Casa de marimbondo (Else)

Casa de Marimbondo

Else Sant’Anna Brum*

 

Pedro Miguel e Gustavo eram primos. Um dia eles estavam brincando no quintal da casa de sua

avó Iara, quando viram um menino maior que eles jogando pedras em uma casa de marimbondos

num rancho que ficava ao lado. Pegaram bem depressa a irmãzinha Helena que estava dormindo

num carrinho de bebê e a levaram para dentro de casa com medo de que algum dos bichinhos viesse mordê-la.

– Por que será, disse Pedro Miguel, que meninos gostam de apedrejar casas de marimbondos,

sabendo que eles mordem e sua mordida é horrível? Esse não é o primeiro que eu vejo.

– Eu não sei, falou Gustavo, mas garanto que vó Iara sabe, porque ela conhece tudo sobre bichos

e entende esse mundo como ninguém. Vamos perguntar a ela.

A boa avó, além de preparar bons quitutes para os netos, costumava contar histórias e ensiná-los

a cuidar da natureza. Indagada pelas crianças, Vó Iara explicou assim:

– Diz a lenda que um dia, uma marimbonda velhinha que morava só, pois os filhos já tinham

saído de casa, ficou muito doente. Precisava de ajuda, mas como encontrar os filhos se não podia

nem sair da cama?

Neste momento apareceu em sua janela uma linda borboleta e ela lhe pediu que fosse à casa de

seus filhos avisar que ela estava muito doente.

– Vou com prazer, disse a gentil borboleta. É só me indicar o caminho.

– Você passa pelo Lago Azul e bem perto, depois de uma cerejeira grande, tem uma casa branca

de janelas verdes. Ali está a casa de meus filhos.

A borboleta voou ligeiro até o lago, mas quando viu aquela água cristalina quis molhar suas

asas para se refrescar e esqueceu de ir à casa dos marimbondos.

– Que pena, disse Pedro Miguel.

A marimbonda cansada de esperar, viu passar uma libélula. Chamou-a e pediu a mesma coisa.

Mas a libélula encontrou no caminho uma amiga, ficou conversando e esqueceu de levar o recado.

– Puxa, que azar, falou Gustavo.

A marimbonda já estava desiludida, quando viu chegar a sua amiga abelha, que imediatamente

foi à casa dos filhos da doente e deu o recado.

Eles, no entanto, eram ingratos e não vieram atender a mãe, dando mil desculpas. A abelha,

sem dizer nada, para não causar desgostos, foi até sua casa, trouxe mel e algumas ervas e fez

remédio para a amiga, que logo se restabeleceu.

Então a marimbonda disse:

– Pode dizer… Meus filhos não quiseram vir, não é? Mas eu lhe afirmo, sempre que meninos

virem uma casa de marimbondo, hão de jogar pedras.

Terminada a história, Vó Iara falou para os netos, que estavam pensativos:

– Mesmo que sejam marimbondos, os bichos não devem ser maltratados, pois o resultado não

é agradável. O mesmo também acontece com a natureza, que está respondendo aos maus tratos

que tem recebido.

– Sim, vovó, disseram os dois ao mesmo tempo.

E perguntaram, com olhinhos sapecas:

– Tem bolinho de chuva para o café hoje, vovó?

 

 

* Else Sant’Anna Brum, escritora e educadora

   elsebrum@gmail.com

 

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