A Academia renasce
A ACADEMIA RENASCE
(Acadêmica Maria Cristina Dias)
Fundada em 1969, a Academia Joinvilense de Letras foi reconhecida desde o início nos meios literários do País. Na época, sua criação oficial reuniu em um mesmo salão personalidades como os escritores Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (representando a Academia Brasileira de Letras), Dinah Silveira de Queiroz, Anibal Pires, Elysio Condé e o poeta Lindolf Bell, além dos presidentes das academias paranaense e catarinense de Letras. Sob o comando do escritor e pesquisador Adolfo Bernardo Schneider, que foi o primeiro presidente. Schneider, porém, era o motor que a impulsionava e, com o passar dos anos, ela foi perdendo força. Com a morte de seu presidente, a academia ficou inativa por anos – e caiu no esquecimento.
Há alguns anos, o advogado Paulo Roberto da Silva, um apaixonado pela história de Joinville, estava lendo o livro “Joinville Ontem e Hoje”, da memorialista Elly Herkenhoff, e se deparou com a informação de que a cidade já havia tido uma Academia de Letras. “A partir dessa descoberta surgiu a curiosidade de saber mais: Ainda existe? Quem foram os fundadores? Se existe onde está instalada? Se não existe, por que encerrou as atividades?”, recorda o advogado, que teve a ideia de resgatá-la e reativá-la.
Paulo Roberto começou um movimento nesse sentido em 2005, na antiga rede social Orkut. Em uma comunidade com o título de “Academia Joinvilense de Letras” ele lançou a ideia e iniciou os debates sobre o tema. Em 2012, com o surgimento do Facebook, a antiga comunidade ganhou uma página e começou a tomar forma real. Paulo partiu para o Arquivo Histórico de Joinville para pesquisar o que havia sobre a antiga academia e conseguiu resgatar dados, como os nomes dos pri-
meiros fundadores e muitas outras informações da época.
A partir daí, tratou de obter informações sobre os 39 integrantes da academia, para saber quem eram, onde moravam, se ainda estavam vivos – e porque 39, se o estatuto previa 40. Era o primeiro passo para a reativação da Academia Joinvilense de Letras, que ocorreu de fato no ano seguinte, em 2013, com a presença dos escritores remanescentes e sob a presidência do Dr. Carlos Adauto Vieira. “Transposto o primeiro obstáculo e obtida a reativação em 2013, surgiram os demais desafios da AJL, que são os mesmos enfrentados por todos os que se dedicam à literatura e à cultura em nosso país: o de manter a instituição em atividade, viva, de portas abertas, cumprindo com seu objetivo, apesar das adversidades do caminho”, constata o advogado, que atua como secretário da entidade.
OS FUNDADORES – 1 (série)
Uma justa e necessária homenagem aos fundadores e aos patronos da Academia Joinvilense de Letras
Paulo Roberto da Silva
JOSÉ ACCÁCIO SOARES MOREIRA FILHO:
UM PIONEIRO DO DIREITO
Nascido em 1897, desde muito cedo o tubaronense José Accácio Soares Moreira Filho vinculou-se a Joinville, onde, já em 1922, tornou-se colaborador da ACIJ (a associação empresarial da cidade) com a publicação de artigo de caráter econômico.
Seu pai, do mesmo nome, fora um advogado provisionado, jornalista e político, que fundara em 1897, no mesmo ano do nascimento do filho, o jornal “A Verdade”, em Tubarão. Nos anos seguintes, seu pai galgou, ainda, os postos de deputado estadual em 6 legislaturas, além de se tornar vice-governador do Estado nos idos de 1930
Por conseguinte, entre 1925 e 1930, residiu José Accácio Filho em Florianópolis, onde atuou na Assembleia Legislativa e, no final do governo de Adolfo Konder, foi incumbido da organização da futura Penitenciária Estadual (atual Penitenciária de Florianópolis), inaugurada que foi no governo seguinte, de Bulcão Viana, dela tornando-se o primeiro diretor.
