Falando de sexo… (Hilton)

Falando de sexo… 

                Hilton Görresen

Você achou que eu ia contar alguma história picante? Cabecinha suja, hein? Vou falar de sexo, mas é do sexo das palavras.

Que o feminino de leão seja leoa, de gato seja gata, tudo bem. Mas por que outras palavras se repartem em masculinas e femininas? O sol, por exemplo, é masculino enquanto a lua é feminina. Será isso associado à imagem de que os dois formam um casal, o senhor Sol e a dona Lua?

E a palavra mar? Entre nós é homem, mas na França é mulher, “la mer”. Linguagem para nós é feminino; para os espanhóis é masculino, “el linguaje” (pronuncia-se “linguarre”).

Gostaria de saber quem determinou o sexo das palavras. Iria lhe perguntar por que deixou palavras machas como televisão, aluvião no time feminino. E deixou umas coitadas na categoria de transexuais, como telefonema, que nasceu aparelhada para ser mulher e todos insistem em que é homem. Já personagem deveria ser masculino, mas alguns acham que não é. Prefiro (com apoio do meu Aulete) somente usá-lo no feminino quando representado por mulheres (a personagem Isolda, Julieta, Catifunda, etc.).

E o machismo no vocabulário? Palavras femininas sentem isso na carne, se é que palavra tem carne. Se numa classe existem 50 alunas e um só aluno, o professar entra na sala e exclama: bom dia, meus alunos!  Quando a mulher se destaca na política, para elogiá-la você deve dizer: Fulana é o melhor vereador da cidade! Se disser que ela é a melhor vereadora, estará limitando sua declaração ao grupo feminino.

– Fulana é a melhor vereadora da cidade!

– É óbvio – exclama o colega invejoso – ela é a única vereadora.

Talvez por isso, Dilma Rousseff fez questão de ser chamada de presidenta. Enquanto não tivermos outra representante do sexo feminino no comando do país, para alguns poderá sempre ser considerada a nossa melhor presidenta.

Outro tipo de discriminação sexual nas palavras: costureiro é o profissional rico e famoso, enquanto que costureira é aquela coitada que batalha em cima da máquina. Homem público é o político proeminente, conhecido em todo o país (mesmo que seja por suas safadezas); mulher pública é mulher de todos (para o torcedor fanático, é a mãe do juiz, quando este apita pênalti contra seu time). Vagabundo é o cara que optou por não trabalhar, já vagabunda…

Outras palavras são bissexuais assumidas: criança, turista, aprendiz ou artista.

Quer aprender mais sobre sexo? Leia uma boa gramática.

 

Texto publicado no jornal A Gazeta de SBS em 18.07.2020

 

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