📓Recepção de Bernadéte (Milton)

BEM-VINDA, BERNADÉTE                                       (Milton Maciel)

“Ó, bendito o que semeia

Livros, livros à mancheia

E manda o povo pensar…”

 

Que susto, hein! Na certa pensaram: “É agora que ele declama O Livro e a América, Espumas Flutuantes e o Navio Negreiro e a gente só sai daqui à meia-noite!

Não. Calma. São apenas 3 versos, só um impulso, mas é  para que eu possa lhes fazer uma pergunta:

 

“Ó, bendito o que semeia

Livros, livros à mancheia

E manda o povo pensar…”

 

Mas, quem de fato semeia

Isso por que o povo anseia,

Quem é o multiplicador?

Quem é esse semeador?

 

Não é, por certo o escritor,

Um solitário eremita,

Cuja labuta é restrita,

Como árvore de um só fruto,

A gerar UM só produto,

Que se chama manuscrito,

Cujo destino é adstrito

Ao fundo de uma gaveta.

Ou à memória obsoleta

De um velho computador.

 

A menos que, porventura,

Seu fruto-literatura

Encontre pelo caminho

A ave que voou do ninho,

Para ser seu salvador:

Sim, ele, o multiplicador,

Ele o grande semeador,

A ave da imprensa: O EDI TOR !

Qual Bernadéte, a EDITORA.

Quem semeia livros à mancheia não é, certamente, o escritor, essa mão solitária e única, por cujos dedos a mente plasma em matéria o que na abstração ela cria. Esse eremita labuta em converter ideias em caracteres e caracteres em manuscritos. Mas manuscritos, por vocação, estão destinados ao repouso eterno no fundo das gavetas ou dos megabytes indiferentes.

Morrem, simplesmente, se não forem bafejados pelo sopro vivificador daquele que leva o milagre do  livro da mente criadora até à mente leitora: o EDITOR!

No tosco estaleiro de Mogúncia, o velho obreiro foi inventor, tipógrafo, impressor, mas, acima de tudo, foi o primeiro editor do livro moderno. E é para esse papel de Gutemberg que o vate maior verseja em “O livro e a América”

Porque é o editor aquele que, de fato, semeia livros, livros à mão cheia.

É esse intrépido aventureiro quem se arrisca em tomar a seu cuidado o germe que o escritor produziu e que o editor multiplica em centenas, milhares, quiçá milhões de unidades ao longo de toda uma vida de investimentos e trabalho. É ele quem leva o germe do escritor, agora multiplicado, a fazer a palma, a fazer o mar, nas mentes de gerações e mais gerações de leitores.

Comecei esta apresentação com a  música sutil e inefável “A LUZ DO ESPÍRITO”, do gênio Kitaro Nagano. E, com ela, homenageio aqui o gênio plasmador dos escritores, homenageio a luz dos seus espíritos criadores. Escritores e escritoras como os membros desta Academia, tais quais estas duas novas autoras que hoje temos o privilégio de receber nesta casa.

Mas coube a mim um privilégio a mais, que foi o de recepcionar BERNADETE SCHATZ COSTA. E, ao fazê-lo, quero homenagear mais do que a luz do espírito da escritora e poeta, quero saudar a coragem da EDITORA Bernadete Costa, da empreendedora que teve a audácia de, com sua Manuscritos, tirar do fundo das gavetas ou do profundo dos gigabytes os manuscritos de incontáveis escritores, convertendo-os em realidades físicas, em milagres-livro e, ao longo de mais de 10 anos, semeá-los à mão cheia, semeá-los aos milhares e mais milhares!…

Editores são apostadores. Investem seu tempo e seu dinheiro, seu trabalho e seu sonho, num manuscrito que pode ser um best seller… ou só mais um encalhe.

Editores vivem mais que a literatura do escritor, vivem a LITERALUTA do Concreto e do Mercado . Transformam ideias dos autores em produtos e, depois, veem-se  obrigados a vendê-los de sol a sol.

Por tudo isso, homenageio a editora Benadete Schatz Costa com uma música de Carlos Gardel, que celebra exatamente uma aposta, e, muito embora a letra do brasileiro naturalizado argentino Alfredo  Le Pera diga claramente “Vos sabes, no hay que jugar!”,os editores teimam e jogam, teimam e apostam, às vezes ganham, mas muitas vezes perdem “POR UNA CABEZA”… Ou por muito mais.

E, com essa música, estendo a homenagem aos demais editores profissionais desta academia, também eles grandes semeadores de livros à mão cheia: Joel Gehlen, Jura Arruda, Alcides Buss, David Gonçalves e até mesmo este gaúcho da fronteira, que, de sua parte, os semeia desde 1992, em São Paulo. E que, por isso mesmo, sabe a dor e a delícia de ser editor.

Aproveito o ensejo para homenagear também nosso secretário Municipal de Cultura, Guilherme Gassenferth, também ele um grande semeador de livros, não só agora, como em gestões anteriores, quando esteve à frente do SIMDEC, cujas verbas generosas têm semeado livros, livros à mão cheia, durante tantos anos.

Por lo tanto… Mil saludos, Bernadete Costa! Editora, escritora, poeta, professora, que foi alma da gestão do Bolshoi por tantos anos e grande gestora da Associação das Letras; e cujos demais atributos já foram tão bem referidos por nossa mestre de cerimônias, desnecessário repeti-los.

E, como se tudo isso ainda fosse pouco, encerro dizendo que Bernadéte é uma dessas escritoras capazes de fazer algo que eu tanto admiro, porque nunca fui e nem serei capaz de fazê-lo jamais: escrever para crianças. E, com isso, fazer-se por elas entender e amar.

Entre, Bernadéte, a Casa é sua!

 

Músicas apresentadas ao sintetizador KORG X5 e o piano:

Por una Cabeza

Tango

Carlos Gardel (música) e Alfredo Le Pera (letra)

 

Por una cabeza, de un noble potrillo
Que justo en la raya, afloja al llegar
Y que al regresar, parece decir
No olvides, hermano
Vos sabes, no hay que jugar

THE LIGHT OF THE SPIRIT

New age music

 

Kitaro (nascido Massanori Takahashi, em 1953 – em Toyohashi, Japão)

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