Chumbo grosso (Herculano)

Chumbo Grosso

                          Herculano Vicenzi

Assim que a família se aprontou com a melhor roupa domingueira, o pai, um italiano blasfemador que só, ordenou que todos subissem já na carroça.

Queria chegar na igreja de Ribeirão da Vargem bem antes da missa. Assim teria tempo para conversar um pouco com alguns amigos que moravam na outra extremidade daquela paragem do interior de Taió.

Ao pegar nas rédeas, o homem olhou para o lado e viu um bezerro amarrado num esteio do rancho. Lembrou-se então que naquela manhã ainda não lhe havia dado uma boa quantidade de leite, providência que repetia todos os dias desde quando o bicho fora separado da mãe.

Aos resmungos, desceu da carroça, correu até a cozinha de onde voltou com um balde cheio até a boca de leite ainda quentinho da ordenha.

O animaleto atracou-se com uma vontade que dava gosto de ver. Eis que aí a coisa aconteceu. De súbito, o guloso deu uma cabeçada no vasilhame. Pronto, o que ainda restava de leite ensopou a calça preferida do tratador.

Possesso da vida, o desinfeliz atirou o balde contra a cerca, deu um soco nas fuças do cabeceador, olhou para cima e abriu o verbo:

– Cristo, se tu descer a uns 15 metros de altura, juro que te dou um tiro de espingarda bem no meio da coroa de espinhos!

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