Sorria, você está na terceira idade

Chegar à terceira idade é uma sorte. Pelo menos isso é o que pensariam aqueles que não chegaram lá, ficaram pelo caminho.

Terceira idade é um conceito flutuante. É ter ultrapassado o último terço de vida, considerando o período médio de vida das pessoas, ou como se costuma dizer, estar “vivendo no lucro”. Alguns séculos atrás, ou mesmo no começo do século anterior, a terceira idade devia começar lá pelos trinta anos. Hoje, existem pessoas que se encontram nela há mais tempo do que isso, já querendo alcançar a quarta idade. Você já passou pela fase da meia idade e está chegando lá quando “empurrar com a barriga” deixa de ser uma metáfora e passa a ser uma possibilidade real. Ou quando substitui o “tiro no pé” pela urina no pé.

Se existe algum sinal de haver chegado à terceira idade (ou quem sabe passado dela), esse sinal é o cansaço da memória, dito eufemisticamente. Embora consiga se lembrar até da cor de seu berço, você não consegue atinar onde colocou seus documentos há poucos minutos (e pra que documentos?) ou lembrar, durante o banho, se já passou xampu nos cabelos, isso quando consegue ainda tomar banho sozinho.

A terceira idade é um marco na vida das pessoas: se até ali você não se divorciou, nem enviuvou, é sinal de que vai permanecer ao lado da sua “velha” a vida toda. Com as possíveis exceções, não há mais condição de trocar uma de 70 por duas de 35. Alguns, ainda, torcem para chegar à chamada eufemisticamente melhor idade, para ter o triste consolo de preferência nas filas e de meia entrada no cinema.

Mas até quando vai a meia idade e inicia a terceira idade? Parece que é quando aquelas vovós – que antigamente ficavam em casa fazendo tricô ou contando histórias para os netinhos – se reúnem em excursões para estações de água ou entram em turmas para o bingo semanal.

É quando o vovô pode sair à rua usando aquele boné do Chaves e ninguém acha ridículo. É quando o único exercício que costuma fazer é mexer as pedrinhas de dominó no tabuleiro da praça, jogando com os amigos. Quando festeja o aniversário, verifica com pesar que seu dinheiro da aposentadoria do mês não chegou nem para comprar as velinhas do bolo.

Costuma se lembrar dos “bons tempos” de antigamente. Quando recrimina os jovens por mau comportamento é por dois motivos: inveja e saudades. Já não tem mais competência para dar maus conselhos.

Se você ainda é um jovem de 40 ou 50 anos, não se amofine, leitor, você ainda vai chegar lá (e espero sinceramente que chegue; não aconselho a outra opção).

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