Medicamento natural

Quando ela pede um remédio “natural”, deixa claro que está desconfiada. Ela questiona se as soluções que a medicina está oferecendo são mesmo as melhores. Formou uma ideia de que é muita química a modificar as coisas da natureza. Do outro lado o seu médico confia nessas soluções, elas fazem parte de seu quotidiano. Ele tem dificuldade para mostrar a ela, paciente, o que é natural e o que não é.

O primeiro ponto que ele tenta considerar é que todo remédio, em última análise, se origina da natureza. Qualquer medicamento, alopático ou homeopático, tem o seu princípio ativo extraído de um vegetal, animal ou mineral. Nesse sentido, tudo é natural. Por outro lado, é verdade que, até chegar na forma final, a substancia passou por transformações, sejam elas químicas, físicas ou biológicas. Só assim o princípio ativo poderia ter sido extraído, separado e homogeneizado, aprontado finalmente para o uso. É então disponibilizado em diversas formas, como comprimido, gota, pomada ou injeção. A química foi utilizada para que, “da natureza”, fosse extraído e preparado só o essencial, somente o componente desejado para tratar determinada condição médica. Sob esse ponto de vista, tudo é químico, inclusive os remédios “naturais”.

Mas ela é radical na exigência do “natural”, não quer nem comprimidos, mas a planta “in natura”, folhas, ervas, raízes. Aí o problema é que ela obterá o componente que precisa e mais centenas de outros componentes, que podem ser desnecessários ou mesmo perigosos. Nem toda substância da planta é benéfica para o organismo humano. Ela deve lembrar-se ainda de que existem plantas venenosas.

Outro argumento do médico é que as medicações tradicionais são o fruto de longas pesquisas e rigorosos testes. São anos de laboratório até que o remédio seja liberado para consumo. Passam primeiro por testes em ratinhos, para ver se o efeito imaginado existe mesmo. Depois de comprovado, os humanos as testam em doses progressivas só para conferir se há efeito colateral. Em outra fase se definem as doses que são mais eficazes para tratar a tal condição médica. Finalmente são comparadas a um placebo, para ver se o benefício se comprova mesmo. Só depois desse longo caminho são liberadas para as farmácias. Ciência é coisa rigorosa!

Já com os remédios ditos “naturais”, não. A partir de conhecimento popular, as plantinhas são muitas vezes só transformadas em gotas e vendidas. Umas podem até funcionar, outras não. Por vezes sua utilização teve por base alguma ideia original que nunca foi comprovada. Em outras situações, seu uso costumeiro as transformou em verdadeiras panaceias, servindo para tudo. Outras ainda adquiriram prestígio em suposições de que resolvem problemas específicos. Só que nunca foram devidamente testadas. As medicações homeopáticas ou as florais, por exemplo, podem até ser inofensivas se usadas para problemas médicos simples. Entretanto, se usadas como opção principal em casos médicos mais graves, podem tirar do paciente a possibilidade de um tratamento eficaz em tempo hábil. Aí, o seu uso é catastrófico. Por isso, são proibidas em serviços de saúde de alguns países desenvolvidos. O médico enfatiza essas questões à paciente.

O que fazer se ela continua a desconfiar? Ela já ouviu muita história de que as misturas químicas fazem mal para a saúde e tem medo. O médico deve compreender esse medo. Deve ser solidário com as suas preocupações e explicar, pacientemente, a sua opção. Se for preciso, ela deve ser autorizada a usar também aquele unguento feito pela vovó. Pode ajudar.

O importante é que ela concilie o conselho médico com as suas crenças e saia do consultório com um sorriso de confiança.

“Vou melhorar”!

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