Ac. Fiuza leu “Ilusões perdidas” de Balzac

Ilusões perdidas (Balzac)

Resenha de Ronald Fiuza

 

Honoré de Balzac magnetiza. Logo ao ter contato com o jovem Luciano de Rubempré, fica-se envolvido com a história daquele bonito e talentoso escritor, que ambicionava sair da província e vencer na Paris do século XIX. As descrições de seu ambiente, de sua relação com a família, dos amigos e também dos desafetos são preciosas. Tudo isto ocorre em uma região interiorana da França, retratando um grupo que aspirava pertencer a uma república liberal, mas se amarrava nas normas da aristocracia monárquica. No início são curiosas as dificuldades que Luciano encontrava para a ambicionada ascensão social.  Logo cresce o envolvimento do leitor com o drama.

A trama passa a despertar emoções maiores, angustiando o leitor  com as dificuldades impostas ao pobre jovem, alegrando com suas vitórias iniciais, surpreendendo com as opções que a sociedade lhe impunha, impacientando com sua fraqueza moral.

O último passo é um envolvimento pessoal, íntimo. Passa-se a reconhecer, nas pessoas que surgiram no caminho de Luciano, tantas iguais que atravessaram no próprio caminho. Não há como não personalizar a ciranda de dilemas éticos e de poder que surgem na vida do jovem e não compará-las com as próprias vivências.

O retrato da época e do lugar é denso e cruel. As descrições acuradas de Balzac  transportam para o interior da França e depois para a Paris da época. Observa-se a maldade dos jogos dos aristocratas e o sofrimento da pobreza. Aí se conhece a boemia dos jovens intelectuais do Quartier Latin, sua inocência, sua indigência. Aí se descobre que as dificuldades de publicar o primeiro livro eram ainda maiores naquela época, com o novo autor lidando com toda espécie de espertezas e chantagens. O caminho alternativo encontrado pelo personagem é recheado de armadilhas: escrever artigos para os jornais da moda, endeusando ou satanizando os escritores, teatrólogos e políticos parisienses. As falcatruas, maledicências e insinuações que os jornalistas usavam para favorecer os amigos e a impiedade ao destruir os opositores trazem um retrato nauseante das guerras sociais da época e a pergunta angustiante sobre o que resta dessas práticas nos dias de hoje.

É fascinante o mergulho nesta obra de Balzac. É carregado de emoções, em que se ri, se chora, se julga muito, por vezes condenando, outras absolvendo. Acompanhar as vitórias e derrotas de Luciano é inebriante, especialmente as consequências de suas escolhas sobre os amigos e os familiares mais queridos. A volta dramática para a província é de tirar o fôlego.

“Ilusões Perdidas” é tida como a mais importante obra de Balzac. É componente da sua obra monumental “Comédia Humana”, composta de oitenta e oito narrativas, algumas das quais primorosas. É leitura obrigatória para escritores, jornalistas, historiadores e para todos aqueles que se interessam pelos maiores livros de todos os tempos.

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