OTTOKAR DOERFFEL

OTTOKAR DOERFFEL

OTTOKAR DOERFFEL (*1818 +1906), advogado, político, jornalista, escritor e Cônsul alemão. Radicado em Joinville desde 1854, fundou o primeiro jornal impresso da cidade (e o segundo jornal impresso em alemão do sul do Brasil): o “Kolonie Zeitung”. Tornou-se o 3º prefeito de Joinville (de 1874 a 1877) e escreveu livros importantes para a história da cidade.

Optei por OTTOKAR DOERFFEL. Não me arrependo. E, sobre justificar, explico a verdadeira paixão assumida por este extraordinário Ir:., também, ao seu feitio, um herói de dois mundos, tal a sua existência de um e de outro lado do Oceano.

Iniciado na “ZUR VERSCHWIST DER MENSCHEIT”, do Or:. de Glauchau, em 24.02.48, seria criador da “FREUNDSCHAFT zum SÜDELICHE KREUZE, ao Or:. da Colônia Dona Francisca, em 29.12.855.

Alemão saxônio, nascido a 24 de NIssan da V:. L:. de 5.818 – um ariano, segundo o nosso zo­díaco, com as características de líder e combatente nato, impulsivo e generoso, fiel a si e aos seus, devotado à inteligência, conquistador facilmente conquistável, não negaria o seu horóscopo.

Aos trinta anos e um revolucionário europeu, aspirando a queda de todas as monarquias com o rol de seus privilégios de origens divinas. Embasado nas generosas idéias da Revolução Francesa e do Socialismo, que se confundiam com aquelas não menos nobres e permanentes da Maçonaria de todos os tempos, jamais mediu o risco do seu posicionamento. Assim, o jovem jurista, com o Mestrado em Serventias Judiciarias, uma espécie de Ministério Público, a época, alcançado aos 24 anos por tese apresentada e defendida na Universidade de Leipzig, realizou rápida carreira, percorrendo os tribunais alemães das suas principais cidades até que, atraído pela política, em reconhecimento ao seu talento e idealismo para a causa pública, se assegurou o burgomestrado da cidade natal: Glauchau.

Fiel e leal aos princípios maçônicos em favor da equidade e contra a iniquidade da exploração do trabalho e manutenção de privilégios por razões divinas, DOERFFEL armou batalhões contra a monarquia.

  Foi vencido !

Para se avaliar OTTOKAR é forçoso saber que, na Alemanha, como em quase toda a Europa, o simples diploma de bacharel em ciência jurídica, não capacita ao desempenho profissional, exigindo, mais, pós-graduação e mestrado. Cito o exemplo. Tenho, lá, na Alemanha, um filho e nosso Ir:. – Carlos Adauto Virmond Vieira – matriculado na Universidade Colônia para o Mestrado em Direito Ambiental e que causou enorme surpresa, quando apresentou trabalhos profissionais em consultoria e advocacia militante nos foros, só com o bacharelato.

DOÉRFFEL era bacharel aos vinte e dois anos. Aos vinte e quatro, Mestre por tese. O que, en­tão, lhe valeu para exercer a Administração de Serventias Judiciárias nos tribunais de Wolken­burg, Kaufungen, Niederfrhna, Wolpnendorf, Rochlitz e Welscselburg – comarca onde encontrou e casou com a sua fabulosa mulher e companheira IDA, com quem cruzou o Oceano, não sem antes te­rem vivido juntos os dias tormentosos do processo político a que foi submetido pela nobreza.

Em 1874, chega ao ápice da sua carreira judiciária: Segundo Serventuário de Glauchau.

Alí nascera, alí militaria profissionalmente, alí seria burgomestre, alí armaria homens, a cuja frente partiu para combater a monarquia européia. Dali partiria ao Novo Mundo, mais preci­samente, para o Colônia Dona Francisca, a convite da Sociedade Hamburguesa, após os tortuosos  tramites do julgamento a que foi submetido e do qual saiu absolvido.

Glauchau seria governada por ele ao tempo em que se faziam sentir os ventos da Era Industrial com a sua revolução econômico-político-social, a que aderiu, firmado nos princípios maçônicos norteadores da Queda da Bastilha, da Legislação Laboral, dos postulados, ainda não univer­salizados de Justiça Social, Igualdade de Direitos Humanos e da Unidade da Pátria Alemã.