Ingressando na Faculdade de Direito de Curitiba, lá se formou em 1929. Passando a atuar como advogado em Joinville, tornou-se o segundo advogado de Santa Catarina a ingressar na seccional catarinense da recém-criada Ordem dos Advogados do Brasil, pois esteve inscrito na OAB/SC sob o nº 002 desde 16 de maio de 1933.
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Casou-se com a joinvilense Aracy Garcia, irmã do empresário e político Adhemar Garcia, aqui deixando descendência.
Desde 1937 tornou-se editor de um boletim informativo da ACIJ – as “Cartas Mensais” – sobre as quais escreveria mais tarde o primeiro presidente da Academia Joinvilense de Letras, Adolfo Bernardo Schneider: “de cada linha transcende uma imensa cultura jurídica”. No todo, desenvolveu intensas atividades junto à ACIJ, em várias campanhas da entidade, à qual se manteve vinculado durante 57 anos, ou seja, até dois anos antes de sua morte.
Nos anos 40 empenhou-se na criação de cerca de uma dezena de sindicatos patronais, além de manter, a partir de 1937, em rigorosa ordem um arquivo de Diários Oficiais, que hoje integra o acervo da Biblioteca Pública de Joinville.
A 15 de novembro de 1969 o nome desse jurista e intelectual figurou como um dos 14 fundadores originais da Academia Joinvilense de Letras (AJL), tomando posse na Sessão Solene realizada no Salão Nobre da Harmonia-Lyra. Em 1971, participou das discussões que resultaram na aprovação do primeiro Estatuto da entidade recém-fundada, estando presente também na eleição da primeira diretoria, a 16 de outubro daquele ano.
Constantes eram os contatos do primeiro presidente da AJL com o acadêmico “Dr. Accácio” (como era conhecido), em especial nas questões atinentes à redação dos Estatutos.
Faleceu a 14 de novembro de 1981, aos 84 anos, um dia antes do 12º aniversário da Academia que ajudou a fundar. Sua casa, na esquina da Rua São Francisco com a atual Avenida JK, tornou-se um símbolo na paisagem urbana da cidade.
Sob este título, o acadêmico Hilton Görresen discorreu com perfeição sobre a vida e obra de seu tio, o também acadêmico Brasil Görresen, que adotou o nome de “Brasil Gerson” em suas obras. O texto merece ser conferido no seguinte link: http://www.recantodasletras.com.br/homenagens/1743386
Efetivamente, Brasil Görresen foi um intelectual bastante completo, que trafegou com segurança pelas letras, seja como historiador, jornalista, escritor, teatrólogo, crítico e roteirista de cinema.
Nascido em 1904 em São Francisco do Sul, foi em Joinville que se iniciou no meio jornalístico, à época no “Jornal de Joinville”, de Eduardo Schwartz.
Em 1950 recebeu o prêmio Joaquim Nabuco (de história social), da Academia Brasileira de Letras (ABL), por sua obra “Garibaldi e Anita – Guerrilheiros do Liberalismo”.
Desde 7 de dezembro de 1972 tornou-se membro-fundador da ACADEMIA JOINVILENSE DE LETRAS (AJL), mas faleceu poucos anos depois, a 20 de agosto de 1981, no Rio de Janeiro.
MOACYR GOMES DE OLIVEIRA: O FIDALGO DAS LETRAS
Filho do ilustre coronel da Guarda Nacional Procópio Gomes de Oliveira, o menino Moacyr cresceu vendo seu pai embrenhar-se pela política de sua terra e em atividades empresariais.
Prefeito de Joinville a partir de 1903, ano do primeiro aniversário de nascimento de Moacyr, o coronel Procópio voltou a ocupar o cargo máximo da municipalidade em um segundo mandato, em 1911. Mais adiante, tornou-se, ainda, deputado estadual por duas legislaturas: de 1913 a 1915 e de 1916 a 1918.
