5º Concurso Literário – Modalidade Ensino Médio – Cat. Conto – Menções Honrosas

 

5º Concurso Literário Carlos Adauto Vieira

Menções Honrosas na modalidade Ensino Médio, Categoria Conto

 

Texto:  A pulsação eterna

Autor (a): Johan Gabriel Fajardo Ortega

Professor (a): Lidiana Mantovani

Escola: EEB Plácido O. de Oliveira

 

A Pulsação Eterna

Era uma vez um homem chamado Eduardo, que morava numa cidade onde o tempo parecia parar.  Ele era conhecido pela obsessão por relógios.  A sua loja, “El Tiempo de Eduardo”, estava repleta de relógios de todos os tipos: antigos, modernos, de parede, de bolso e de pulso.  Cada um deles tinha uma história única que Eduardo conseguia recitar com precisão e detalhes. Numa tarde fria de outono, explorando um mercado de antiguidades num vilarejo, Eduardo encontrou um relógio de bolso que lhe chamou a atenção.  Era um relógio antigo, com uma tampa de prata adornada com gravuras de criaturas grotescas e paisagens sombrias.  O que mais intrigou Eduardo foi uma inscrição em seu interior que dizia: “Quem controla o tempo controlará seu destino, mas a um preço”. Fascinado, Eduardo comprou o relógio.  Naquela noite, ao examiná-lo cuidadosamente sob a luz bruxuleante de uma lamparina, percebeu que o relógio não estava funcionando.  Determinado a descobrir seus segredos, passou horas tentando consertá-lo.  À medida que a noite avançava, um frio estranho instalou-se em sua oficina e sombras perturbadoras pareciam se mover nos cantos de sua visão.  Finalmente, depois de muito esforço, o relógio começou a bater com um tique-taque suave, mas sinistro. No dia seguinte, Eduardo acordou com uma estranha sensação de vitalidade misturada com um profundo desconforto.  Verificando sua loja, ele notou que o relógio marcava 9h, mas quando olhou para o relógio de pulso, eram apenas 7h.  Confuso, decidiu continuar sua rotina diária, mas percebeu que tudo ao seu redor era um avanço ou um retrocesso no tempo.  Com o passar dos dias, Eduardo descobriu que o relógio de bolso tinha o poder de avançar ou retroceder o tempo. No início, ele usou essa habilidade para corrigir pequenos erros e evitar situações embaraçosas, mas logo percebeu o seu potencial perigoso.  Cada vez que ele manipulava o tempo, um sussurro estranho enchia o ar, como se entidades malignas estivessem observando suas ações além do véu da realidade. Um dia, enquanto fazia experiências com o relógio, Eduardo voltou no tempo e se viu em um momento crucial de sua vida, quando decidiu abrir sua relojoaria.  Naquele momento, lembrou-se do verdadeiro motivo de sua paixão: o desejo de preservar memórias e momentos importantes das pessoas.  No entanto, algo o perseguia.  Uma sombra o seguia a cada passo, sussurrando segredos esquecidos e promessas de poder eterno. Entre a tentação e o terror, Eduardo começou a ter sonhos perturbadores.  Neles via figuras espectrais sussurrando em línguas esquecidas.  Elas lhe contavam sobre o poder do relógio e os sacrifícios necessários para mantê-lo.  À medida que seus sonhos se tornavam mais vívidos, Eduardo começou a se perder da realidade.  Os limites entre o sono e a vigília se confundiram. Aterrorizado, Eduardo decidiu não interferir mais no curso natural do tempo.  Em vez disso, manteve o relógio em um lugar seguro, onde ninguém mais pudesse encontrá-lo.  Deixou os dias seguirem seu curso, valorizando cada momento como um presente precioso, mas sempre acompanhado das sombras que pareciam sussurrar seu nome. Eduardo entendeu que, embora o relógio tivesse o poder de alterar o destino, o verdadeiro controle sobre sua vida estava na forma como ele escolhia vivê-la, e que era melhor deixar alguns segredos esquecidos. A partir disso, dedicou-se a ajudar os outros a valorizarem o tempo e as memórias, fazendo do “El Tiempo de Eduardo” um lugar onde cada relógio contava uma história de vida e de amor, mas também de respeito pelos mistérios do tempo. Assim, Eduardo viveu em paz sabendo que o tempo, embora implacável e cheio de mistérios, era um tesouro a ser valorizado e respeitado.  Mas sempre, nas noites mais escuras, ele podia ouvir o tique-taque distante do maldito relógio, lembrando-o dos segredos obscuros guardados além do tempo.

