O ansioso sofre!

Coitado do ansioso, ele sofre demais. Antes de tudo, é um preocupado. Basta que ele conceba uma situação sobre a qual não tenha todo o controle e já começa o frio na barriga. Talvez se trate de alguma coisa que só vá ocorrer no futuro. Pode ser até algo imaginário. Para ele é igual, é tudo urgente. Sem tolerar o menor grau de incerteza, ele sofre.

Como ele gostaria de viver em um mundo organizado. Como seria bom se as pessoas fossem previsíveis! Só que não são. E o pobre fica ali, tentando botar ordem no caos. Especula, se acautela, revê detalhes, tenta controlar tudo. Vivendo nas possibilidades do amanhã, ele se perde em turbilhões de pensamentos, procurando criar suas certezas. Mas acontece que o mundo é incerto! Não seria melhor se, em vez de procurar mais e mais segurança, ele desenvolvesse mais tolerância às incertezas?

Vamos ponderar essa história. Um pouquinho de ansiedade até que não faz mal, pode ser até necessário. Isso, aliás, acontece com qualquer emoção. A ansiedade e sua parente, o medo, estão aí para nos ajudar em nossa sobrevivência.  Quando ela aparece, mostra um sinal de alerta: “Você está sob ameaça!” O ser ajuizado deve acender a luz amarela bem rápido e se preparar, ou bem para lutar ou bem para fugir.

Como qualquer característica biológica, essa reação surgiu em algum momento na evolução das espécies, em algum ancestral nosso. Se ainda existe é porque mostrou sua utilidade. Na pré-história o medo e a ansiedade devem ter sido mesmo essenciais. Se um tigre dente de sabre rosnava ali por perto, o melhor deve ter sido ficar ansioso mesmo. O segundinho que o nosso bisavô ganhava para iniciar a correria pela savana pode ter sido decisivo para que estejamos aqui agora.

Hoje não precisamos tanto. Qual a finalidade de ter a mesma reação do nosso bisavô só porque vamos falar em público, ter uma prova na escola ou uma entrevista de emprego?  Não faz sentido.

Mas o cara ansioso não quer saber disso. Quando imagina que está sendo julgado, ou mesmo só observado, a ansiedade vem. E é tão forte como na presença de um tigre. O coração acelera, as mãos ficam frias, a respiração encurta. E o pobre sofre, aumenta a vigilância, vistoria o ambiente, calcula os riscos. Repete sem parar suas expressões de dúvida: “e se” ou “será que”. “E se” não der certo? “E se” acontecer o pior? “Será que” minha previsão vai funcionar?

Por vezes ele se agita tanto que acaba no médico. Afinal, se o coração acelerou, pode ser algo sério. O médico o examina e tenta tranquilizá-lo. O coração está bem, diz o doutor, o importante agora é mudar alguns hábitos, fazer atividade física, tentar meditação. Eventualmente alguma medicação pode ajudar, talvez até uma terapia.

Mas o fato é que o coração acelerou. “E se” o médico estiver errado?

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