📖 Walter Guerreiro – Recepção por Rodrigo Bornholdt

DISCURSO DE RECEPÇÃO A WALTER GUERREIRO NA AJL

Rodrigo Bornholdt

Conheci Walter em 2005, quando ambos dedicávamo-nos a funções públicas: ele era diretor do Museu Fritz Alt.

Ali pude apreciar muitas de suas qualidades, tanto de administrador, como de intelectual. Walter esmerava-se na preservação e restauração do acervo do escultor e lidava com as vicissitudes de um pequeno museu, casa-ateliê do artista, com vista privilegiada de Joinville e que requer, como tudo aquilo que perece, cuidados cotidianos.

Walter amplificou a obra do escultor, refletindo sobre sua criação e seu significado para a cidade e para o sul do país.  Daí surgiu obra delicada e cuidadosa, com título e parte da abordagem vazada em termos psicanalíticos: “Fritz Alt – A vontade do desejo.”

Os interesses de Walter são variados. Estudou a vida de duas formas: primeiro pela biologia, e depois pela história. Não contente, foi a Londres fazer mestrado em história da arte. Essa manifestação existencial em que a vida humana, como diz o novo acadêmico, deixa seus rastros. Filho da terra da garoa, do cruzamento da Ipiranga com a Avenida São João, Walter trouxe para cá, há algumas décadas, seu saber e seu cosmopolitismo, dando novo brilho e permitindo outras nuances à crítica cultural de nossa cidade. E não é só: ao escrever “Karl Völkl: mestre-artífice”, o novo acadêmico resgata imorredouro legado de quem trouxe, na criação de objetos utilitários, um sentido estético marcado por pertencimento e nostalgia. Escreveu ainda sobre a casa que hoje nos abriga, em “Harmonia Lyra: Palco das Musas, desde 1858”, e sobre um dos mais destacados artistas brasileiros contemporâneos, filho de Joinville, em “Schwanke: Rastros”. Ainda em contribuição para com a cidade em que se radicou, publicou “Em cartaz – 30 anos: Festival de dança de Joinville; e destacou a marca empresarial para a cidade em “O século singular – ACIJ”.

 

Entre 1992 e 2002, publicou matérias e críticas sobre arte no jornal “A Notícia” e na renomada “Gazeta Mercantil”, por muito tempo o mais importante periódico nacional de economia. Adaptando-se aos tempos, Walter nos traz pitadas de sensibilidade e conhecimento em suas postagens nas redes sociais. Ali encontramos digressões sobre a arte de todos os períodos. Impressões, resenhas e comentários frequentemente associados à pintura clássica, pontilhados de outros referentes à antiguidade ou à arte contemporânea. As linhas de Walter sobre estética são saborosas, uma seiva a nos alimentar em tempos fugidios, de deserção do saber. Refinado, mas sem pedantismo, Walter nos faz pensar sobre o que os tempos atuais deveriam ser: uma época de fortalecimento e consolidação dos ideais civilizatórios, de predominância das Luzes, de pertinência de questionamentos e reflexões, algo tão caro a todos que se dedicam às letras.

Walter empenha-se na busca da verdade da Arte, distinta da verdade das ciências positivas. A verdade da Arte se dá, como diz Cecília Almeida Salles (referida por Walter em seu estudo sobre Schwanke), a partir da busca e da realização do próprio projeto poético do artista. Em suas investigações, participando da construção dessa verdade, Walter nos aproxima e nos apresenta o belo contemporâneo, talvez naquele sentido proposto por Sartre: “o belo infesta o mundo como um irrealizável. E, na medida em que o homem realiza o belo no mundo, ele o faz ao modo imaginário.”

A vinda de Walter permitirá a todos nós contato mais assíduo com um destacado pensador. Sua chegada é motivo de alegria entre seus confrades. A Academia Joinvilense de Letras agiganta-se. Bem-vindo, Walter!

Rodrigo Bornholdt

 

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