Voz da censura (Andreia)

Voz da censura

Eu já me cansei de falar disso, mas não vou me calar: nós, mulheres, precisamos parar de ouvir o que nos diz essa vozinha de censura que mora dentro de nós. Essa voz carrega os males do mundo nos ombros. Ela nos diz que nunca somos suficientes. Não somos altas o bastante. Há gordura demais em nossos abdômens. São necessárias mais abdominais, mais agachamentos e uma nova série do queridinho do momento (que jamais será meu amigo nesta vida), o burpee. Os cabelos, depois de anos de alisamento progressivo com um baixo percentual de formol (embora as cabeleireiras insistam em jurar com os pés juntinhos que não tinha formol algum), agora precisam de cronograma capilar de transição para voltar aos cachos que foram reprimidos no passado. As sobrancelhas delineadas começam a perder espaço para os cílios, que não tardarão em dar espaço a sabe-se-lá mais o quê.

Somos cobradas demais. Há uma pressão invisível nos cercando, nos mandando caminhar para um lado ou para o outro. É moda, é mídia, é revista de boa forma… milhares e milhares de sites na internet dizendo como conseguir uma barriga negativa em 15 dias… a blogueira fitness famosinha que, dois meses após dar à luz, está com um corpo ainda mais sarado do que antes de engravidar… Precisa trabalhar fora, oito horas por dia, para não perder sua própria independência. Não pode ser mãe cedo demais, senão corre o risco de não ter sucesso na carreira. Não pode ser mãe tarde demais, senão o bebê corre o risco de nascer com uma infinidade de problemas. Apesar de trabalhar fora, não pode deixar a casa bagunçada, nem descuidar do marido, dos filhos, do corpinho… Não pode sentar de perna aberta. Não pode falar palavrão. Não pode usar saia curta para não passar uma impressão errada. Não pode… Não pode… Não pode… Tem que… Tem que… Tem que…

CALADA!

Chega de dar ouvidos ao que dizem a nosso respeito. Não acredite nessa voz interna que reproduz as regras que nos impuseram. Você é incrível, mulher, do jeitinho que você é. Não deixe ninguém dizer o contrário — muito menos você mesma.

 

Andreia Evaristo

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