 

 

Texto:  O Diário da Rainha: Entre Luzes e Trevas

Autor (a): Maria Clara Silva Barros

Professor (a): Carla O. A. Lanza

Escola: SENAC 

 

O Diário da Rainha: Entre Luzes e Trevas

Na moderna cidade de Luminópolis, onde as luzes brilhavam mais intensamente do que as estrelas, vivia Selene Spencer, uma jovem de dezesseis anos. Sua vida seguia uma rotina comum até o desaparecimento de sua irmã mais nova, Stella Spencer. A polícia, incapaz de encontrar qualquer pista, havia desistido das buscas, deixando Selene em um estado de frustração e desespero.

Em uma noite inquietante, Selene teve uma visão vívida. Em seus sonhos, Stella estava correndo por um bosque sombrio, segurando um diário antigo. Com um olhar desesperado, Stella exclamava: “Nesse diário está a minha salvação, e você é a única que pode me salvar!”

Selene acordou agitada e procurou por pistas na casa. Rafael Spencer, o pai delas, mantinha o diário trancado a sete chaves. Era o último vestígio de sua mãe, Titânia Spencer, que também havia desaparecido misteriosamente. Quando Rafael saiu para uma reunião secreta, Selene encontrou a chave do cofre e, com mãos trêmulas, abriu-o. O diário revelou segredos ocultos: Titânia era a Rainha das Fadas de Elyndor, um reino mágico cheio de fadas, dragões e bruxas.

No diário, Titânia havia escrito sobre a necessidade de Selene descobrir seus poderes ocultos e buscar ajuda para resgatar Stella. Elara havia ordenado que Rafael trancasse o portal no porão da casa para proteger Selene após o desaparecimento de Stella. O reino de Elyndor estava repleto de perigos, e seus inimigos, incluindo a temível Rainha Lilith e a bruxa Morgana, eram ameaças constantes.

Selene seguiu as instruções e encontrou o portal escondido no porão. A passagem a levou a Elyndor, um lugar de beleza e trevas. Lá, ela encontrou Darius, um professor místico que revelou que Selene era uma fada da lua, com poderes ligados à escuridão e à luz da lua. Ele a treinou durante uma semana, ensinando-a a usar suas habilidades recém-descobertas.

Com os novos conhecimentos, Selene seguiu a orientação do diário e procurou Rowan, o invocador de espíritos. Rowan era um homem recluso e cético, mas quando Selene mencionou o nome de sua mãe, Titânia, ele mostrou-se disposto a ajudar. Após realizar um ritual, Rowan informou que Titânia e Stella estavam vivas, mas precisavam de ajuda.

Rowan então indicou que Selene procurasse Alanna, uma guerreira antiga e leal a Titânia, que havia sido uma das poucas a apoiá-la quando ela decidiu abandonar Elyndor. Com a ajuda de Alanna, Selene foi guiada para a fortaleza de Morgana, a bruxa que havia sido uma aliada de Lilith.

Durante sua jornada, Selene enfrentou desafios, incluindo uma caçadora de sombras chamada Lyra, que servia como espiã de Lilith. Lyra era astuta e perigosa, mas Selene conseguiu derrotá-la com a ajuda de seus novos aliados.

Finalmente, Selene e Alanna chegaram ao covil de Lilith, onde descobriram que Titânia estava sendo mantida prisioneira para enfraquecer Elyndor. Stella, a fada do sol, estava também aprisionada, privando o reino de sua luz vital.

Com a ajuda de Alanna e Darius, Selene enfrentou Lilith em uma batalha épica. Utilizando seus poderes de fada da lua, Selene foi capaz de combater a escuridão e resgatar Stella e Titânia. A vitória não foi fácil, e o reino de Elyndor sofreu grandes danos, mas a coragem de Selene e a lealdade de seus amigos garantiram a vitória.

Selene, Stella e Titânia retornaram ao reino, trazendo esperança e renovação a Elyndor. O equilíbrio foi restaurado, e a ameaça de Lilith e Morgana foi finalmente neutralizada. Selene descobriu que, além de ser uma fada da lua, ela era uma líder nata, capaz de unir e proteger os que amava.

