Cego imaginário

Nosso Primo Namor…..

Caro Primo VALICO, nosso Príncipe Submarino dos mergulhos e da pesca de arpão. Escrevi esta crônica em 1999 para um livro que o Fanfan tem. Mas achei que Te poderia ajudar, porque tenho uma formação espiritual essênia, a mesma de Jesus Cristo. Preocupa-me, sempre o abatimento das pessoas por um defeito físico e as procuro para lhes dar ânimo. E tenho tido sucesso. Eu mesmo, estou quase surdo. Uso prótese para ouvir. Mas não desisti de advogar e tenho recebido homenagens por minha posição profissional e maçônica. Só não escuto bem os credores! Graças! Tu tiveste uma vida exemplar e agora, creio, não podes desertar dela. Vive-a, enquanto e como puderes. Teu centenário está próximo e queremos festejá-lo. Feliz  Dia dos Pais ! Carlinhos. 12/08/2018.

CEGO IMAGINÁRIO

Sou daquelas pessoas que  não podem dizer, infelizmente, referindo-se a profissões ou tarefas, só não fui guia de cego. Já fui e de quem ? Do Professor, Doutor, Advogado, Mestre e Diretor da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, duas vezes casado com mulheres excepcionais em charme e cultura. A segunda, quando Ele enviuvou, era Diretora da TV Globo, braço direito do Roberto Marinho, do Boni, inspiradora do Jô Soares, e representante internacional da Fundação Roberto Marinho, também bacharel em Direito e Economia Política pela referida Fundação Getúlio Vargas, onde se apaixonou por seu futuro marido, que jamais a viu. Amava-o, desde a primeira vista, o Homem por trás da cegueira. Ironia! Fui amigo e guia do Eurico, e das suas duas esposas. Guia, não. Sempre lhe disse que ele era um cego imaginário, porque ia ao cinema e contava o filme, depois dirigia o seu automóvel na Avenida Brasil para me assustar; redigia suas aulas à máquina e, depois, no computador e lia no escuro, porque, explicava, “não gasto energia elétrica”. Fundou uma associação de cegos para os que se julgavam derrotados, exigia higiene completa e pontualidade absoluta às reuniões. Tinha uma liderança absoluta até internacionalmente. Discursou na ONU e foi APLAUDIDO  de pé ! Em Francês e Inglês. Estava estudando Alemão, quando nos conhecemos para meu desespero. Imagina! Levei-o para saborear um churrasco na nossa chácara, que tinha uma cachoeira e dois rios. Ele pulou um dos rios para não molhar o tênis. Uns 2 metros e meio de largura. Certa feita fui visitá-lo na Fundação, onde dava aulas imperdíveis, assistidas por catedráticos em outras matérias em silêncio reverencial. Não deixava de responder a nenhuma questão levantada. Como na recepção me disseram que estava em aula e mostraram a sala (um verdadeiro anfiteatro). Entrei pé ante pé, respeitando o silêncio sepulcral dos alunos. Ele parou a dissertação e virando-se na minha direção, perguntou: Oh, Adauto, quando chegaste? Não lhe respondi ! Mas lhe disse : Tu és cego imaginário, Eurico! Como descobriste que era e eu estava aqui?  Porque – respondeu – és o último homem no mundo que, ainda, usa desodorante Brüt de Marchand. E completou,  “depois vamos apanhar a tua bagagem e vais lá pro apartamento novo num condomínio na Tijuca”. Verdadeiro paraíso. Eu mesmo escolhi e dei de presente para a Cleli. Tá felicíssima. Merece. Fomos. No dia seguinte, cedo, estava barbeando-se, quando entrou no vasto banheiro moderníssimo, sacou o biquíni e abriu a ducha, sua cunhada, uma carioquinha de uns  15/16 anos, charmosíssima. Ele largou a navalha e a repreendeu: já Te disse que, quando estou fazendo a barba, ninguém toma banho de Jacuzzi ou de ducha. “Por quê?” retrucou a cunhadinha, “tu és cego!” Ele limpou a navalha na toalha e lhe respondeu firme: Perdi a visão, não o tesão, guria!

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