Anísia, a astuta (Jura)
Anísia, a astuta
Jura Arruda
Cozinhar não era a praia de Gregório. Por sorte havia perto de casa um restaurante onde buscava seu almoço quase diariamente. Era comum levar Imortal consigo. O cachorro aguardava, muito comportadamente, do lado de fora, o retorno do dono. Era comum também Anísia sair do balcão para fazer carinho em Imortal, enquanto Gregório selecionava o que ia para a marmita.
Numa segunda-feira, a moça surpreendeu Gregório ao pedir que ele lhe desse Imortal. Ele acreditou tratar-se de brincadeira, despistou. Nos dias seguintes, Anísia insistiu e, na sexta-feira, ele cedeu:
– O que você daria para tê-lo?
– O que você pedir.
– Não está falando sério.
– Qualquer coisa.
– Tudo?
– Ok, quase tudo.
– Sete noites.
Surpresa ainda maior, a moça imediatamente disse sim.
– Ainda bem que não pedi você em casamento.
– Vai deixar o Imortal, agora?
– Depois das sete noites.
– Da primeira.
– Como vou saber que você vai cumprir o acordo?
– Não vai saber.
– Então, depois da sétima noite.
– Amanhã será a primeira. Depois, uma por semana. Na terceira, você deixa ele comigo.
– Você sabe negociar.
Em casa, a irmã não acreditou no que ouviu e, sibilando, acusou:
– Isso é prostituição.
– Claro que não.
– Você vai fazer sexo em troca…
– De um cachorro.
– É a mesma coisa.
– Quando o Felipe deu a Turquesa para você, o que você fez? Uma noite especial em um motel, não foi? É a mesma coisa.
– Nós éramos namorados.
– É a mesma coisa.
– Por um cachorro, Anísia?
– Que cachorro?