Medalha Dona Francisca – Discurso do Acadêmico Carlos Adauto Vieira

HOJE, por feliz coincidência, é Dia da Mulher e, quem teve uma saudosa Mãe, uma saudosa esposa, duas excepcionais filhas -Simone e Jacqueline-, igualmente mães e, no momento, graças, uma esposa, evidentemente mãe,  de duas outras mães, Carolina e Camila, ,charmosas excelentemente, esposa que apelidei em sânscrito de Shantiniketan, Porto de Paz, não poderia deixar de felicitar a Mulher e, peço vênia, para o fazer aqui e agora, na pessoa da Senhora  Léa Pereira Dohler, nossa querida Primeira  Dama, cuja simplicidade e desempenho social nos lembram uma outra grande primeira dama : Professora Ruth Cardoso, esposa do ex-Presidente Fernando Henrique. Ambas nunca se jactaram; nem fizeram questão de figurar como socialites. É mulher na definição integral do vocábulo. Peço permissão, ainda, para iniciar o meu agradecimento por esta preciosa comenda que me há sido outorgada nesta noite tão festiva dos nossos 168 anos de vida com a criação da Colônia Dona Francisca, transformada na pujante Joinville do Século XXI, ao inolvidável amigo, colega, compadre, criador da mesma, por “por “sopro e estudo” deste colecionador de desafios, o Mega Empresário José Henrique de Loyola, que, igual e merecidamente já a recebeu. Luiz Henrique, agora, pessoalmente, não me  pode entregá-la. Orgulho-me, na saudade da sua presença, por lhe haver sido o primeiro amigo em Joinville, ora ausente: Luiz Henrique quando veio, aqui advogar.  E, sozinho, com o nosso apoio, da saudosa Stelinha e meu, enfrentou os problemas profissionais, ao mesmo tempo em que assumiu o que premonitórimente, dissera, quando preso pela ditadura de 64: “ainda governarei nosso Estado”. E, chamado à política por Pedro Ivo, com a nossa nunca desmentida solidariedade, iniciou a carreira triunfal que o levou a cumprir a premonição. Governou com invejáveis e exemplares gestões Santa Catarina. Seria em seguida senador da República, sonhando com a sua Presidência para encerrar a fenomenal carreira e se retirar para o que chamou de netoterapia: viver para seu neto Arthur. Um transfúgio que os seres honestos sempre repudiaram, lhe derruiu o desejo justo e perfeito. E o atingiu no que tinha de maior: o coração; Permitindo-lhe repetir o verso do poeta soviético Mayakósky:” comigo a natureza se vê louca: sou todo um coração !…..”.Esta traição que, sit vênia verbo, não foi, ainda, compensada (se é que existe compensação, para uma traição, com o seu busto –ao menos – e  a sede do seu Bolshói.  Permiti, ainda, que me dirija ao nosso incansável burgmeister, dr. Udo Dohler e ao seu sempre presente Vice, Comandante Nelson Henrique Coelho, em agradecimento pela surpresa que me dá azo de enfileirar feitos intelectuais e empresariais, realizados o mais discretamente possível, e que, docemente constrangido, por dever, de advogado decano, aqui e agora, provar se o que fiz merece esta escolha e exaltar alguns sonhos realizados em suas duas vertentes da cultura joinvilense. Cultura ancestral, capaz de atravessar o mar tenebroso para viver e sobreviver numa colônia inóspita, hoje, a insuperável Joinville do século XXI. Pedi-lhes permissão para o até agora; peço-vos perdão para estender-me a provar as minhas agitações culturais e justificar para o município a certeza da sua escolha. É a 1ª. vez que o faço.  Confesso nada ser criação minha, se não desenvolvimento apaixonado pelos seus resultados magníficos. E, revelar, que fui apenas agente dela. E que nada executei sozinho. Talvez a tenha aperfeiçoado um tanto. Que nem justificaria a outorga desta inavaliável condecoração. Lageano e Manezinho, contrariando opiniões respeitáveis, escolhi Joinville para advogar e a agitar culturalmente, como palco de alguma realização minha de mérito bem avaliada. Fui, se fui, mero companheiro nelas, nunca o pai. Exemplo: Feira do Livro. Sonho de Luiz Henrique e meu. Fui condutor do nosso ambicioso sonho à competência de outra joinvilense adotiva, mineira irrequieta, Suely Brandão, hoje confreira na Academia com o meu despretensioso apadrinhamento. Para a Feira jamais, sentiu a falta do prefeito Udo Dohler e seu Vice, Comandante Nelson Henrique Coelho, seja em presença; seja em aporte financeiro, os quais, ao deixarem os cargos, gravarão nas cadeiras   em que estiveram sentados por sua gestão, um recado silencioso e indisfarçável de exemplo pessoal e administrativo, digno, igualmente de qualquer mandatário da nação. Administradores de um município que é um estado; de uma instituição hospitalar que é uma cidade. Suas mãos limpas são um símbolo de administração elevada, reta, desinteressada pessoal e materialmente.                                                                   