Nossos filhos são mais inteligentes que nós?

Quando vejo a habilidade de meus netos ao digitar no celular ou ao brincar em um novo aplicativo no tablet, fico cheio de admiração e, ao mesmo tempo, com inveja. Fico ainda mais encabulado quando preciso do auxílio de um filho para fazer funcionar algum aparelhinho que acabei de comprar. Naquele momento em que minha alegria ao receber a geringonça vai se transformando em raiva, são eles que me salvam com seus toques no teclado. Parecem ratinhos farejando o queijo, estão em sua natureza. Quando penso que se perderam naqueles movimentos aparentemente aleatórios, surge a solução, pronta, perfeita. Percebo que eu jamais conseguiria.

Esta geração é mais inteligente que a minha? As informações disponíveis hoje na internet, as facilidades proporcionadas pelo Google, Wikipédia ou YouTube criaram um nível superior de inteligência em seus usuários precoces? O uso quase contínuo das redes sociais levaria à agilidade mental? Quando eu jogava bola na rua ou trepava em um pé de jabuticaba estava perdendo tempo?

Não vamos a tanto. Quando minha geração precisava de uma informação, procurava um dicionário ou um livro na biblioteca. Se eu precisasse saber algo, digamos, sobre a França, a enciclopédia me mostrava duas ou três páginas recheadas de informações sobre a geografia, história, economia, cultura etc. Ao acabar a leitura eu tinha uma boa noção da bandeira e do hino, das cidades e dos rios, da Tomada da Bastilha, das guerras e da arte, de Napoleão a De Gaulle.

A geração nova funciona com o hipertexto (as palavras com cor diferente, que, ao serem clicadas, levam a outro assunto). Os nerds começam a ler sobre a França e deparam com “País da Europa cuja capital é Paris”. Clicam em Paris, olham aquelas fotos lindas e se interessam logo pelo Louvre. Já na página desse, se deparam com a Monalisa e logo estão lendo sobre Leonardo da Vinci.

Ambos fomos municiados com muita informação. Claro que, com minha leitura na enciclopédia, eu era capaz de fazer um trabalho escolar mais abrangente sobre a França, mas a nova geração também conseguiu aprender muito em sua aventura de tentativa e erro (se não for adepto do copiar e colar). Qual a diferença?

Uma das diferenças é que, antes da internet tínhamos um conhecimento mais vertical, em profundidade. Sabíamos mais sobre um determinado tema. Atualmente o conhecimento é horizontal, mais fragmentado, mas, nem por isso, de menor abrangência ou valor. Nós sabíamos mais sobre menos. Eles sabem menos sobre mais.

Qual o resultado final? Quem vai ser mais inteligente?

Acho que os velhos têm chances. Não é pelo saudosismo que eu digo isso, nem por aquela noção de que antes tudo era melhor. Não, hoje é melhor! Quando quero saber algo sobre a França, vou hoje ao Google (e depois passo um espanador na minha Britannica). Entretanto, eu aposto no estilo de aprendizado dos velhos e isto por uma noção simples da Neurociência.

Uma boa memória é parte integrante dessa capacidade chamada inteligência. O método antigo possibilita memorizar mais. Quando o meu neto estiver lendo sobre a Monalisa, eu terei repassado várias vezes o conceito de França, sob diversos aspectos. Apreendo mais.

Por outro lado, a rapidez de raciocínio também é um componente importante da inteligência e essa é muito mais exercitada pela geração digital.

Não sabemos ainda quem vai ganhar. Sou obrigado a temer que eles tenham boa perspectiva, já que podem utilizar as ferramentas de hoje e o método de leitura que quiserem, inclusive o de ontem. E a quantidade de informação disponível é incomparável.

Para confessar, eu até torço por eles!

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