Diretamente contra a Monarquia na Europa. Indiretamente, a seu favor no Brasil.

Seriam o destino e as circunstâncias somados para uma tão grande ironia ?

Cultura é a todo o feito humano. E a sua maior expressão é a História, de que o Ser Humano é, sempre, agente ou paciente. Ou, como na hipótese de OTTOKAR, a um só tempo, agente e paciente.

Alimentado pela filosofia maçônica da LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE, refletindo a empo1gação da Grandiosa Revolução Francesa de 89 e pela convicção de que é possível alcançar-se a Justiça Social pelo auto e  humano aperfeiçoamento, não só pregando pela palavra, mas ensinando pelo exemplo, engajou-se na obra de unificação da Alemanha, retalhada pelos principados, ducados, baronatos e condados, cujos detentores exploravam, cruelmente, os seus concidadãos, expondo-os às epidemias e às migrações decorrentes da miséria material e moral a que eram submetidos há séculos em nome de uma razão divina.

Derrotado, viu os vencedores do momento lhe trazerem a sua justiça, uma justiça política, cujo processo se iniciou pela destituição do cargo de burgomestre de Glauchau, prosseguindo pela aura do indiciado por crime de alta traição, cujo processo durou três longos e penosos anos, durante os quais foi condenado à morte, à prisão perpétua e, como opção pela sobrevivência, ao exílio.

De herói sonhado, transformaram-no em criminoso, assumido por alta traição, os vencedores de acordo com a sua ótica.

 

Só quem já a enfrentou — a justiça política — e graças ao Gr:. Arq:. sou um deles, um destes sobreviventes e sem muitas seqüelas, é que lhe avalia a dimensão cruel e capciosa.

Nela, tudo é contra o acusado. Principalmente, a sua inocência, a sua convicção, o seu idealismo.  E tudo o compromete ou se compromete. Cada palavra, cada gesto, cada escrito,   parente, cada amigo, cada companheiro, cada conhecido. Tudo é subsídio legítimo contra a sua absolvição.

Ao lhe traçar biografia, vivida em tempos sem os direitos humanos codificados universalmente, imagino o grau de padecimento a que deve ter sido sujeito com a sua família e os seus liderados, enfrentando a ira dos privilégios com nítidos propósitos exemplares, ameaçados pela sua generosidade consciente de homem livre e de bons costumes.

Infelizmente, há pouco registro sobre este negro período biográfico do Ir:. OTTOKAR. Pelo menos conhecido. No geral, os homens envolvidos em tais processos desgostam recordar-lhes os lances e os passos. Outros, não tiveram sobrevida para os relatar. Porém, relatos existem, a começar pelo do Novo Testamento sobre a traição, prisão, tortura, condenação e morte do Cristo, passando pelo de Dostoyevsky na Casa dos Mortos;  Graciliano, nas Memórias do Cárcere; Kafka, em Processo; Kundera, em a Insustentável Leveza; Semprun, em A Confissão; Gino Levi, em seus dois  testemunhos sobre os campos de concentração e extermínio nazistas.

Provavelmente, com a proverbial e fraternal intervenção da Maç:. Alemã, DOERFFEL teria obtido uma absolvição condicionada a sua vinda para a América, do Norte ou do Sul. Do Norte ou do Sul, pois não foram poucos os imigrantes ludibriados, maldosamente, dirigidos a uma São Francisco, que não era a da Califórnia, se não a do Sul.

Temperado, rijo, com animo dos fortes, nos duros anos do processo, de 49 a 54. OTTOKAR se manteve como advogado, jurista reconhecido e acatado, militando no foro de Glauchau, já que era proibido de ocupar cargos públicos. Devem ter sido os tempos em que refletiu sobre a possibilidade de reiniciar a sua vida em novas terra., numa outra nação, onde pudesse, livremente exercitar as suas convicções, contribuindo para a sua civilização democrática.

Contratado pela Companhia Hamburguesa, ironicamente, viria trabalhar pelos privilégios dos príncipes.

Aqui, começa urna nova fase da sua história pessoal, que se vai amalgamar com a de Joinville, de Santa Catarina e do próprio Brasil, dado o seu feitio, de certa forma mais abrandado, inobstante, por sua essência, caudatário daquele da Europa.

