Melhor idade não é brinquedo (Adauto)

MELHOR IDADE NÃO É BRINQUEDO

Carlos Adauto Vieira/ Cadeira 30 da AJL

Olho o pacote de queijo – Delícia Italiana – e rasgo o plástico. Tiro o plástico que cobre cada fatia e como duas. Péssimo gosto! Não era queijo; massa para pastel! Sinto fome e vasculho a cozinha. Encontro um daqueles tabletes de cereais, envolto em plástico. Tiro-o do envoltório. Como 2. Horríveis de gosto. Pudera! Era comida para cachorro. Peço o tubo de pasta Colgate, usado por dez entre nove estrelas de cinema. Tiro a tampa e tento com ela furar o alumínio, que a prende. Já não existe mais furador. Vem de tubo aberto. E bem aberto… Olho-me no espelho e acho a barba cerrada. Tomo o tubo de creme Nívea e encho o pincel com ele. Um perfume estranho. Era pasta dental.  Mau hálito? Encho a escova para espantá-lo. Era creme de barbear. Arde. Tênis novo. Começo a enfiar o cadarço. Fica um pé com o marrom e o outro com o branco. Calço o sapato social para ir à solenidade. Calçado, olho-me no espelho grande, já de terno preto. Um pé marrom, outro azul. Coloco cautelosamente a lauda de A-4 com o meu cabeçalho de advogado. A petição em 4 laudas. De cabeça para baixo.  De trás para diante. Usando máquina de escrever, há pouco tempo, cansei de colocar o papel carbono de trás para frente. Sentei-me no bacio. Sem levantar as tampas de plástico. Urino mirando o bacio e encharco a bainha das calças. Empasto cabelo de brilhantina; era sabonete Granado líquido. Fica todo de pé que nem uma tiguera. Sol brilhante enfrento-o com óculos de ler. O para solar, esqueci em cima da mesa. Tomo-o para ler a Folha. E grito: estou cego. Marcia me salva com o outro. Nem preciso mais consultar o Dr. Irigaray. Famoso oftalmo. Usaria o cartão Angeloni.  O do Bradesco deixei vencer. Acho que vou pagar de novo as taxas. Em cruzeiro ou réis? Ainda guardo algumas notas de 50 cruzeiros com a Princesa Isabel. Por economia! Fui abrir o sachet de mostarda para uma bockwurst e me atrapalhei com aquela costura e cola. Lambuzei-me todo. Ganhei lenços de papel. Não pude abrir… O ranho desceu… O nosso condomínio adotou, por segurança fechaduras eletrônicas que abrem à passagem do censor manual. Estamos no Condomínio, mas residindo em Ubatuba – S. Fco. Do Sul. Mas, tendo de fazer mudança de um apartamento no. 401 para o 202, recebemos o sensor. Nenhuma explicação me deram a respeito, confiando por certo na minha inteligência alberteisnteiniana. Sai para colocar carta na agência de correio mais próxima, aproveitando o gostoso sol das 3,5 h, á volta experimentei o censor para o portão. Acertei na 1ª. Inteligência é isto, invejosos da minha melhor idade; mas e a porta da frente para o corredor e o elevador? Experimentei o sensor 12 vezes, contadas. Nada! Desesperei-me e, ao invés de empurrar a porta de vidro para dentro, puxei-a para fora. Estava aberta…. Vão gosar a melhor idade na casa da Marlene, bobinhos…

 

 

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