Bode solto

Uma das minhas maiores admirações, quando visitei a Grande Loja Unida da Inglaterra, Mãe das demais que há distribuídas pela Terra, foi como recebe as críticas e sátiras sobre a Maçonaria e os Maçons.

Pelas paredes, centenas de charges sobre os obreiros universais. Algumas inteligentíssimas, de provocar gostosas gargalhadas.

Descobri, então, que aqueles dos Irmãos que nos querem “bodes amarrados” a pretexto de que a Ordem deve ser séria, sem risos, não estão no melhor dos caminhos e resolvi humorizar a Sublime Instituição, sobretudo, contando episódios risíveis, ao menos. Coincidentemente, foi nesta época que descobri o Irmão ARI CHARUTO, cujo apelido, hoje, é Comenda em vários orientes. E tem uma biografia invejável. Na vida profana e na Maçônica.

Quando fomos receber o Grau 33, no Campo de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, no Templo do Supremo Conselho para o REAA:, o nunca demais lamentado Ir:. Werner Arno Schubert e eu, fomos recebidos por um Irmão de charuto à boca, embora apagado em consideração ao sagrado recinto. Seria uma constante nele. Quando podia fumar, acendia; quando não, trazia-o pendurado nos lábios, apagado. Daí o apelido em âmbito nacional: ARI CHARUTO.

Pude observar isto, nos dezesseis anos em que fui deputado federal e deputado constituinte do Grande Oriente do Brasil em Brasília.

Nunca o encontrei sem o Havana nos lábios. Aceso ou apagado.

E lhe soube das inúmeras histórias do seu espírito de Bode Solto. Uma delas, conosco, Werner e eu.

Foi quando fomos receber o Grau Máximo, no Rio.

Ele nos recepcionou à porta daquele magnífico templo e nos perguntou: “Donde vindes. E para quê? ” Dadas as respostas, exclamou, “Mas nunca! De gravata borboleta preta?” Ante a nossa estranheza, pois não fôramos avisados de que deveriam ser de outra cor, explicou que, para o Grau 33, deveria ser branca.

– Onde vamos arranjar a esta hora da noite?

Sem tirar o charuto dos lábios, deu-nos o endereço da butique, que existia no próprio prédio, vendedora de paramentas.

– Lá ela é vendida. Vão comprá-la; senão, nem entram.

Fomos, compramos, ajustamos no pescoço e quando entramos na procissão para o Templo, o Ir:. Mestre de Cerimônias nos advertiu:

– De gravata branca, não entram! Não é a do Rito!

– Mas um Irmão, mais velho, nos chamou a atenção…

– Um com charuto?

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