Com a paz restaurada, Elyndor se preparou para uma nova era de prosperidade. Selene e sua família estavam reunidas, e a bravura e a determinação de uma jovem fada haviam feito a diferença entre a luz e a escuridão.

 

 

Texto: Entre verdade e destino

Autor (a): Victor Hugo De Freitas Melo

Professor (a): Luciane dos Santos

Escola: Colégio Bom Jesus

 

Entre Verdade e Destino

Para o menino, cada gesto, cada palavra sussurrada era uma peça de um quebra-cabeça maior, uma narrativa que ele tentava desvendar enquanto brincava com seu carrinho de madeira entre os canteiros de flores. Ele via beleza nas pequenas coisas, na simplicidade dos momentos compartilhados entre estranhos que, por um instante, se tornavam parte de um mesmo cenário. E enquanto observava, surgiam perguntas em sua mente inquisitiva: “o que fazia com que as pessoas se reunissem ali todos os dias? Seriam as histórias que contavam em suas conversas ou as emoções que não precisavam de palavras?”.

Naquele mundo de percepções entrelaçadas, o menino aprendia que a verdade era tão vasta quanto o céu azul que se estendia sobre a praça e tão mutável quanto às nuvens que o atravessavam. Cada pessoa, cada criatura, trazia consigo uma lente única através da qual interpretava o cenário ao seu redor. E ele se perguntava, com uma curiosidade inocente, se um dia seria capaz de ver tão claramente quanto aqueles que, para ele, pareciam decifrar os enigmas do mundo com um simples olhar.

E ali, nas entrelinhas da vida cotidiana, ele vislumbrava a verdade subjacente: que a realidade se desvela não apenas na luz que ilumina, mas também nas sombras que ocultam; que enquanto alguns viam a  beleza, outros encontravam o mistério; e que, talvez, a compreensão mais profunda resida na arte de discernir entre o que parece e o que verdadeiramente é. Em um mundo onde cada olhar é uma tela onde se projetam esperanças e medos, onde se entrelaçam verdades e ilusões, ele se perguntava se a sabedoria não estaria em aceitar a complexidade do que é percebido e a simplicidade do que é sentido.

E enquanto os olhos do menino se voltavam para a figura misteriosa que observava de longe, uma sombra entre os canteiros floridos, ele compreendia que, para ele, naquele momento, nada mais importava. O mundo ao seu redor parecia desvanecer-se em segundo plano, as ideias vagas de seu autor se misturavam ao suspense que envolvia a amada desconhecida. Nesse embate interno, percebia que a vida se desenrolava entre incertezas sutis: entre a coragem de seguir em frente e a prudência de permanecer onde estava; entre a atração pelo mistério e o conforto da familiaridade. O que aconteceria a seguir, ele não sabia ao certo, mas compreendia que apenas no ato de enxergar — na interpretação íntima de cada gesto, olhar e palavra trocada — encontraria a resposta para suas perguntas.

(Somnium)

 

 

Texto:  Crimes noturnos

Autor (a): Lintz Grave Souza

Professor (a): Carla O. A. Lanza

Escola: SENAC

 

Crimes noturnos

Em uma terça-feira chuvosa, acordo repentinamente com um barulho vindo do andar de baixo, deveriam ser meus novos vizinhos que estavam de mudança. Como sou muito curiosa, descido ir checar para ver se estava tudo certo com eles. Ao chegar, fico assustada ao ver minha janela quebrada e repleta de cacos de vidro no chão e um bilhete ensanguentado amarrado em uma pedra. Assustada, pego o bilhete e jogo na lareira e ligo para a polícia que chega rapidamente em minha casa.

Após muitas investigações, os policiais presumem ser um acidente e saem para outro caso. Indignada com a situação, resolvo fazer minhas próprias investigações. Vou de porta em porta até chegar na casa de meus novos vizinhos. Ao chegar, eles me falam que não viram minha janela sendo quebrada, mas enquanto faziam a mudança, viram uma pessoa encapuzada andando pela rua. Agradeço a informação e volto para minha casa onde continuo pensativa sobre, e indignada por ter me exaltado ao jogar o papel na parede. Até que ouço alguém batendo na porta e vou atender, era Élcio, um dos meus vizinhos mais simpáticos e antigos da rua que queria me alertar de um assassinato que aconteceu na vizinhança. Agradeço Élcio e vou tampar o buraco da janela para ir dormir.