Ao enviuvar, em 1997, pensei ter perdido o ímpeto pelas realizações em favor de Joinville; da sua cultura para a sua gente. Mas reencontrei-a. Marcia manteve o incentivo até para disputar dois prêmios literários que recebi da Faculdade de Direito de Santa Catarina e da Caixa de Assistência da Ordem dos Advogados, Seccional catarinense. Problemas profissionais angustiosos e incompatíveis aos nossos foros de cidade desenvolvida me levaram a batalhar por foros múltiplos estaduais e federais; por uma associação joinvilense de advogados e, finalmente, como conselheiro seccional da OAB catarinense, a sonhada Subseção, hoje a maior do estado; sabendo de jovens adolescentes estudantes em Itajaí e Blumenau, aliei-me ao inolvidável professor Guilherme Guímbala para fundar a 1ª. Faculdade de Direito local. Não me descuidei do vernáculo germânico ao reunir pró-homens joinvilenses para criar e fazer funcionar o ICAB – Instituto Cultural Brasil-Alemanha, respondendo em inúmeras funções administrativas do mesmo. E, esta iniciativa, sem maior alarde, trouxe-me quase imerecidamente, o precioso troféu Anna Hilda Krisch, Amiga Incansável com o carinhoso apelido de Locomodiva, que lhe dei sob o seu orgulhoso sorriso de mais uma vitória.         Percebendo a riqueza histórica de Joinville, fiz pesquisas, escrevendo sobre a importância da bicicleta no processo civilizatório da Colônia e até hoje; e sobre a dieta dos habitantes dividida pela Mittelwegge, hoje Rua Quinze, que foi a mais importante via de então na cidade.          Juntamente com o incansável e nunca demais lembrado Adolpho Bernardo Schneider fundamos a Academia Joinvilense de Letras, que após larga catalepsia, retornou à sua ação com o meu retorno a Joinville, após 14 anos de S. Francisco do Sul. E o indispensável apoio de dr. Paulo Roberto da Silva, outro apaixonado por Joinville. Já, agora, preenchendo 28 cadeira do seu quadro e em plena atividade com concursos, inéditos, para professores e alunos, além das oficinas literárias em conto e crônica; presidi o Conselho Municipal de Cultura por 16 anos, tendo revelado os talentos de Mário Avancini, Douglas Hann, Maestro José Mello; Fotógrafo Narã; dum coloninho da Estrada da Ilha, Amandus  Sell; Paulo Tajes Lindner – muito pessoalmente- tanto que mantemos uma amizade sem suspeita. Ainda agora, mandou-me uma foto de sua exposição de pintura, feita em Zurich e pelo sucesso, no Vaticano e em Colônia na Alemanha. De Hamilton Machado, precocemente falecido, dono de traço elogiado nacionalmente, adquiri seus primeiros trabalhos em nanquim e graxa de sapato, para o incentivar e lhe consegui outros admiradores, inclusive a Faculdade Direito da ACE, para quem fez o convite de formatura de uma Turma. Elogiadíssimo! Teria sido um outro Fritz Alt. Fui convocado pela Prefeitura de Pedro Ivo e fiz a apresentação dos pintores internacionais Pléticos e do fraternal Amigo Juarez Machado, sobre quem revelo um segredo: escrevi-lhe estórias curtas como motivos para seus quadros, vendidos em exposição de sucesso, na velha e sempre querida Floripa. No Conselho Municipal de Cultura, instituímos, ainda, o Simdec. Para edição de livros de autores joinvilenses. Às favas o meu maior segredo de polichinelo: sempre voluntario e pessoal, trouxe o Grupo Fábio Perini, que me contratara como advogado para a região e de quem, ainda, guardo com carinho suas fichas de controle em pasta especial no Escritório a que dei nome; e um casal de empresários italianos, Giselle e Flávio Fioravanti,  que desejava um sítio para descansar, aqui. E lhe consegui o que queria e os filhos criaram o Grupo Verde Vale Turismo à Estrada Bonita; como Presidente pela 2ª. vez da nossa Subseção, em 1999, assumi a realização da XIII Conferência Estadual da OABSC, considerada a Conferência do Século XXI.  Esquecia, lembrou-me o Presidente da Escola do Teatro Bolshói- Dr. Valdir Steglich – que deixei o meu DNA na Ata de Fundação do Bólshói  Joinvilense, inacreditavelmente,  ainda sem a sua sede própria; lembrou-me, por sua vez, o fraternal amigo  médico Hercílio Rohrbacher, do que sempre mais me orgulhei : o CENTRINHO que trouxe de Bauru, o único fora daquele município; em todo o território nacional. E da Terra! Até hoje!  