5º Concurso Literário – Modalidade Ensino Médio – Cat. Conto – 2º Lugar

 

5º Concurso Literário Carlos Adauto Vieira

2º lugar  na modalidade Ensino Médio, Categoria Conto

Texto: Nevast

Autor (a): Bryan Macedo

Professor (a): Danielle Carin Duarte Maçaneiro

Escola: Escola SESI – Moinho

 

Nevast

— Os nazistas são sobrenaturalmente mais fortes, Hitler usa magia das trevas! — disse o doutor Jekyll — Com o projeto Nevast, vocês, soldados, podem esmagar vários insetos inimigos! Preciso apenas de uma cobaia disposta a morrer pela América.

Sammy era pequeno e franzino. Cachos louros cresciam por cima do corte militar. Não deveria estar no exército, tanto por conta de seu tamanho quanto por sua idade — Sam era dois anos mais novo que o devido. Mas seu pai era o respeitável oficial Damon, grande e assustador. Talvez tenha enviado Sam ao quartel tão cedo, pois desejava que fosse tão forte quanto ele, mas não era.

Em maio de 1943, por ordem de seu pai, Sam foi conduzido para o subsolo do quartel. Alguns soldados demonstraram interesse pelo projeto, mas Damon desejou que seu filho fosse o escolhido. Sam foi alojado em um pequeno quarto escuro e deixou seus pertences ao lado da cama. Não tinha medo, afinal, um pai nunca alistaria seu filho para os experimentos de algum Victor Frankenstein.

Todos os dias, ventosas eram colocadas em suas têmporas. Os diversos tratamentos absorviam todas as forças de Sam. Ele vomitava todos os dias. O doutor mandou o garoto tomar uma série de pílulas para amenizar os efeitos.

— Lembre-se do que digo — disse o doutor — O homem é forte, mas Deus lhe colocou em uma carcaça fraca. Mudaremos isso.

O primeiro mês terminou, e Sam não saiu do subsolo uma única vez. Seu pai não lhe visitou. O doutor achou que seria o momento ideal para um primeiro procedimento. Ninguém disse o que seria feito, talvez radiação, mas não era permitido fazer perguntas. Sam se sentia fraco após a cirurgia.

— Isso tudo é normal, vai se sentir muito mais forte quando se recuperar.

O segundo mês foi embora, e Sam não se sentia mais forte. Ocorreram mais procedimentos. O terceiro mês se encerrou, e cada dia que se passava ele odiava mais o doutor e seu tratamento. Os remédios não faziam mais efeito. Após um dos tratamentos de choque, Sam saltou sobre o doutor e rasgou seu rosto como um animal.

Imediatamente, ele foi transferido para uma cela com apenas um colchão e um balde. Dois soldados flanqueavam as grades. Ele não poderia sair daquela jaula e o doutor não vinha mais. Sam se recusava a comer a ração velha e emagreceu mais. Acumulou sujeira e seus últimos fios de cabelos caíram. Todos os dias os soldados mudavam, e todos tinham medo.

O décimo terceiro dia enjaulado veio com uma forte tempestade. O oficial Damon, acompanhado do doutor com a face desfigurada, desceu até o subterrâneo para ver o antigo filho, mas não havia tristeza em seu rosto, apenas nojo. E sumiu pelo corredor.

Ele notou que um dos novos soldados era Jackson, um antigo amigo. Sam tentou chamá-lo, mas somente um chiado saiu de sua garganta. O amigo tinha medo do animal na jaula. Sam era irreconhecível. Eles o transformaram em um monstro, e a culpa era de seu pai. Tinha ainda mais raiva de seu pai.

A besta se contorceu e sua boca espumou. Ele chiou com angústia.

— Pa… pare com isso — disse Jackson, com a escopeta apontada para a criatura.

O monstro urrou.

O doutor e o oficial Damon pararam, o som do berro distante ainda ressoava nas paredes do corredor.

— Vou ver o que aconteceu, oficial. Fique aqui, serei rápido, quero te acompanhar até seu veículo.

O doutor desapareceu. A tempestade ficou mais forte e as luzes se apagaram por completo. Damon soltou um xingamento. Então, o oficial ouviu um berro distante, seguido por silêncio.

— Doutor?

Um chiado ecoou pelo túnel. Damon acendeu sua lanterna, mas não viu nada no fim do corredor. Sentiu algo gotejando em seu ombro. Moveu a luz para cima e encontrou uma criatura horrenda presa ao teto. Magra e sem cabelos, com olhos amarelos de predador. Sangue escorria de seus lábios. Aquele não era seu filho, era um monstro, uma aberração, e Damon o inseto.

— Droga.

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