Socorro, precisamos ler (Cristina)

Socorro, precisamos ler 

                            Maria Cristina Dias

 

Quando estava na faculdade de Comunicação Social, lá pelos anos de 1990, tive um professor que dizia que precisávamos ouvir as conversas dos outros – sim, ele falava isso, no bom sentido, claro. No ônibus, nas ruas, nas filas, nos locais públicos, ligar as antenas e prestar atenção ao que as pessoas estão comentando e na linguagem utilizada por elas. Ao longo da vida profissional, esse exercício contribuiu muito para trazer pautas que despertassem a atenção do leitor, pois elas iam ao encontro de seus anseios

Ao mesmo tempo, contribuiu para manter uma linguagem que todos entendessem e tivessem prazer de ler. Afinal, para que serve escrever algo, se você não consegue prender o leitor até o final do texto – e até deixar aquele gostinho de “quero mais”?

Jornalista, digamos assim, madura, também mantenho o bom e velho hábito de ouvir rádio. Entro no carro e ele já liga sozinho, como se estivesse me esperando. Vou buscando as entrevistas para ver sobre o que se está falando no momento, descobrir pessoas com ideias novas – ou novas formas de enxergar e expressar as velhas ideias.

Como já disse, um exercício. Um gostoso exercício. Essas práticas, porém, me mostram de forma alarmante o quanto ainda precisamos aprimorar o domínio da própria língua.

Outro dia, duvidei de mim mesma quando ouvi uma pessoa se classificar em alto e bom som como “monoteísta” porque só conseguia se dedicar a uma coisa, um assunto de cada vez. Epa, o que é isso? A palavra bateu, voltou, quicou e eu levei alguns segundos para entender o que ela realmente queria dizer. A personagem, uma formadora de opinião que havia sido convidada para falar sobre o perfil do profissional de hoje, multifacetado e que faz mil coisas ao mesmo tempo, usou um termo que não dominava para descrever o que queria e escorregou. Na ânsia de se explicar e de “falar bonito” ela lançou mão de um termo que não conhecia bem e achou que ele servia naquele contexto. Ledo engano.

Gente, está sobrando opinião e faltando leitura.

Todos nós escorregamos no Português e falamos batatadas no dia a dia. Pior ainda é quando as escrevemos. Aí, é vergonha eterna. Como jornalista, sei bem o que significa escrever uma bobagem e vê-la publicada. Dói na alma!

A questão é o que fazer para evitar isso. Pode ser que nesse mundo dinâmico, cheio de tecnologia e novidades, já tenham encontrado um meio de resolver esse problema. Eu, por enquanto, só conheço um: a leitura. E de bons livros. Não vale ler só os textos rápidos postados na Internet e achar que isso é leitura de qualidade, que vai contribuir para o seu aprimoramento. Não é!

Ler, ler, ler é fundamental para quem quer falar e escrever direito. Acho que essa é a única forma de ampliar o vocabulário e aplicá-lo corretamente, de acordo com o contexto. Com a leitura, esse conhecimento é absorvido de forma natural, sem que a pessoa se dê conta. Ela fala e escreve corretamente pois aquela informação faz parte dela, simplesmente.

O leitor emprega as palavras corretamente sem pensar muito nisso. Elas fluem na fala e no texto. Talvez se for questionado sobre o significado literal de cada expressão, tenha que parar para pensar e formular um conceito, uma explicação. E, com certeza, não vai saber identificar onde aprendeu a usar as palavras, de onde saiu aquele termo específico para definir algo. Mas posso te garantir que ele aprendeu lendo.

 

 

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