Inzeminazon artifizial (Adauto)

INZEMINAZON ARTIFIZIAL

Carlos Adauto Vieira

 

– Aber, doktor, nos semprre facia azin…

– Sei, mas um dia tem que mudar porque tudo progride.

Agora, mais fácil com a inseminação artificial, mais barato também, pois o senhor não vai precisar comprar e manter um touro, um reprodutor de raça.

O colono coçou a cabeça, tirou do bolso traseiro da calça umas palhas de milho, escolheu uma, alisou-a com o canivetão, picou o fumo de corda, cheiroso, moeu-o na palma da mão começou a espalhar na palha que segurava entre os lábios durante a operação.

– Doktor, zenhor dizer non prrezizar mais torro?

– Isso mesmo. Por isso sai mais barato. O touro é do governo, da fundação. Só se paga a inseminação. E, mais uma vantagem, pode escolher a raça. Pra corte, pra leite. Em todos os países do mundo – inclusive na Alemanha – só se esta fazendo isso pra melhorar a raça, apurar a qualidade do leite e da carne. Vem cada animal que só vendo. Assim… – e fez um gesto, desenhando com os braços um boi gordo.

O colono bateu na roda do isqueiro, uma chama azulada subiu do pavio, tragou e deu uma baforada de fumaça e espremeu a brasa com a ponta da unha. Deu mais duas tragadas fortes, cuspiu grosso, falou e disse:

– No quarrta-feira zenhor fai no meu casa prra echsperrimentarr. Zé, ta zerto alles, nos faz tudo com inzeminazon artifizial. Xá uma vez eu querria echsperrimentarr. Zó.

Apertaram-se as mãos.

– Combinado. Na quarta-feira apareço lá, bem cedinho.

O colono partiu de bicicleta, deixando as terras da Fundação Municipal onde se faziam experiências sobre agricultura, pecuária, piscicultura etc.

Ivan, jovem técnico-agrícola, trazido de Tijucas, onde era gaudério, pelo Prefeito Rodrigo, viu naquilo uma possibilidade de vitória na sua recente campanha em favor da inseminação artificial. Era o mais duro dos colonos da região e, também o mais forte. Tinha terras e gado a não acabar mais. Se ele adotasse o processo, os outros todos adotariam também.

Na quarta-feira, o colono acordou cedinho e falou para a mulher:

– Frau, tepos te tar raçon prros vacas e tirrar o leite, denho de ir pagart um lera no Stein e combinava com doktor do fundazon prra fazer inzeminazon artifizial nos vacas, hoxe. Fou deixar os vacas separradinhas prra ele. Quando ele fir, tu tiz qual zon. Ele pode fazer.

– Que serr inzeminazon artifizial?

– Frau, doktor tiz tem um cheitinho que faz o vaca canhar crria zem torro.

A mulher arregalou os olhos e franziu a testa.

– Un gotteswillen!

O marido montou na bicicleta e foi para a cidade, depois de haver monstrado à frau qual os animais em que o doutor poderia fazer a inseminação.

Meia hora depois, o técnico chegou.

Viera cedo e, para fazer média perguntou:

– Morgen, Frau. Wie gehts?

– Danke, gute. Und ihnen?

– Gut, também, onde está herr Streit?

– Dem ido cidade xá uma fez. Zenhor ser o doktor? Meu marritinhas xá me echsplicafa tudo uma fez. Bitte, koma ria.

No estábulo, com um olhar de assombro e curiosidade, apontou o dedo dizendo:

– Meu marratinhas tizia zenhor pode facer inzeminazon naqueles vacas ali. E aquela preguinho lá é pro zenhor pendurar os calzas, zo?

 

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