David Gonçalves – Discurso de posse
Prezados Senhores, Boa noite!
Pertencer à Academia era um sonho, quase inatingível. Hoje, realidade.
Primeiramente, quero saudar o patrono desta cadeira: SAINT-HILAIRE. Um cientista. Augustin François Cesar Provençal de Saint-Hilaire, nacido em Orleans, França, a 4 de outubro de 1799 e falecido em Turpinière, Loiret, em 1853. Garnde estudioso de botânica, curioso para ver as regiões tropicais. Embaixador da França, chegou ao Rio de Janeiro em 1816, e ficou no Brasil até 1822 – viajando, observando, observando as novas espécies vegetais. De 1830 a 1851 publicou Voyages dans l’Interior Du Brésil. Seis tomos indispensáveis e preciosos pela variedade de informação e veracidade dos relatos. Publicou a Viagem à província de Santa Catarina, com relatos minunciosos sobre o folclore e a etenografia tradicional. Cientistas como Saint-Hilaire são poucos até hoje e, graças a ele, que pesquisadores, como Câmara Cascudo, puderam conhecer melhor a nossa cultura.
Portanto, Senhores, estou plenamente grato de ter como patrono Saint-Hilaire, um cientista de primeira vertente.
Saúdo, também, o fundador desta cadeira – o escritor, historiador e cineasta Brasil Görresen, nascido em São Francisco do Sul, 1904, nossa bela cidade vizinha, e falecido no Rio de Janeiro, 1981, com 77 anos.. Fez os estudos na cidade natal, onde já publicava suas crônicas históricas, e publicou também no jornal de Joinville. Até hoje, o mais completo relato sobre as ruas do Rio de Janeiro é de sua autoria – um estudo minuncioso de praças, ruas, becos, travessas, desde os primórdios até a década de oitenta.
HISTORIADOR, JORNALISTA, TEATRÓLOGO, CRÍTICO E ROTEIRISTA DE CINEMA, COMEÇOU SUA CARREIRA JORNALÍSTICA NO JORNAL DE JOINVILLE. EM 1920, TRANSFERIU-SE PARA O RIO DE JANEIRO, EM BUSCA DE SEUS SONHOS.
NO ESTADO NOVO, TEVE QUE SE EXILAR NO URUGUAI – POR CAUSA DE SUAS IDEIAS LIBERAIS.
LÁ SE CASOU E EXERCEU O JORNALISMO.
DE VOLTA AO BRASIL, DEDICOU-SE À PESQUISA E PUBLICOU DIVERSAS OBRAS, ENTRE ELAS:
HISTORIAS DAS RUAS DO RIO – 1955, CONSIDERADO ATÉ HOJE A OBRA MAIS COMPLETA SOBRE O RIO DE JANEIRO.
REPRESENTA, SOBRETUDO, A BUSCA DE UM SONHO, DE UMA CIDADE PROVINCIANA ÀS GRANDEZAS DA CAPITAL DA REPÚBLICA.
Quanto a mim, pobre mortal, sou escritor por vocação, e escrevo desde os 14 anos. Já de começo, em 1972, publiquei o primeiro romance: As flores que o chapadão não deu. E já colhi problemas: o livro foi recolhido pela Polícia Federal e, por pouco, então, também não fui recolhido. Como se vê, minha literatura já incomodava algumas pessoas desde o começo. Todas as minhas narrativas se passam na cidade de Quadrínculo, onde o real e o fantástico se misturam. Sou da geração do mimeógrafo, e distribuí meus contos em folhas impressas e sujas de tinta para os alunos de minha escola.
Confesso que não escrevo para agradar as pessoas. Minha obra agrada e desagrada, inspira confiança e também desconfiança. Faz críticas instigantes, desnuda o caos, fomenta a crença e, por vezes, desalenta.
Sinto-me grato por pertencer ao excelente grupo de acadêmicos e espero contribuir com minhas ideias. Para encerrar, eu acredito na Literatura. Ela me move. Para mim, parafraseando Gorki, “o escritor é o olho, o ouvido e a voz de um povo”.
Tenho dito. Muito obrigado!