No dia seguinte, acordo e vou para a sala para continuar as investigações, até que de repente vejo uma pessoa encapuzada colocando um bilhete na casa dos meus vizinhos novos. Estranho a situação e vou até a casa deles perguntar sobre. Ao chegar, pergunto para eles e os mesmos ficam com uma cara de desespero. Volto para casa e ligo para os policiais investigarem sobre, porém eles falam que não era uma pista boa o suficiente para voltarem para o caso.

Após uma série de investigações por conta própria com o caso sendo aberto e fechado várias vezes finalmente descubro o que os vizinhos estavam escondendo. A pessoa misteriosa era a mesma que jogou a pedra e o bilhete para mim, mas não era algo como eu pensava. Era um aviso… não para mim, mas para meus pais que moravam comigo e que no dia estavam viajando. O que era o aviso? Era um alerta sobre mim. Infelizmente, alguém descobriu quem era o assassino. Por que infelizmente? Porque era eu. E juro me vingar da pessoa que me entregou.

(Josefina)

 

 

Texto:  O gato da Vila

Autor (a): Alice Cristina Bostelmann

Professor (a): Juliana Lima Moraes

Escola:EEB Plácido O. de Oliveira

 

“O Gato da Vila”

Por que pusera-se a andar pelas ruas caídas, acabadas, mal terminadas e malfeitas daquela maldita estrada? Teria algum motivo além dela? A Gata da Dona? O Gato da Vila, sem donos, sem leis, sem apegos e regras, apaixonado se via. Infelizmente, num curto período. Tuas vidas foram tomadas, tiradas, arrancadas e teu peito já aberto e ferido colocaram larvas para devorar sua pele por dentro.

Mas como chegara a isso? A gata. Obviamente, já não era óbvio que era tudo por ela? Era sempre por ela, mas as garras já eram tão longas e as presas tão à mostra, que nem ela enxergava que o gato que feria era o gato amado, gato gatuno, gato que tomou o próprio veneno, sem desculpas a serem ditas que fossem o suficientemente boas para serem ouvidas.

Mas ela era tão bela, linda, belíssima, que mesmo com o olhar profundo como o temível oceano, não impediu-me de me apaixonar, quer dizer, de fazer o gato, o gatuno Gato da Vila, apaixonar-se. Era dia de verão, com roupas nos varais e água de coco nas mãos. Teu miado era belo, mas fazia o gato se sentir não tão belo assim. Mas isso só percebe-se agora, porque lá, havia apenas paixão, sem cérebro, sem pensamentos profundos. Apenas dois gatos, o Gato da Vila e ela, a Gata da Dona.
Dona essa que assombrava os pensamentos do Gato, que se arrepiava e rosnava ao lembrar. Era a Dona que tornou a gata tão fechada e reclusa? Era ela o motivo de sequer ouvir os miados de amor? Por quê? Ele berrava aos montes, andava com ela por todos os cantos, mesmo com medo, ali estava. E pra quê? Para o silêncio ser mais seu amigo, que a voz da amada que tão próxima estava.

Se quer olhávamos um para o outro como antes, não poder te olhar nos olhos me tirava vidas, quer dizer, tirava-o vidas. Sete, sete era tudo o que ele tinha, ou o que um dia teve. Agora, após tanto pesar, nas patas contava o que restava. A vida tão grande mas mal-aproveitada, tão boa mas mal cuidada, lhe custou já cinco dessas vidas.Uma, era o que lhe restava, e a Gata da Dona sequer perguntou-lhe. Era visível através da expressão corporal como se sentia pelo Gato, cada afastada, cada calada, e cada suspiro de raiva ou inconveniência parecia matá-lo. Mesmo que, por todo caminho estivéssemos juntos, parecia tão distante, tão longe, tão estranho. Ela sequer miava. As longas noites se tornaram curtas, as longas histórias já chegaram ao fim, e os dias marcados nos calendários felinos não chegaram mais. Visível era, que em seus olhos, o Gato da Vila, o sagaz e gatuno, já não podia mais confiar. Afinal, ela mesmo não confiava.

