais gostoso do café,

é que VOCÊ está sempre ali, do outro lado da mesa.

Seus olhos, sua ternura, sua bondade, sua paz…

Ah, modo sublime de começar o dia!

Sagrado café da manhã…

 

Parece simples?

Parece pouco?…

Não. É TUDO!

 

Pois é, parceiro. A vida é tão cheia de coisas comuns, de lugares comuns, de pessoas comuns. E tão cheia de problemas, de preocupações, desse tempo com falta de tempo, dessa corrida de obstáculos para chegar não se sabe aonde. E aí a vida nos engana, amigo. Tolda-nos os olhos – e deixamos de ver o essencial. E esquecemos de procurar o essencial no invisível do nosso dia-a-dia. Porque o essencial, companheiro, conforme nos mostrou o Pequeno Príncipe, é mesmo invisível para os olhos.

Então eu pergunto a você que tomou seu café de manhã como em todos os outros dias da sua vida de adulto, se você viu algo mais que o pão e a manteiga, o jornal na TV, o relógio encurtando os seus minutos para a saída. Pergunto: Você viu o essencial?

Viu mesmo, de verdade, a pessoa que está a seu lado na mesa? Pois olhe, camarada, é bem possível que, se você conseguir ver de dentro para fora – e não de fora para dentro – ah, pode ser que você descubra que o melhor do seu café da manhã está sentado ou sentada ali mesmo, à sua frente ou do seu lado. Como há muitos, muitos, muitos anos tem estado. Tantos que você perdeu a capacidade de ver. De ver o essencial. Aquilo que, se você bobear e continuar brincando de rotina e de egoísmo, vai continuar invisível para os seus olhos apressados. Cegos. Feitos, por si mesmos, solitários.

 

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