O mesmo agitador cultural na economia, na política, na justiça, impondo a sua personalidade e a forca das suas convicções a nova sociedade no seu processo civilizatório, cuja responsabi­lidade maior pertence, sem titubeio, a Filosofia Maçônica.

Presidente de todos os seus atos, desde 1851 até hoje, Joinville, como reconhecimento, deveria exibir em seu brasão, entre outros símbolos, o Compasso e o Esquadro, instrumento de traba­lho intelectual e braçal, utilizados na medida da sua justiça social e na retidão do seu progresso oral e material.

Provavelmente, reconhecendo a grandeza do Aug:. Ord:., pessoal e socialmente, na sua absolvi­ção e na construção da nova pátria, uniu-se aos colonizadores, que fundaram a “ Zur Deutsche Freudschaft”, Gaspar, Reiss, Fellechner, Poschaan, Wundevald, Buchmann, Ravache, Pabst e Klatt para ampliar sob o título distintivo de “ DEUTSCHE FREUNDSCHAFT zum SÜDELICHE KRUESE”, a “AMIZADE AO CRUZEIRO DO SUL”, adotado, segundo a lenda e o tradição oral, porque reunidos em uma cabana de palmitos, por entre as palmas da cobertura, os OObr:. viam as estrelas da Cruzeiro símbolo da Pátria Brasileira de sua adoção.

.

 

 

Dois foram os sonhos concretos de OTTOKAR: seu jornal “ KOLONIE ZEITUNG” e a sua Loja “Deutsche Freundschaft zum Südliche Kreuz”, que  irradiaram atividades culturais, espirituais, administrativas e filantrópicas pelo Norte Catarinense. Ambos foram quase centenários: O jornal fechado em 1942; a Loja abateu Ccol:. em 1937.

Neles OTTOKAR deixou os fósseis da sua passagem, assim como nas milhares de cartas, escri­tas a parentes, amigos, IIr:. e administradores, dando e pedindo conselhos, idéias, sugestões.

E, sobretudo, incentivo.

Nos arquivos da L:. queimados por precaução e incúria – poderiam ter sido escondidos como tantos outros papéis comprometedores  (??!!!) — se perderam os registros das suas Ppeç:. de Arq:. das suas intervenções, lavradas com o fulgor da sua inteligência e da sua soberba cultura humanística e, conseqüentemente, maçônica, que o tornaram, sem ressalva, acatado como uma das mais firmes colunas da Arte Real, norteadora da economia, da política e da justiça social na Dona Francisca. Em outros arquivos, extraviados, perdidos, queimados, igualmente, as conferências palestras, discursos de ocasião, feitos em entidades culturais, desportivas, religiosas e filantrópicas. Por outro turno, as suas manifestações como conselheiro municipal – vereador – e prefeito. Felizmente, o seu jornal foi cuidadosamente colecionado e hoje, existe no Arquivo Histórico de Joinvil1e, podendo-se, nele, sentir a grandeza do nosso homenageado e compreender porque os seus concidadãos o elegeram “Fundador da Imprensa Joinvillense”.

A fidelidade à lição de que a Maç:. e aos Mmaç:. cabe a responsabilidade de liderança secreta da sociedade em que vivem, o fez acatado e reconhecido como um guia seguro aos coloniza­dores e um modelo de estadista moderno, despreocupado com as opiniões passageiras, mas firmemente arraigado aos princípios defendidos, tendo em vista o seu compromisso com o futuro.

Razão porque as suas duas obras maiores — A L:. e o Jornal — tiveram vida após a sua, tão aprofundadas e fortes eram as suas raízes.

Processos políticos, como se verificou em muitas partes, fru­tos da exacerbação autoritária, tanto na sua pátria natal, como na adotiva, levado aos tribunais desta moderna inquisição, mas respondendo, em sua defesa, aos juizes algozes com a lição do seu compatriota, Ir:. e poeta maior, GOETHE, sempre ensinada, mas, ainda, não total e definitivamente aprendida.:

EDEL SEIN DER MENSCH, HILFREICH und GUT !

Que, maçônicamente, poderíamos traduzir por:

SEJA O HOMEM EM PRESTATIVO, LIVRE E DE BONS COSTUMES !

Lição que aprendeu, praticou e nos deixou como seu maior legado.

Fonte da imagem: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1d/Ottokar_Doerffel.jpg

COMPARTILHE: