Decepções

É difícil suportar uma decepção. A sensação é de que algo morreu dentro de nós. Mário Quintana dá um testemunho a esse respeito dizendo: “Da primeira vez que me assassinaram perdi um jeito de sorrir que eu tinha. Depois, de cada vez que me mataram, foram levando qualquer coisa minha”.

Cada desilusão leva algo embora. Cada desapontamento retira um pouco de alegria. Cada desengano torna a vida mais escura. De tanto se levar, há quem acabe mudando o jeito de ser. Sente-se que o poeta dizia a verdade ao afirmar que “a saudade que dói mais fundo é a que temos de nós mesmos”.

Independentemente da idade, o ser humano apega-se a ideias, expectativas e situações. Cria imagens do futuro e crê que elas irão se concretizar. Quando o resultado é diferente do imaginado surge a dor, mesmo quando a nova realidade não é tão ruim quanto se imaginava. A simples frustração machuca, pois o homem prefere o demônio esperado àquele que não conhece. Opta pelo conforto e não pelo desafio. Prefere o veneno conhecido ao remédio ainda não provado.

É impossível passar a vida sem sofrer, e viver é a arte de decepcionar-se sem perder o ânimo. Na vida raramente as coisas acontecem como planejamos. Lamentar-se pelas expectativas não concretizadas apenas torna a vida pesada. É como se fôssemos colocando cada desilusão em uma mochila e com ela fôssemos subindo a ladeira da vida.

É impressionante a sensação de alívio que obtemos quando reduzimos a carga carregada. Esse ensinamento me foi dado por um amigo que recentemente fez o “Caminho de Santiago”. Segundo ele, o maior ensinamento da peregrinação é que o “menos é mais”. Quanto menos se carrega na mochila, melhor se faz a caminhada, e isso pode ser levado para todos os momentos de nossas vidas. Diminuir a ansiedade, a culpa, a raiva, o medo, o orgulho e os desejos traz vitalidade.

Esvaziar a mochila periodicamente permite perceber que ter uma vida plena está sempre ao nosso alcance. Depende exclusivamente de perceber a beleza dos momentos que vivemos, pois cada dia constitui uma vida nova para o homem que sabe viver.

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