Cantinho de Dona Olga (Zabot)
CANTINHO DE DONA OLGA
Por si só a Dona Francisca (SC 418), sim a estrada, o entorno – paraíso de lugar. Deslumbrante. Paisagem única e singular. Encantadora, sejamos realistas.
Ao largo, na baixada, espraiam-se os riachos, sossego das águas. Remansos. Refúgio de piavas. Na meia encosta destacam-se pingentes licuranas, e, intrépidas corredeiras, espumam. Galope de rios. Mais acima ribanceiras, calcanhar de montanhas. Cachoeiras. Dona Francisca, princesa da serra, simples assim.
É num desses cantinhos de mata que Dona Olga e Marcos ousaram aprofundar raízes. E que contentamento! Sem pestanejar, rasgam o verbo:
— Amamos este lugar.
Marcos, fiel escudeiro, resistia no começo, até que enfim, convencido, deu mãos à palmatória:
— Lugar mais lindo do mundo. Demorei para perceber. Definitivamente, apeguei-me. Paixão irresistível. Razão para questionar, jamais. Rende-se.
Emenda incisivo:
— Olga estava certa.
Cá entre nós: há quem ame a natureza por amá-la, mas há também que a ame por estar ali presente. Palpável. E mais: há os que contribuem para fazê-la resplandecer ainda mais, é o caso de dona Olga e Marcos. No olhar de ambos, percebe-se cheiro de terra em cio. De mato. Faíscas de sol despertam imprevisíveis voos. E mais: apegados às plantas, simplesmente reverberam.
“Criciumeiras abaixo” — ressalta Marcos. Mãos calejadas. Faz questão de entendê-las. O gesto: oração à mãe-natureza, certo disso.
Com a retirada da invasora reapresenta-se a mata. Reapareceram canelas, cedros e jacatirões. E outras árvores mais, antes sufocadas. E até o pomar caseiro de outrora renasceu das cinzas. E também as achachairu –fruta dos deuses – tal o sabor. “Quem as prova, na certa, apaixona-se” —ressalta Olga.
Marcos aponta portentoso exemplar ao largo. Sementes da última safra cobriam o chão. Apanho algumas delas.
Dona Olga não esconde: sempre foi apaixonada pela natureza. Por frutíferas ou ornamentais. Pouco importa. E árvores nativas, sobretudo. E, jardins, paixão de Marcos desde criança, faz questão de ressaltar:
— Muito do que aprendi sobre jardinagem devo ao Dario Bergmann da Agrícola da Ilha, mestre dos mestres.
Ora, Marcos jardinocultor! Houve resistência na família. Mais tarde, entretanto, o apoiaram. Pois jardinagem é arte, é técnica, é ofício nobre, reverbera com uma ponta de orgulho. Outros irmãos seguiram suas pegadas.
Dona Olga, não contendo-se, ergue os braços e exclama:
— Veja que lindo bacupari. Esplendida frutífera da Mata Atlântica, exibe-se sobranceira ao largo; percebe-se claramente.
O sonho de ambos: fazer do sítio num pequeno Jardim de Éden. Sintonizados com a natureza, ensejam aventuras. Trilhas ajardinadas. Plantio de espécies nativas. Juçaras sobressaem. Bordaduras coloridas. Bastão do imperador saltam aos olhos. Espádices coloridos. Mais ao fundo o Rio Seco que seco não tem nada. Ao contrário, águas cristalinas borbulham e dançam, choramingando corredeira abaixo.
Da serrapilheira recolhida, compostagem. Nada se perde. Tudo reciclado. Aves ensaiam, voam. Ensejam cantorias. Dona Olga ao vê-las, ressalta:
— Aves felizes, pois tem frutas o ano todo. E até bananas. Pomares para todo lado.
À frente – bela residência restaurada. No interior obras de arte. Um museu de antiguidades devidamente restauradas. Ah, e até um assento feito com dormentes de estrada de ferro. Verdadeiro trono.
Enfatiza com uma certa dose de nostalgia Dona Olga:
— Meu pai foi ferroviário. Lembranças dele.
Estávamos no sítio, a pedido. O casal pretende abrir a propriedade para visitantes. Turismo ecológico. E a colega, Engenheira Agrônoma Dione Benevenutti, expert no assunto, anotava e perguntava. E a atenciosa estagiária, Letícia, não perdia nenhum detalhe. Nessa hora o diagnóstico preciso é tudo.
Não restava dúvida, o sítio de Dona Olga e do Marcos tem tudo para dar certo.
Fizemos questão de ressaltar:
— Amigos, aqui a parte de Deus está perfeita, a natureza, claro, e, a dos homens, também. Que sítio bem cuidado! Quanto zelo. E que criatividade!
Diante do cenário, não vacila Dione.
— Que tal começar com uma feira de mudas de plantas ornamentais e nativas? Não esqueçam, porém, de cobrar ingresso. Agendar visitas.
Ah, em tempo: entre o verde, trilhas, recantos com mesinhas e bancos rústicos. Cantinhos de sossego. Mescla de Jardim inglês com requintes orientais.
Marcos, como bom jardineiro conhece muito de plantas, em especial silvestres. E Dona Olga, não deixa por menos. Neles transparece criatividade e, sobretudo, dedicação. E zelo. E põe zelo nisso.
Novidade, portanto, a caminho, e das boas. O cantinho de Dona Olga e de Marcos surpreende. Tem tudo para dar certo. Afinal, achegos e paraísos significam, sobretudo, reencontro com as bênçãos da mãe-natureza.
E põe mãe-natureza nisso. Jardim de Éden à vista, de certeza. Alvissaras!
Joinville, 13 de julho de 2024
Onévio Zabot
Engenheiro Agrônomo