Café com Raquel (Jura Arruda)

 

Café com Raquel

Jura Arruda

            Há história em cada pedra. Das que ergueram Roma às que tropeço. Há história em um ato heroico e no café de uma quarta-feira à tarde. A que conto agora, porque não levo jeito para herói, se passou à mesa de um generoso café com pães de queijo e bolos de laranja, maçã e banana. Diante de mim, escritor ávido, uma historiadora rica de memórias e carinhos, com incontáveis projetos a porem brilho em seus olhos.

            Cheguei com dois pacotes. “O que são?” – perguntou-me. “Trouxe pães de queijo e um bolo”. “Ah! Estamos fazendo pão de queijo e bolo também”, revelou. Rimos. E foi só o começo de tudo o que rimos e conversamos. Confesso que ao combinarmos o encontro, não fazia ideia de que tínhamos tanto a dizer um ao outro. Raquel S. Thiago é sensível e generosa. Já havia autografado para mim todos os seus livros. Dessa vez, eu levei os meus para ela, com um pequeno tremor ao apresentar-lhe “Frtiz, um sapo nas terras do príncipe”. O que uma historiadora diria sobre minha visão rasa da colonização da cidade? Decidi expor logo meu anseio e esclarecer que no livro ignorei a presença de negros, indígenas e portugueses na região e que a história permeava com pouca profundidade a vinda de alemães, noruegueses e suíços a Joinville. Ela, generosa, sorriu e disse “Tudo bem”.

            Rosa trouxe-nos os pães de queijo e um bolo de laranja bem crescido e fofo. A conversa ia longe, voltava. Esquecíamos do que falávamos, mas com um pouco de esforço retomávamos. Falamos de histórias oficiais às lembranças de infância e juventude. Falamos de projetos para o futuro e do quanto é bom um café numa tarde fria de inverno. Como é boa a conversa à mesa, a troca e a admiração.

            Eu havia gravado com Raquel uma entrevista para o projeto Rascunhos na Cidade e trazia comigo uma cópia em DVD para assistirmos. Logo depois do play, ouvi comentários de uma mulher vaidosa sobre suas expressões e seu nariz. Sorri. À medida que o vídeo corria, Raquel concordava com o que tinha dito e acrescentava algo, como se extras de um DVD estivessem sendo incluídos ali, na hora.

            Raquel tem sonhos, tem um desejo incontido de escrever literatura. Já escreveu treze ou quatorze páginas, mas não quer mostrar. Acha que não conseguiu dar ao texto as cores de um romance. Insisti que ela não desista, porque sei o quanto nos mantém vivos a escrita.

 

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