Desencontros (David)

DESENCONTROS miniconto
David Gonçalves
Algo irreparável acontecera. Nem José, nem Maria conseguiam entender. Estavam sós, o prazer de viver sumira. O sabor da vida acabara. As cores do arco-íris reduziam-se ao cinza.
José se perguntava:
“Onde errei? – não obtinha resposta.
Maria se perguntava:
“Por que tudo desabou?” – também não encontrava razão alguma.
Haviam-se encontrado de uma forma estranha e inevitável, como dois navios apanhados por uma calmaria, depois da tempestade, que acabam se aproximando até finalmente roçarem os costados.
Eram felizes. Riam por qualquer coisa, mesmo boba, até por uma palha voando.
“Do que você ri, meu amor? – perguntava José.
“Sei lá! Acho que é do teu jeito de andar…” – respondia Maria, olhos brilhando.
Anos depois, de tanto se roçarem, acabaram machucados e sobrevieram as tempestades, que os separaram, empurrando-os para longe.
Estavam sós. Sentiam-se encurralados na solidão. Cada qual em seu navio, sem rumo.
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