Já vou encerrar. Mas tenho de provar uma importante criação minha, excelente para ambas as vertentes: O Senac. Faço-o contrariando um dos mais perfeitos aforismos de Balzac: quem muito prova, prova nada. E pratiquei esta façanha só e contrariando os meus interesses em honorários profissionais. Em 1957, Joinville pagava aos adolescentes, metade do salário mínimo legal. O Sindicato dos Comerciários me consultou a respeito. E lhe respondi que não havia salário de menor, mas de aprendiz. E isto, se fizesse curso nos Senai/ Senac. Diante do problema, que obrigaria os empregadores a pagar o salário mínimo legal e a desempregar adultos, fui a Florianópolis contatar com os administradores do Senac Catarinense. Senai já havia aqui. E diante das minhas razões, que incluíam a educação profissional de jovens, vieram a nossa Cidade para conhecê-la e adquirir um imóvel à escola, que, imediatamente, iniciou os cursos de alfabetização, de boas maneiras, datilografia, máquina de calcular; enfim, de tudo quanto fosse necessário a balconista. E vieram os cursos para salões de beleza; culinária para restaurantes, hotéis, lanchonetes; auxiliar de escritório; e, finalmente, para estudantes universitários. Já foi criada e está recrutando os melhores mestres: a Universidade Senac. Tinha de delatar este segredo sem digitais a justificar a Honraria que hoje recebi. Mas não contenho a minha língua em revelar um sigilo maçônico, que jurei guardar, que é o sonho de termos um Museu da Maçonaria Joinvilense pelo qual me empenho há mais de 20 anos. A Maçonaria Joinvilense tem uma história diferente de qualquer outra conhecida e deveria ser exposta num local próprio justo e perfeito, antes que desapareçam todas  as provas materiais de sua jornada.  Minha paixão por esta cidade e município, não obstante alguns percalços, desprezíveis e desprezados, tiveram início e foi crescendo desde o Centenário em 1951, a que frequentei fascinado, adotando-a como minha, mesmo sem um amigo ou parente e com, apenas, cinco mil e quinhentos cruzeiros no bolso, dando-me forças e incentivo para chegar até esta noite memorável. Há 60 anos escrevo para a Notícia uma coluna às 4as. Feiras. Escrevi mais duas: uma de Jurisprudência e outra de resenhas literárias, sempre com foco na nossa cidade. Não me privo de lhes contar alguns episódios desta face jornalística. Em plena ditadura militar, resenhei a peça de Eugène Ionesco, famoso teatrólogo romeno,  RINOCERONTES . Fui chamado ao quartel do nosso batalhão para explicar a um oficial S2 (Inteligência) o que era aquela peça. É uma sátira às ditaduras, mas escrita contra a ditadura Stalinista; não contra a “nossa”. Fui solto e levado de carro ao Escritório; de outra feita, o redator-chefe saudoso Tio Juca Ramos, me avisou que não poderia mais escrever com o meu nome próprio. Inventei o pseudônimo famoso Charles d’Ólengèr (Charlot).  Que me deu de presente uma ponte sobre o único rio municipal da Terra: nasce e morre dentro de Joinville. Usei-o, com o codinome Charlot até finar-se a ditadura. Que combati. Inclusive, recorda a Querida Amiga, Fraternal Sobrinha, Professora e Historiadora, Acadêmica da AJL, Rachel de Santiago. ELA lembra ter visto as minhas digitais na criação da Univille. Fui Secretário da Comissão Organizadora Dela com apoio à Univille, não só desde os primeiros estudos, como, ainda, fazendo palestras e dando aulas gratuitas sobre História de Santa Catarina (Contestado e Fechamento do Canal do Linguado em 1935) e, como representante do corpo discente, matriculado no Curso de Economia para organizar a luta contra a ditadura, usando da palavra nas assembleias. E pregando a necessidade da Constituinte e da Carta Constitucional. Sem problemas! Represento Joinville na Academia Catarinese Maçônica de Letras, Cadeira 14, tendo como Patrono Dr. Ottokar Doerffell, cuja biografia li na sessão de posse, surpreendendo os Nobres Confrades. Noutras sessões preenchi meu tempo com a História da Maçonaria Joinvilense, que ajudei a pesquisar com o saudoso Irmão Dr. Cyro Elhke, por ser totalmente diversa da de qualquer outra em qualquer outro Oriente Brasileiro; e, igualmente, por Ela haver contribuído para as duas vertente culturais da Colônia Dona Francisca: a empresarial e a intelectual.   Insatisfeito, além de criar o ativo Grupo Cordão, com finalidade mais política do que intelectual, (estávamos ainda em plena ditadura com o malsinado A I 5!) Publiquei páginas literárias e culturais com João Carlos Vieira, Alcides Buss, de quem prefaciei o 1º. livro de poemas; Renato Ramos Campos. Não sei, se por todo este pouquinho, houve razão à   inesperada, talvez, merecida recompensa. Vou encerrar, agradecendo paternalmente à nossa charmosa filha Caro pela bela foto que ilustrou o caprichado convite. E, como advogado fundador do nosso Escritório à insuperável Equipe sempre presente e solidária às minhas agitações culturais, com a qual compartilho a Honraria, inclusive nesta noite extraordinária, comparecendo e, aqui, realizando, o nosso sagrado ágape cultural de todas sextas feiras, extensivo aos generosos presentes.   E, vos peço, encarecidamente, se foi merecida a comenda, imitai-me! Por favor! Joinville merece! A todos aqui entrego o meu muito obrigado.  Viva Joinville !!!

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