Eu tenho que parar de fumar!

Fumar é muito bom! Sentir o efeito da tragada é como trazer à consciência o respirar, uma das poucas funções corporais cuja satisfação não carrega prazer imediato.  Mais do que isso, é ter esse deleite vinte vezes por dia, a cada dia, por anos. O cigarro é um parceiro de todas as horas, que acentua os bons estados de humor e atenua os maus. Parece perfeito. Não é.

Depois de anos de companheirismo, chega de repente o trágico momento em que você balança e sente que “talvez” deva parar. Até aquele instante a sua relação com o cigarro era perfeita. Era uma relação de carinho, você o chamava de “cigarrinho”! Tinha, na ponta da língua, argumentos infalíveis para os patrulheiros de plantão. “Meu avô fumou até 105 anos e morreu atropelado!” “É a única coisa que me dá prazer!” “Além de tudo, eu não conseguiria parar!” E assim ia mantendo o seu pequeno vício, que você preferia chamar de hábito.

Responder às outras pessoas ainda é possível, mas fica cada vez mais difícil responder a você mesmo. Vai apertando o medo de todas aquelas doenças, é coração, é câncer, é AVC! Você anda até sentindo uma dorzinha meio esquisita, uma tosse chata. Além disso, está quase impossível encontrar um lugar onde fumar, sem se sentir em um galinheiro. Nos lugares mais necessários, como no avião, você vai em cana! Os filhos fazem cara feia. O charme acabou!

Pois é, não dá mais, você decide parar. Vai ser no fim do ano, ou em seu aniversário, o que estiver mais longe. Depois de algumas enrolações, o dia chega. E é terrível! Após ter se preparado todo, com comprimidos, adesivos e chicletes, a primeira hora sem fumar quase o leva à loucura. Passam duas horas, quatro horas e o desespero não passa. Você pensa em cigarro a cada cinco segundos. Vai ser difícil demais.

De repente, passou uma manhã inteira sem fumar. Você se surpreende. Conseguiu!  No dia seguinte, começa a descobrir fatos positivos. A vontade continua a vir a todo momento, mas, do jeito que vem, vai. É como uma onda: vem e passa. Você começa a brincar com as ondas. E começa a se sentir forte. Ganhou a parada? Que nada.

Os próximos dias continuam duríssimos. Os momentos de orgulho com sua força e sua determinação se misturam com outros de total infelicidade. Mas você se lembra de tantas vezes em que fez a mesma tentativa, fracassou e acabou tendo que começar tudo de novo. Vale o esforço adicional. E vale mesmo.

Você começa a ganhar mais força e a identificar as armadilhas que seu pensamento traz. “É meu único amigo.” “Não vale a pena viver assim.” “Só uma pitadinha!” Você identifica e deixa a onda passar. Cada vez mais você se sente mais diferenciado, mais competente.

Quando vê, passou um ano. Você ainda tem vontade de fumar, mas já se sente senhor da situação. Pertence ao outro grupo. Sente-se especial quando, no hotel, escolhe o quarto dos “não fumantes”.

Você venceu!

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