Cestas e pedais

Marcha pra cima, reta longa em leve declive e a bicicleta ganha velocidade. O vento bate forte no rosto, numa sensação de quase voo. Mais duas quadras e Wagner chegará ao destino. Descerá da bicicleta e entregará um pacote de biscoitos, dois cupcakes e um levíssimo patê. Mais adiante, cerca de cinco quadras, entregará dois pães caseiros e uma cuca de banana. Na volta, ele fará um caminho diferente, por ruas arborizadas de um bairro nobre. Vai reduzir a velocidade para admirar o jardim de uma casa por entre o imponente portão que traz ao centro o brasão quiçá de uma família europeia. Vai sentar-se embaixo de uma goiabeira. Seu telefone não tocará até o final da tarde, porque o serviço de entregas via bicicleta ainda é incipiente, carece de divulgação e hábito.

Próxima dali, Ester olha um papel e confirma o endereço da entrega. A casa do número 127 é simples, com um jardim rico em folhagens. Ela bate palmas e vê sair de dentro da casa uma senhora jovial, engolida por um moleton cinza. Ester tira da cesta o pedido, recebe o pagamento e vê a dona da casa entrar faceira com sua encomenda. Ester olha a copa das árvores à sua volta e respira. Lembra-se da mãe que vendia produtos de limpeza montada em sua bicicleta, aquisição que lhe permitiu descartar o carrinho de mão. Imagina que sua mãe fora a pioneira nesse negócio de fazer entregas sobre uma bicicleta.

Tanto Wagner, quanto Ester, fazem parte de um grupo que resolveu unir o útil ao agradável e buscar sustento sobre pedais, entre automóveis, nas ruas de uma cidade que já foi conhecida como Cidade das Bicicletas. Nada me parece tanto com progresso quanto os serviços prestados sobre as rodas de uma bike, ou zica, carinhosamente assim chamada em Joinville.

Ainda que imagem bucólica, entregar pães, doces e cucas de bicicleta tem um ar de Europa, de consciência ambiental, de cuidado com a saúde, que é para onde devemos caminhar para não morrermos do coração, de acidente ou poluição.

Ando querendo encomendar os pães da Rock Cake, primeira cliente da Ciclo Entregas, só para me sentir no Leste Europeu, e conversar com o Wagner ou a Ester, e vê-los retirar de uma cesta de vime (espero que seja) o pão macio que vou saborear com manteiga da fazenda, em uma mesa redonda, coberta por uma toalha xadrez, ornamentada por um vaso de flores e pessoas felizes, cuja vida está imune às notícias ruins dos jornais, à pressa insalubre, aos pequenos fracassos que experimentamos sem termos encomendado.

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