Como e porque me tornei escritor

De 1943 a 1949 fui aluno do Colégio Catarinense, mantido pelos Jesuítas. Estava no 1º Científico e o professor de Física, durante uma aula, referiu-se a três colegas, os quais se vestiam sempre como mauricinhos e andavam juntos por toda a parte. Deu a entender que seriam viados.

Meu sentimento de justiça berrou e esculhambei o padre. Ele me mandou para fora da aula. Desafiei-o a me tirar da classe, se fosse homem. Ele mandou um puxa-saco chamar o Padre Prefeito. Este veio e me mandou diretamente para o Padre Diretor, que não estava no gabinete, mas no orquidário.

Fui até lá. Encontrei-o ao fundo, admirando uma belíssima flor. Aproximei-me tremendo de raiva e de medo do castigo. Comecei a explicar o que houvera e coloquei desajeitadamente a mão na haste da flor. E, no treme-treme, quebrei a haste. Ele me olhou como se tivesse visto Satan, sentiu até o cheiro de enxofre. E com a voz calma e meio rouca me disse: Pode ir para casa e diga aos seus pais que o senhor não será matriculado conosco no ano que vem.

Era o máximo de castigo. Floripa só tinha aquele colégio masculino. Onde iria estudar? Mas, no caminho de casa, bolei uma solução: diria que estava com vontade de fazer o exame para a EPPA (Escola Preparatória para a Armada, em Porto Alegre. E, realmente, estudei três meses, fiz o exame intelectual, passei e fui refugado, porque era daltônico. E agora? Pedi a S. Judas Tadeu, de quem era devoto, uma solução. Ele deu. Naquele ano funcionaria o Colégio Estadual Dias Velho, à noite, com os cursos científico e clássico. Matriculei-me com urgência e fui muito bem recebido pela Diretora D. Antonieta, minha ex-professora no primário em sua escola particular.

Encerradas as matrículas, ela convocou todos os alunos para uma sessão no Salão Nobre, onde nos daria as boas vindas, explicaria algumas regras de conduta e mandou fazermos uma redação sobre “LIBERDADE”. A minha foi uma catarse contra os jesuítas, sem os mencionar. E ela achou a melhor de todas. E me felicitou e convidou para ir ao seu gabinete. Nele, disse-me que eu tinha talento e deveria continuar a ler e escrever.

É o que estou fazendo desde então.

E ela, como professora e cronista (Maria da Ilha) me ajudaria.  Realmente, devo a ela o impulso e lhe fui sempre grato como demonstrei em uma série de crônicas que escrevi a seu respeito; e como influenciei a Assembleia Legislativa Catarinense a criar o Prêmio Deputada e Professora Antonieta de Barros.

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