Else Sant’Anna Brum – Discurso de posse

Era uma vez uma menina de oito anos, aluna de uma escola municipal em um bairro distante do centro de Joinville. Ela e seus colegas, com orientação da professora, que era sua irmã, usaram caneta e pena molhada em tinteiro para escrever em folhas de papel almaço o primeiro jornal da escola, chamado “O Labor”.

Hoje, 71 anos depois, aquela menina assume com orgulho uma cadeira na Academia Joinvilense de Letras, lendo seu discurso digitado em computador.

De acordo com o protocolo, antes de continuar a história da menina, quero referenciar minha antecessora nesta Academia: Guiomar Beltrão Ferreira.

Ela foi uma pioneira.

Participou das reuniões preparatórias de fundação desta Academia em 1969 integrando o quadro de fundadores.

Em 2013 seu voto foi decisivo para a reativação da Academia que se encontrava inativa há vários anos.

Além da premiada obra “Tertúlia”, também são de sua autoria os seguintes títulos: Glicínias de Agosto, Centenário de Gilberto Gutierrez Beltrão, Joinville Cidade das Flores, Memória Médica do Dr. Walter Ferreira.

Passado Presente: 151 Anos de Joinville e Colcha de Retalhos.

Esposa do saudoso médico Dr. Walter Ferreira, foi sua colaboradora constante nas atividades médicas.

Escolheu como patrono de sua cadeira o também médico Dr. Norberto Bachmann, ao qual passo a me referir como Patrono da Cadeira para a qual eu fui eleita em sua vaga.

O doutor Norberto Bachmann foi médico, jornalista, pesquisa dor e escritor. Nasceu em Minas Gerais em 1887, mas radicou-se em Joinville onde faleceu em 1960 aos 73 anos.

Era profundo conhecedor e estudioso de assuntos relaciona dos ao significado das palavras indígenas, tendo vários escritos a respeito do tema.

Fundou em Joinville o Instituto Pasteur e deixou variadas publicações e pesquisas nas áreas da medicina e da saúde.

Quero agora fazer alguns agradecimentos:

Considero que não há dever mais urgente do que o de agradecer.

Agradeço a Deus que é a fonte de tudo o que somos.

Agradeço aos nobres acadêmicos que, com seus votos, me conduziram a esta Academia.

Agradeço a presença aqui, hoje, de meus queridos familiares, amigos e ex-alunos

Quero lembrar também do meu marido Homero Mazarem Brum, jornalista, falecido em 1996, e que muito me incentivou na carreira literária. Se aqui estivesse, certamente estaria muito feliz.

Nasci em Joinville no dia 15 de agosto de 1936. Meu nome foi tirado do livro “Crônicas da Família Schonberg­Cotta, de Rundle Charles, cujo exemplar ainda possuo.

Perdi minha mãe aos 9 anos de idade, mas meu pai sempre esteve presente educando a mim e meus 11 irmãos e incentivando-nos a estudar.

Em nossa casa, as histórias da Bíblia eram contadas e lidas toda s as noites, após o jantar.

A poesia sempre fez parte da minha vida – desde o curso Primário até a Faculdade, onde fiz parte da Revista “Viva a Poesia”.

No curso de Pós-Graduação em Literatura e Língua Portuguesa minha monografia teve como tema “A Fantasia – Eterna companheira do homem”.

Como professora-alfabetizadora contava histórias para os meus alunos. Foi nesse período que comecei também a criar as minhas histórias.

Meu primeiro livro, com o título Miguelito Pirulito, foi resultado do concurso Histórias para a Infância Catarinense, promovido pelo governo de Esperidião Amin em 1986. Foi distribuído para os jardins de infância e creches de todo o Estado.

Depois vieram os livros Cri-Cró, Retetéu e Serelepe.

Tenho ainda mais de 70 histórias infanto-juvenis publicadas no Jornal A Notícia, onde fui colaboradora voluntária por vários anos.

Participo desde 1981 da Revista Literária “A ilha”, atualmente editada em Florianópolis por Luiz Carlos Amorim, responsável pela publicação do meu livro de poemas “Hóspedes do coração”.

Tenho o prazer de ter percorrido várias escolas em muitas cidades de Santa Catarina, onde minhas histórias são trabalhadas.

No Brasil, a maioria dos escritores tem de bancar suas obras. A recompensa, porém, vem com o retorno dos leitores.

Asseguro que não há nada mais gratificante do que ver uma criança deliciar-se em ouvir ou ler uma de nossas histórias ou de nossos poemas, como este que, encerrando minhas palavras, deixo com vocês:

Sonho dos Bichos

Um dia vi vários bichos

Numa grande reunião

Cada qual contava o sonho

que tinha no coração

 

– Queria pernas bem altas

Dizia um pato gordinho

O gato queria asas

como tem o passarinho

 

O elefante sonhava

em ser menor e mais leve

O urubu desejava

ser branco da cor da neve

 

O sapo chegou pulando

no meio da reunião

Queria braços compridos

para tocar violão

 

O rato queria casa

igual à do caracol

A cobra queria pernas

para jogar futebol

 

-Eu queria, disse o burro,

ser sábio e inteligente

O macaco arrematou:

-Eu queria ser gente!

 

-Sábio foi o Criador,

ouvi a coruja dizer,

Por não perguntar a ninguém

como desejava ser!

COMPARTILHE: