Discurso de Recepção ao Acadêmico Valmir Neitsch (Marinaldo Silva)

 

DISCURSO DE RECEPÇÃO AO NOVO IMORTAL, VALMIR NEITSCH

 

“O poema escapa das mãos do poeta. O poema é função, o poeta, aresta. Envolver-se com cada dor, com cada alívio, com cada parte do ser sofrido ou libertado, engendrar-se no belo, emanar-se no horror, atravessar, atrevendo-se no uso do esquecimento feito ponte, ou de um desordenamento a longo prazo. É função do poema o envolvimento! O poema audaz, capaz de ser febre intermitente, mortal pela ausência dolorosa, condenado a condensar-se, tão ardente. Insiste o poema, mãe de todas as intenções na condução dos próprios versos. Inesperadamente, agarrada a um punhadinho de letras… Aparece a vida!”

É com imenso prazer que ocupo esse espaço hoje, não como imortal com medalha suntuosa no peito, mas como a pessoa responsável por receber um amigo, nesta casa de amigos, título registrado no cerne desta academia. Estou aqui na condição de mortal, mesmo que imortalizado esteja, com todos os nervosismos pertinentes a alguém que se coloca diante de desconhecidos, para expressar a minha honra em dar as boas vindas ao poeta Capim, que foi registrado como Valmir Neitsch, mas que foi como Capim, desses que enverdecem todos os espaços, que surgiu para a vida poética.

O verso inicial, extraído da sua obra, traz a função do poema, trabalho realizado do poeta Capim. Mas eu vou me atrever um pouco mais, escapar do gênero poesia, para adentrar na seara da Poesia Alma, a Poesia Transparência, a Poesia Humanista vinda do organismo vivo de Valmir, essa fortaleza que se avoluma, embora o porte físico, que já foi o motivo dele ser barrado num certo aeroporto na Alemanha, tente esconder mas não consegue, o homem que não se quebra, a égide-pessoa que é o poeta Capim. Escrevendo poemas, enrolando e desenrolando carreteis, inserindo palavras tão cheias de impacto nos papeis, podemos reconhecer esse poeta.

O conheci há uns 20 anos, lá vinha ele, uma pessoa impressionante, meio frágil, muito intenso. Quando eu começava ele já existia. Apreciei sua forma de escrever, mas como pra mim o homem sempre vem antes de tudo, de todo e qualquer currículo, me encantei que da poesia que ele escrevia, a mesma ele praticava! Por anos atuando junto a ADEJ – Associação dos Deficientes Físicos de Joinville, ministrando oficinas de teatro, empoderou pessoas que muitas vezes vimos vitimadas, mas que nada disso tem. Vítimas somos nós, eu escreveria, de alguma soberba, da roupa engomada, da certeza de que falamos bonito demais e que sabemos copiar o restante da fila.

De posse de suas palavras, prestes a ouvir o seu discurso de posse, compartilho o sentido de um dos poemas que ele mais gosta, segundo sua esposa, Lúcia. Um poema que fala de sua residência mágica, lugar onde mora o sol nas tardes de inverno, onde o vento forma um coral com vozes ancestrais e assovios melodiosos trazidos pelo vento. Lugar onde o poeta vê um pirata com o olho direito vendado, dentro do coqueiro, e o outro olho, o esquerdo, de prata, parecendo nunca querer dizer nada…

Excelentíssimo Senhor Valmir Neitsch, eu, Marinaldo de Silva e Silva, representando nossa Academia, autorizado pela nossa presidente, tenho a honra de lhe dar as boas vindas. E, como nós poetas quebramos protocolos já que a subversão é parte da poesia, senão como veríamos riacho, flor e passarinho saindo de uma pedra, convido a todos, para, de pé, aplaudirmos a fundamental imortalização da poesia por meio do seu veículo condutor, o poeta em forma de Capim.

Joinville, 09 de Julho de 2024

Marinaldo de Silva e Silva

 

Valmir Neitsch

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