Convergência de rotas

A imagem da tela se distanciou para um plano global. Agora visualiza-se o mapa mundi por inteiro, revelando a rota, em vermelho, da então esposa. Certamente era a época em que concluiu a faculdade e postou-se a viajar pelo mundo. Sim, era, estava ali: Austrália, Nova Zelândia, Japão, Canadá, Estados Unidos e depois Europa. Ela deveria ter entre vinte e dois e vinte e quatro anos. Pouco antes de nos conhecermos.

– É você, amor! Veja você aqui, ficou no Brasil enquanto eu passeava pelo mundo…

Sua volta era revelada pela aproximação da tela ao país, focando em nossa cidade e, com o passar do tempo que se revelava no canto superior direito do programa, minha rota, em azul, pouco saíra da cidade.

– Muito bacana esse programa. Eu sempre achei que minha alma gêmea estaria pelo mundo, mas visualizar por onde andou, em todas as fases da vida, é fenomenal.

– E olha como nos aproximamos.

Por quantas e quantas vezes passamos um pelo outro, sem sequer se dar conta que um dia nos conheceríamos, nos apaixonaríamos e nos casássemos. Surreal, utópico, mas possível agora com os adventos da tecnologia.

Contei pelo menos uma dezena de vezes em que estávamos tão perto, como dentro de uma loja, por exemplo, sem sequer olhar um para o outro, se dar conta que existia, reparar… absolutamente não há como desconfiar de nada. A vida é a eterna caixa sem fundo de surpresas sem fim, que nos proporciona momentos. Contando-se em momentos, a vida fica mais significativa. Em tempo, perde o sentido para o cronômetro.

– E agora o momento que eu mais gosto, amor: quando você me conheceu.

– Veja por quantas datas importantes hoje para nós passamos, sem que um dia soubéssemos que seriam datas marcantes em nossas vidas: nosso aniversário de namoro, nosso casamento, a data de nascimento de nossos filhos…

Então aparece na tela os pontos azul e vermelho conectando-se ao encontrar a mesma rota e, a partir de então, algumas outras viagens que ela me ensinara a fazer. Não há como avançar-se, saber as rotas futuras das linhas azul e vermelha. Mas não convém: o futuro incerto o é também para que não saibamos se as rotas se convergem ou divergem. Melhor assim.

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