Discurso de posse na Academia Joinvilense de Letras (Laércio Beckhauser)
DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA JOINVILENSE DE LETRAS
Laércio Beckhauser
DOMUS AMICA, DOMUS OPTIMA —
A casa amiga é a casa ideal.
Hoje, com emoção serena, adentro essa Casa de Letras e de Luz, que de agora em diante é também minha casa predileta.
Senhor Presidente,
Dignos confrades e confreiras,
Família, amigos, companheiros de jornada,
Senhoras e senhores,
Recebam neste instante o meu mais sincero agradecimento e respeito, por estarem comigo nesta noite que não é apenas uma celebração individual, mas sim uma homenagem à palavra, à memória e ao espírito que move o pensamento humano
Ao ser eleito para integrar esta Academia, sinto-me acolhido numa irmandade cuja missão transcende o tempo: preservar a cultura, estimular a inteligência, honrar a memória e perpetuar a beleza da criação literária. A Cadeira 22, que passo a ocupar, possui um passado nobre e inspira um futuro comprometido com a elevação da alma joinvilense.
Sucedo a estimada jornalista, escritora e confreira Nelci Seibel, cuja presença firme e sensível enobreceu esta instituição com sua inteligência crítica e vocação comunicativa. Honrar sua memória é um desafio, e ao mesmo tempo um farol.
A esta cadeira foi designado o nome da poetisa Júlia Maria da Costa, a musa da poesia paranaense que se fez catarinense por amor, radicando-se em São Francisco do Sul, onde seus versos se entrelaçaram com a brisa atlântica. Júlia foi uma mulher à frente do seu tempo, e sua presença simbólica nesta Academia eleva ainda mais o compromisso que ora assumo.
Mas não posso continuar sem mencionar aquele que lançou as sementes desta casa de sabedoria: Manoel Deodoro de Carvalho, nosso fundador, que compreendeu a importância de se criar um espaço literário permanente no seio da maior cidade de Santa Catarina.
A ele e a todos que ao longo das décadas mantiveram acesa a chama da Academia Joinvilense de Letras, minha reverência.
Hoje, quando adentro esta Casa, não o faço apenas como escritor, como cronista da vida, como genealogista dos nomes e dos tempos. Entro como alguém que foi acolhido por Joinville — e que por ela se apaixonou. Aqui me estabeleci, aqui investi, aqui fui reconhecido com a honraria de Cidadão Honorário, e agora — pela segunda vez — recebo desta cidade uma nova certidão de pertencimento.
Nesta Academia, reencontro muitos amigos, descubro múltiplas culturas, escuto vozes lúcidas em prosa e verso, e me refugio num recanto de sabedoria fincado nas terras abençoadas de Dona Francisca.
Esta não é uma conquista que me eleva sobre os outros — é um chamado que me convoca a servir com mais intensidade, com mais humildade, com mais amor. Porque a verdadeira imortalidade reside naquilo que deixamos para além de nós: palavras, exemplos e gestos que iluminam.
Quero, portanto, deixar registrada, nos anais desta augusta instituição, minha mais profunda gratidão a cada acadêmico que depositou em mim seu voto de confiança. Essa escolha, que muito me honra, converte-se em um pacto: um pacto de presença, de trabalho, de dedicação ao bem maior da cultura.
Comprometo-me, desde já, a fazer desta cadeira um ponto de irradiação literária. Aqui, não repousarei. Aqui, plantarei. Plantarei palavras, ideias, debates, poemas e prosas que dialoguem com o mundo — e, sobretudo, com Joinville, esta cidade que abracei e que agora me devolve, com ainda mais força, esse abraço.
Queridos confrades e confreiras: esta noite, minha alma sorri.
Este é, para mim, um momento de coroamento espiritual.
Coroamento não de vaidade — mas de missão.
Coroamento não de glória — mas de sentido.
Em tempos tão urgentes, em tempos tão ruidosos, é nos páramos imortais da Literatura que encontramos silêncio criador, esperança poética, lucidez ética.
E é exatamente nesse lugar que desejo permanecer — com todos vocês.
DOMUS AMICA, DOMUS OPTIMA.
Aqui, onde pulsa o verbo e a memória, a casa amiga tornou-se a morada da minha eternidade literária.
Muito obrigado. Viva a literatura. Viva Joinville. Viva a Academia Joinvilense de Letras!