Achava ela, que a vida de gato era apenas relaxar, sem peixes para comer, apenas ração e sempre ração, podia ela reparar no estilo que queria? Tão da Dona que nem sabia o que estava amando ali. Era gata como aqueles que miavam sorrindo para ele ou era humana como aqueles que tentavam e sempre tentavam o envenenar? Ou era como a Dona, que de longe, ouviu-a gritar com a amada Gata. Correu, como nunca, nunca antes. E mesmo que lá estivesse, não conseguia mover um músculo. Ele ficou, e encarou. Tão fundo na alma da Dona, que não sabe como ela não sentiu o desprezo que ele sentia por ela naquele momento. A alma tão podre que lhe dava desgosto, ânsia, medo, pavor e por cima de tudo a mais pura ira, fúria, raiva. As garras saíram das patas que mal se moviam de medo. Afinal, a Gata estava nas mãos da Dona. E o que ele podia fazer além de atravessar o olhar com o dela? Implorando para que parecesse ainda bela, linda e belíssima quando tudo acabar. E mais ainda, desejando que continuasse vida, vivida, e que não se apagasse como antes estava. Ali, após todo o show, ela havia restado, só ela e só ele. Ele está parado, sem vida nenhuma após a Dona lhe alcançar. Deitou-se ao lado da Gata, que o afastou. E, como sempre,  deixou-o sozinho.

 

Texto: No restaurante do amor, nem sempre o especialista acerta

Autor (a): Géssica Paladini de Souza

Professor (a): Loize Piffer

Escola: EEB Rudolfo Meyer

 

No Restaurante do Amor, nem sempre o especialista acerta.

(Fã de Histórias)

Como um garçom do restaurante mais cheio e mais chique da cidade, apelidado de Restaurante do Amor, por ser o lugar com mais pedidos de casamento do estado. Eu ganhei todas as apostas feitas sobre casais, que dariam certo ou não, já entreguei muitos pratos escritos: “Quer casar comigo?” Também escondi muitos anéis de noivado na comida e dei diversos conselhos amorosos. Além de ter sido casado por 20 anos, ainda tendo levado duas filhas ao altar, nunca errei uma previsão.

Uma noite de quarta-feira, cheio como sempre, entrou um homem alto, musculoso e com um destaque em seu rosto: uma grande cicatriz vermelha da testa até a bochecha. Sentou-se em uma mesa para dois e pediu água. Julguei que veio a um encontro, por não ter tocado no cardápio e olhar fixamente para a porta. Não acho que terá sorte esta noite, mulheres julgam a aparência e ele perde muitos pontos pela marca em seu rosto. Pobre homem, espero que a mulher tenha piedade dele.

Alguns minutos se passam, então uma mulher muito bonita e elegante entra sozinha no restaurante. Ela andava como uma modelo; até homens acompanhados davam uma boa olhada. Assim que se aproximou da mesa, o homem da cicatriz levantou, meio ansioso, esbarrou na mesa, puxou a cadeira para a dama se sentar, mas nesse processo deixou a bolsa dela cair. Desviei o olhar pela vergonha, esse homem é um desastre, pensei.

O encontro continuava e só piorava; o homem estava tão nervoso que suava muito, pediu para ligar o ar-condicionado, porém não ajudou muito. Toda vez que passava ao lado de sua mesa, ouvia a conversa que não fluía muito bem. Ele derrubou vinho na mesa, quase rasgou o cardápio, distraído, pediram pratos totalmente diferentes; definitivamente eles não eram nada compatíveis. Estava quase arrancado meu bigode de ver tantos problemas em uma mesa só, esse casal com certeza não dará certo, julguei por todos os momentos observados.

Por me sentir constrangido, evitei a mesa deles até o final do expediente. Apenas ouvia meus colegas apostando, por fim apostei toda minha gorjeta que o romance não daria certo, pelo menos sairia com um bom dinheiro no bolso. Quando terminaram a refeição e ele foi para o banheiro, aproveitei para limpar a mesa; reparei que a moça se encostava nas costas da cadeira sorrindo e enrolava os cabelos com os dedos, aquele sorriso chamou minha atenção; não havia como me confundir; era um sorriso de paixão. Levei os pratos de volta à cozinha em choque, como um homem daquele conquistou essa dama?

Observei-os trocando números e pagando a conta. Andaram até a porta, a moça na ponta dos pés, beijou-o bem em cima da cicatriz, sussurrou algo em seu ouvido, deixando o homem mais vermelho que um tomate recém-colhido.

Olhei os dois saindo de mãos dadas, pensando como pude errar uma previsão amorosa. Será que eu estava distraído? Perdi algum sinal? Será que ela estava apenas o iludindo? Talvez eu esteja velho demais para entender o amor jovem? Eu nunca saberei o fim que tomou essa história, mas não pude deixar de sorrir. Espero que eu tenha errado feio e que sejam felizes para sempre, mas meu rosto logo se fechou, quando meu colega veio esfregar na minha cara, que ganhou a aposta.

