“A galinha eleitoreira” (Nelci Seibel)
A galinha eleitoreira
Engraçado! Em período de campanha de eleição até os bichos caseiros entram em polvorosa. Pelo menos em Bom Princípio, alguns casos bizarros fizeram história.
Um desses casos sucedeu em 2008, quando meu irmão Nestor se agitava na agenda eleitoral para a sua terceira gestão como prefeito de Bom Princípio. Tudo transcorria dentro das expectativas, afora alguns pequenos incidentes provocados pela oposição, comuns nesta época, com mais intensidade em pequenos municípios do interior.
Como o TSE – Tribunal Superior Eleitoral restringiu a propaganda política quase que ao corpo a corpo, Nestor e seu então candidato à vice, Vasco Brand, não tiveram outra forma de atingir os eleitores, a não ser visitando um a um nas suas residências. E a maior parte dos moradores de Bom Princípio vive em áreas rurais, onde muitas coisas podem acontecer…
Dia desses, Nestor e Vasco decidiram inserir um aparte no roteiro do dia, para visitar um assíduo eleitor e cabo eleitoral, que se encontrava em convalescença de uma cirurgia.
Ao chegarem à casa do eleitor acamado, os dois foram encaminhados ao quarto. A dona da casa convidou Nestor a se sentar na única cadeira ali existente e saiu em busca de outra para o Vasco. Quando este ia sentar-se, o possível futuro vice-prefeito da cidade percebeu algo estranho no assento. Olhou com mais atenção e percebeu tratar-se de um cocô de galinha. Como estava mais pra seco, empurrou o estrume ao chão e se acomodou.
Ao darem início aos seus discursos eleitoreiros, nem muito veementes porque este eleitor era “causa ganha”, o inesperado aconteceu: uma galinha, da raça carijó de quintal, que chocava seus ovos, já quase pintos, sabe Deus aonde, percebeu a movimentação no espaço que também era o dela e não se fez de rogada: deixou seu posto e saiu em disparada. Entrou voando no quarto, com todas as penas eriçadas de tão furiosa. Como que em pouso de emergência de um avião “teco-teco”, aterrissou sobre a cama do operado, e num novo impulso desabou do outro lado, no chão. Ato contínuo escondeu-se debaixo da cama, com o seu “cacaricá” bem acima dos decibéis normais.
Um dos meninos que expiava na porta do quarto, notando o tamanho da confusão, tocou-se atrás da galinha brava e conseguiu agarrá-la. Por pouco não derruba o pinico, também debaixo da cama, e que ainda não tinha sido liberado dos resíduos da noite anterior.
Encerrado o incidente, os candidatos a mandatários do município levaram alguns segundos para retomar o fio da conversa. Se bem que esta já estava decorada de tanto repetir, e que desfiava todos os bons princípios que, como governantes de Bom Princípio, nos próximos quatro anos iriam colocar em prática.
Com todas as emoções adicionadas à honra da importante visita, o doente a estas alturas já se encontrava a um passo da recuperação. E os dois romeiros de campanha política, felizes. Descobriram que naquela casa havia eleitores em potencial que nem eles imaginavam…
Ao entrarem no carro para deixar a propriedade e seguir em frente com a agenda do dia, Vasco catou uma pena “carijó”, no cabelo do Nestor, que ali havia se alojado. Eles também nunca descobriram de onde surgiu aquela alterada galinha. Supunham, no trajeto até a próxima visita, que o ninho que ela chocava, poderia estar instalado debaixo de uma das camas dos onze filhos do morador.
Joinville, 31.8.2008
Nelci Seibel