Eu já expliquei (Donald Malschitzky)

 

Eu já expliquei

Donald Malschitzky

 

“Eu ensino e você não faz nada certo; vai ao médico, você precisa tomar um remédio”. O coitado do jovem aprendiz de ajudante de pedreiro teve que escutar sem revidar, mas a raiva que sentiu estava clara em seu rosto e nos gestos. Ele não aprendera, e nenhum médico ou remédio ajudariam, por uma simples razão: ninguém lhe ensinara coisa alguma; o profissional, no máximo, passou umas instruções superficiais, sem qualquer garantia de aprendizado, e a ofensa só fez o jovem abandonar a função.

Mesmo sem tanta grossura, a reação de quem acha que ensina frente a quem quer aprender, muitas vezes, é semelhante, e os resultados também: o aprendiz ― vamos tratá-lo assim ― não aprende e chega a desistir do aprendizado, mas o instrutor ― também vamos tratá-lo assim ― está convencido que ensinou certinho.

Quanto mais jovem o instrutor, piores as consequências, especialmente na área da informática:  muitos jovens, criados usando tecnologias avançadas, acreditam que todo ser humano sabe como usá-las, por mais complexas que sejam, e “ensinam” com base nessa crença, usando, inclusive o palavreado próprio, ou impróprio, que só entende quem é do metier, talvez, até, para mostrar o quanto sabem. Mas esse comportamento não se restringe aos jovens ou à área de informática: vale para tudo e todos, inclusive, infelizmente, para alguns professores.

Quando os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, viram a necessidade de, em tempo recorde, produzir armamentos. Como um enorme contingente de funcionários de fábricas foi convocado para lutar, as empresas ficaram carentes de mão de obra. Uma das soluções foi convocar mulheres e pessoas sem experiência na área de produção. Para treiná-los, criaram o programa TWI (Training Within Industry – Treinamento Dentro da Indústria), cuja primeira fase era o Ensino Correto de um Trabalho. Seus protagonistas: o supervisor e o aprendiz.

Ao supervisor cabia certificar-se de que o aprendiz realmente aprendera e sabia produzir com qualidade, para isso havia um método de treinamento com alguns pontos-chaves, com destaque para: “Prossiga até ter certeza que o aprendiz aprendeu”, e seu lema reforçava: “Se o aprendiz não aprendeu, o supervisor não ensinou.”

O programa não ficou apenas na primeira fase; hoje conta com quatro módulos, envolvendo formação pessoal, resultados através de pessoas, melhora de processos e segurança no trabalho. Nos anos 1950, a Toyota o adotou, transformando-o em elemento chave de seu sistema de produção. Pelo sucesso alcançado, possivelmente, poucos supervisores tenham dito: “Eu já ensinei; se vira”.

COMPARTILHE: