As coisas mais caras do mundo

Alexandrita: 450 milhões de reais – uma gema fascinante, que oscila entre azul e vermelho dependendo da luz e do olho de quem vê; Rubi da Birmânia: 450 milhões de reais – é uma pedra extraída em jazidas do Sri Lanka, é roxa e linda como o sol visto em maio na Tunísia; Esmeralda colombiana: 300 milhões de reais – um anel desta pedra é vendido a 60 mil reais o quilate, e seu verde nem parece verde de tão santo! Trufa branca italiana: 12 mil reais – cogumelo com nome de doce, erva devorada por acaso antes para a sofisticação do hoje; sua aparência não é nada condizente com o preço, como prova de que a beleza interior tem seus mistérios! Whisky Glenfiddich 1937: 80 mil reais a garrafa – existem apenas 60 garrafas espalhadas pelo mundo e talvez o dobro disso em interessados em comprá-la, afinal, bilhões de outras bocas nunca sequer ouviram falar nela; sim, bocas também escutam! Açafrão: ouro em pó jogado sobre a comida! São necessárias duzentas mil flores para o preparo de l kg desta especiaria, considerada hoje a mais cara do mundo! …fico pensado em duzentas mil flores amassadas, nas hastes amarelas das plantas, nos trabalhadores na colheita, nos meses de outubro e novembro arregimentando homens. Fico pensando nessas coisinhas caras, na minha calça de linho comprada numa butique, toda amassada, e no sapato encostado que verte um brilho vernízico sem precisar de graxa: olhando assim talvez eu nem desse mais nada por eles. Fico pensando o que faz algo se tornar tão caro, quando não, tão raro, não observamos o vento sobre as fuligens, e a “validade” das coisas. Validade de tempo, tanto quanto de valor. Talvez eu não tenha muitas vezes analisado o enfoque exato dos preços.

Quantas vezes quis presentear com um objeto singular e brilhante, ou um buquê perfeito de flores do campo, ou uma porcelana importada de algum lugar que mal ouvi falar. Quantas vezes quis encontrar nos objetos mais caros a inibição das quinquilharias, e tantos foram os momentos em que pensei em bibelôs dos mais variados lugares pensando que se transformariam nas estantes num objeto de culto. Penso nas coisas mais caras do mundo, em perfumes esgarçando o nariz para bisbilhotar a essência, nas horas que pessoas passam discutindo o nome da próxima tendência, o objeto que vai nos seduzir nas vitrines, sim, porque é a mercadoria que nos seduz, é o objeto que nos compra.

E de pensamento em pensamento, fui voltando no tempo e descobrindo os presentes que fui oferecendo, o valor das coisas que fui comprando, e ao reduzir minha memória à minha infância cheguei ao primeiro presente que entreguei ainda no primário. Eu lembro bem: “Toma professora!” E entreguei a ela um grão de feijão brotando num chumaço de algodão que havia aprendido numa aula de ciências. “Isso é a coisa mais cara do mundo, isso é a vida!”, disse a professora com dois braços imensos de abraço.

Concluindo, devia ter começado essa crônica ao contrário.

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