Salustiano de Souza – Discurso de posse
Excelentíssimo Sr. Dr. Carlos Adauto Vieira, Digno Presidente da Academia Joinvilense de Letras, o qual, cumprimentando, cumprimento todos as demais autoridades que prestigiam este evento. Senhoras e Senhores:
Há cerca de 20 anos, quando comecei minha carreira na advocacia, fui contratado por um cliente e fomos à audiência. Eu estava confiante que o meu cliente tinha todo o direito, não tinha como perder aquela ação.
Mas o juiz não entendeu assim. E meu cliente perdeu a ação. Eu fiquei desconsolado. Mal terminou a audiência eu saí, de cabeça baixa, praticamente sem cumprimentar ninguém, muito desanimado. Estava indo pelo corredor quando o advogado rival bateu nas minhas costas e me estendeu a mão, e disse:
– Não fique assim doutor, na advocacia, tudo passa, o que fica é a amizade. Isso não podemos perder.
Apertei a mão dele e foi ali que aprendi mais uma lição, de que a amizade é algo a ser sempre cultivado. Falo isso, porque hoje estou tomando posse nessa casa que é conhecida como casa de amigos. E quem me ensinou isso hoje é o presidente dessa casa, meu amigo Dr. Adauto.
Eu me sinto honrado por isso e honro cada um de vocês que pertencem aos quadros dessa Academia. Espero estar a altura de meu antecessor, de quem assumo a cadeira como 1º sucessor, o acadêmico Arnaldo S Thiago.
E cabe aqui, por ser de praxe, fazer uma rápida digressão sobre a vida desse ilustre catarinense. O Acadêmico Arnaldo S.Thiago, foi o único membro da Academia Joinvilense de Letras a ser indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, em 1971 (ano em que o vencedor foi o poeta chileno Pablo Neruda).
Foi um dos fundadores da Academia Catarinense de Letras e, passados os anos, tornou-se co-fundador de uma segunda Academia, a Joinvilense, na época as duas únicas Academias de Santa Catarina. Pertenceu, ainda, a várias outras associações culturais brasileiras e estrangeiras, como a Academia Gl’Immortali d’Italia, de Messina.
Segundo consta, por 3 vezes candidatou-se à Academia Brasileira de Letras, sem êxito. Autor de mais de 50 obras e traduções, merecem destaque “Dante Alighieri – O Último Iniciado” (pela qual foi indicado ao Nobel de Literatura), “Escrínios d’Alma” (publicada em 1914), “História da Literatura Catarinense”, “Paisagens Meridionais”, “O Conflito dos Séculos”, dentre outras. Faleceu em 1979, aos 93 anos incompletos.
Também fui incumbido de outra missão de envergadura: Escolher o nome do Patrono dessa cadeira e dentre os ilustres que compunham a lista tive a honra de escolher o catarinense ALFREDO NÓBREGA DE OLIVEIRA (*1863 +1946), empresário e político francisquense, radicado e falecido em Joinville, tendo deixado vasta produção no campo da poesia, inclusive em livro. Algumas de suas poesias foram transcritas na obra do Acadêmico Arnaldo S. Thiago, “História da Literatura Catarinense”, publicada em 1957. Da mesma forma, poesias suas foram publicadas na Revista “Vida Nova”, dirigida pelo também Acadêmico Waldemar Luz.
Vejo, portanto, a enorme responsabilidade que me está sendo confiada, de bem representar esses ilustres escritores, tanto o Arnaldo S Thiago, do qual sou sucessor, quanto o Alfredo Nóbrega de Oliveira, Patrono da cadeira que ocuparei. Espero poder estar à altura e fazer por merecer esse assento entre os nobres colegas.
Gostaria de finalizar, dizendo que escrever é a arte de tirar os sentimentos de dentro do peito e fazê-los aflorar. É rasgar nossa alma e deixar a chama que nos habita irradiar-se na direção do outro. É acender a vela que há em nós. Como disse Buda, “muito antes da vela se acender, a luz da vela já brilhava”.
Muito obrigado.