Nesse período, em 1913, inaugurou sua elegante mansão, a “Villa Maria”, na avenida que hoje leva seu nome.
Eis o ambiente em que, a 16 de outubro de 1902, em Joinville, veio à luz Moacyr Gomes de Oliveira, que em homenagem ao pai por vezes adotou, nas letras, o nome de “Moacyr Procópio Gomes de Oliveira”
Desde cedo a literatura fez-se presente na vida desse joinvilense que, quis o destino, tornou-se farmacêutico, numa família em que, sendo o caçula de vários irmãos, viu-se cercado por uma plêiade de intelectuais, com um irmão engenheiro, outro médico e um cunhado jurista e senador da República, mas todos também escritores e jornalistas.
Em 1926, seu nome aparece vinculado ao lançamento do mensário ilustrado “Cock-tail”, publicação com finalidade artística, literária e social, que passou a dirigir juntamente com Hostílio Ratton e Arnaldo Douat. Em 1933, enveredou pelo jornalismo, passando à direção do “Correio-Jornal” juntamente com seu cunhado Carlos Gomes de Oliveira, jornal que sucedeu ao “Correio de Joinville”. Aliás, sua constante colaboração com artigos nos periódicos locais fez com que seu nome fosse considerado no rol dos mais frequentes colaboradores da imprensa joinvilense.
Amante das letras, sua biblioteca era composta por bons livros, e aprendeu até mesmo o método de leitura dinâmica. Trabalhou, ainda, na revisão da obra “Casa Feliz”, que trata da colonização açoriana em Santa Catarina, de autoria de seu irmão, o também acadêmico João Acácio Gomes de Oliveira.
A 15 de novembro de 1969 seu nome figurou como um dos 14 fundadores originais da Academia Joinvilense de Letras, tomando posse na Sessão Solene realizada no Salão Nobre do clube Harmonia-Lyra.
Esse homem generoso e de hábitos simples, um verdadeiro “fidalgo das letras”, veio a falecer na sua Joinville natal a 19 de novembro de 1981, na “Villa Maria” construída por seu pai.
Nascido na Baviera e imigrado para o Brasil na década de 20, nos anos que se seguiram Hans Bachl fixou residência em Joinville, vindo a se integrar e a se identificar com o país e com as nossas instituições.
Ingressando na maçonaria, desde cedo colaborou em jornais, revistas e periódicos, com crônicas, poesias ou material de pesquisa histórica, para tanto valendo-se de seu próprio nome ou de pseudônimos (“M. Claudius” e “Irmão Três Pontos”).
Sua vasta produção pode ser encontrada em várias publicações, tais como: anuário “Serra-Post Kalender”, jornal “O Acadêmico” (de Blumenau), revista “Vida Nova” (de Joinville), “Revista União” (de Porto Alegre), “Fraternidade” (de Curitiba), “O Prumo” (de Florianópolis), “O Malhete”, “Die Brudereschaft”, “Die Weisse Lilie”, “Hanseatisches Logenblatt” e outros.
Colaborou, ainda, com o “Álbum Histórico do Centenário de Joinville”, organizado pela Sociedade Amigos de Joinville, onde foi autor dos trabalhos “A Estrada Dona Francisca” e “A Maçonaria em Joinville”.
Em 1976 publicou a obra “Nos Bastidores da Maçonaria – memórias de um ex-secretário”, que mereceu reedição. Além de cronista, poeta, pesquisador e escritor, foi também tradutor, destacando-se seu trabalho com a obra “O Segredo do Maçom” (“Das Geheimnis des Freimaurers”), de autoria do historiador, escritor e maçom bávaro Franz Karl Endres, que traduziu do original em alemão e publicou no ano de 1954.
Desde 1969 tornou-se um dos 14 membros pioneiros que fundaram a Academia Joinvilense de Letras, vindo a falecer em 1979, aos 77 anos incompletos.