 

 

Texto: De um dia para o outro

Autor (a): Angélica Resin Ristau

Professor (a): Carla O. A. Lanza

Escola: SENAC

 

De um dia para o outro

Final do ensino médio, final dos longos e cansativos trabalhos, um momento esperado por todos, mas para Yorran esse era um momento de muita reflexão. “O que vou fazer?”, “O que será do meu futuro?”. Todo dia era um pensamento diferente, na maioria das vezes, pensamentos negativos. Mas isso não podia ficar assim, ficar pensando e pensando não iria mudar nada.

Numa tarde chuvosa, tudo o que Yorran queria era que o sinal tocasse e todos fossem liberados, mais um dia que se passaria sem respostas para as suas perguntas.

No tédio da noite de uma sexta-feira, o garoto, navegando pela internet, decide assistir à transmissão de um jogo de basquete do time titular da sua cidade, foi ali que ele percebeu, que era esse o início da solução de suas eternas reflexões. Foi paixão, era aquilo que Yorran queria.

No dia seguinte, o estudante comentou sobre esse assunto com sua professora de educação fisíca, Amybeth, que além de professora, era muito amiga do menino, sempre lhe dava conselhos e o ajudava no que fosse preciso. Ela, como de costume, o apoiou e ficou muito feliz pela decisão que Yorran  havia tomado.

Um ano se passou, e lá estava ele, na faculdade, a qual se chamava “Northwes”. Uma faculdade muito conhecida, principalmente, pelo seu histórico no basquete. Já sabendo dessa fama, o garoto se esforçou muito e, por fim, conseguiu entrar, seria esse o início da sua carreira?

Diariamente, Yorran passava pelo corredor que ia em direção ao ginásio, um corredor longo, cheio de quadros em homenagem aos falecidos e aposentados jogadores de basquete que ali estudavam. Ele então se sentia muito acolhido por aquele local, saber que todos tinham o reconhecimento que mereciam, era tão reconfortante.

Certo dia, como de costume, às 14 horas, Yorran passava pelo corredor, para ir treinar junto ao time dos calouros. Aquele corredor quase sempre estava cheio de alunos, porém naquele dia, só havia o garoto naquele local. O silêncio ecoava em seus ouvidos, mas por um momento o silêncio foi quebrado… se escuta um espirro. Yorran olha para trás, mas não vê ninguém, quando de repente:

– Saúde!

O garoto se assusta, olha para trás novamente, mas não vê ninguém. Então, segue em frente. Porém os espirros continuaram. Yorran, então, decide ir ver o que era. Chegando perto de um mural com quadros de antigos jogadores, ele percebeu que um dos quadros estava balançando, como se uma forte ventania tivesse passado por ali. Estranhando muito, o garoto fica um tempo observando o quadro.

– E, aí garotão!

Yorran leva um susto, tropeça em suas próprias pernas e cai no chão.

– Ups! Foi mal aí.

– Mas o que é isso? – perguntou o menino.

– Isso o quê?

– Eu estou falando com um quadro, devo estar maluco mesmo.

O quadro solta uma risada e começa a espirrar novamente.

– O negócio tá feio aí, hein – diz Yorran.

– Pois então, não é fácil ficar anos aqui parado cheio de pó.

– Há quanto tempo você está aí?

– Faz uns 14 anos desde que me colocaram aqui.

– Nossa! Muito tempo mesmo – diz o garoto impressionado.

Yorran percebe que já tinha dado o seu horário, decide então ir para a quadra. Ao fim do dia, na pressa de ir pegar o ônibus em direção a sua casa, o menino passa direto pelo quadro. No dia seguinte, ainda intrigado pela conversa que teve no dia anterior, o estudante passa propositalmente pelo corredor, na intenção de entender o que havia acontecido. Chegando lá, Yorran se depara com a parede vazia, não tinham mais quadros, apenas cartazes de trabalhos.

– Ué, como assim? – o garoto fala em voz alta.

– O que aconteceu Yorran? – pergunta Kauan, seu colega de sala.

– Onde estão os quadros dos antigos jogadores?

– Mas que quadros? Nunca teve quadros aí.

(Angelina a ballerina)

 

 

 

 

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