Agradecimento a quem está por trás da leitura (Cristina)
Agradecimento a quem está por trás das palavras
Ao escrever os agradecimentos no livro “Outlander – A Viajante no Tempo”, a autora Diana Gabaldon não teve dúvidas: entregou tudo e todos – inclusive o companheiro e os filhos com suas participações inusitadas e sempre fundamentais. Ah, e antes que me pergunte: sim, eu leio isso e muito mais.
Qual o escritor, seja de ficção ou não, que nunca desejou ardentemente que um editor caridoso virasse para ele e dissesse: “Vá em frente e conte a história do jeito que deve ser contada; nós nos preocuparemos em editá-la depois”? Escrever sem pensar no depois, como se tudo se resolvesse com o ponto final e os fantasmas da burocracia, das limitações e dos medos da edição não viessem atormentá-lo noite após noite.
Ou não ficou meio espantado – e encantado – ao constatar que aquilo que é seu ofício, que ele tem que batalhar horas e horas para produzir (alguém aí achou que é uma tarefa fácil?), é motivo de admiração para as pessoas que ama? Como bem expressou a autora ao denunciar a filha Laura, que se encheu de orgulho ao revelar a uma amiga que a mãe escrevia livros. Sim, livros! Aquelas coisas meio míticas que a gente diz que lê, mas que geralmente fica mesmo é empoeirando na estante. Bem, mas que continua sendo um objeto de desejo.
Quem não tem um filho, um pai, uma mãe, um amigo sincero que não faz ideia do que você faz quando passa horas e horas na frente do computador? Ou que acha que a bolinha verde do Facebook acesa significa que você não trabalha e que passa o dia inteiro vendo a vida feliz dos outros nas redes sociais? Uma vez explicava para uma criatura que eu andava muito sem tempo, que fazia mil coisas, que não podia assumir mais um compromisso. E ela, minha amiga, querida e sem travas na língua, me disse que eu não tinha tempo porque estava sempre no Face. Nem me dei ao trabalho de dizer que administrava (na época) seis páginas de clientes no Face. Ela não conseguia sequer imaginar que as redes sociais também são o trabalho de muita gente.
Tem sempre aquele amigo que te manda uma mensagem divertida pelo whats e, sem saber, assopra a nuvem de tensão que ronda o olhar de quem escreve. Tem aqueles que te chamam para sair quando você não pode (ou não deve) e aí o seu adolescente interno foge da escola e se permite vaguear por aí. E tem outros que compartilham o conhecimento, te ajudam nos inúmeros detalhes, chamam a atenção para os erros que insistem em escapar e que quase nos matam de vergonha.
Ninguém sabe, ninguém vê, mas quando escrevemos um texto qualquer roubamos palavras, ideias, fatos que vemos, ouvimos ou sentimos por aí e que muitas e muitas vezes são trazidos por amigos, colegas de trabalho, pessoas que cruzam as nossas vidas de alguma forma. Leiam meus textos mais atentamente e muitos de vocês, caros leitores, vão se enxergar claramente. Ahamm, vocês podem pensar que não, mas vão sim, podem ter certeza.
Vi isso outro dia, por exemplo, com a minha amiga formiguinha trabalhadeira que leu uma crônica passarinheira nesse espaço e na hora percebeu de onde saiu a minha inspiração. Quase um pacto entre eu ela, pois só nós duas sabíamos a quem eu me referia. Sem nomes, sem datas, sem fatos. Só com um entendimento silencioso e mútuo.
Difícil é conseguir agradecer com simplicidade e maestria a essas pessoas que, de uma forma ou de outra, nos enriquecem – mesmo quando, por um instante que seja, queremos afogá-las na própria sinceridade. Àquelas pessoas que nos inspiram, que nos irritam, que nos fazem refletir, que nos despertam para algo que de outra forma passaria despercebido. À torcida desorganizada, que comemora cada gol e fica esperando o próximo. Seria preciso livros e livros só de gratidão a cada novo título publicado.
Para quem tem a curiosidade de ler na íntegra os agradecimentos de
“Outlander – A viajante do tempo”, de Diana Gabaldon. Tradução de Geni Hirata
AGRADECIMENTOS
A autora gostaria de agradecer a:
Jackie Cantor, editor por excelência, cujo permanente entusiasmo contribuiu para a concretização deste projeto; Perry Knowlton, agente literário de discernimento impecável, que disse: “Vá em frente e conte a história do jeito que deve ser contada; nós nos preocuparemos em editá-la depois”; meu marido, Doug Watkins, que apesar de ocasionalmente ficar por trás da minha cadeira, dizendo: “Se é ambientada na Escócia, por que ninguém diz Hoot, mon?”, também passou boa parte do tempo correndo atrás das crianças e dizendo: “Mamãe está trabalhando! Deixem-na em paz!”; minha filha Laura, por informar com orgulho a uma amiga: “Minha mãe escreve livros!”; meu filho Samuel que, ao ser perguntado em que sua mãe trabalhava, respondeu cautelosamente: “Bem, ela passa um bocado de tempo olhando para o computador.”; minha filha Jennifer, que diz: “Chegue pra lá, mamãe; é a minha vez de digitar!”; Jerry O’Neill, o leitor-mor e chefe de torcida, e o resto da minha gangue fiel de amigos — Janet McConnaughey, Margaret J. Campbell e John L. Myers — que leem tudo que escrevo e, assim, me mantêm escrevendo; Dr. Gary Hoff, por verificar os detalhes médicos e gentilmente explicar a maneira correta de recolocar um ombro deslocado; T. Lawrence Tuohy, pelos detalhes sobre figurinos e história militar; Robert Riffle, por explicar a diferença entre betônica e briônia, por listar todos os tipos de miosótis conhecidos pelo homem e por constatar que álamos realmente crescem na Escócia; Virginia Kidd, por ler os primeiros capítulos do manuscrito e encorajar-me a continuar; Alex Krislov, por hospedar, juntamente com outros operadores de sistemas, a mais extraordinária incubadora eletrônica de escritores literários do mundo, o CompuServe Literary Forum; e aos numerosos membros do LitForum — John Stith, JohnSimpson, John L. Myers, Judson Jerome, Angelia Dorman, Zilgia Quafay e outros — pelas canções folclóricas escocesas, poesia romântica em latim e por rirem (e chorarem) nas passagens certas.
Maria Cristina Dias