Flamboyants
Nos primeiros dias de Joinville, em 1957, através do pintor autodidata Eugênio Colin, descobri-os, abundantes como as palmeiras e os palmiteiros. Um, especialmente, o da inolvidável Confeitaria Dietrich, na esquina das ruas do Príncipe e princesa Isabel. Passei a frequentá-la e fazer amigos entre os habitués. E os seu proprietários. Especialmente, Lico e Dolores. Entre os clientes, o retratista Victor Kursancew com a sua voz de cossaco; Herr Muschlack, tranquilo e só com seu chopp geladíssimo, após vender seguros; Mário Lúcio dos Reis, inolvidável causeur, funcionário federal do Telégrafo nacional; Lothar Córdova, famoso corretor imobiliário e super espirituoso. Lico era o violino spalla da Orquestra da Sociedade Harmonia Lyra. Seu pão de centeio, sua torta de requeijão, e o enorme Flamboyant, árvore de até 15m (Delonix regia) da família das leguminosas, flores vermelhas ou cor de laranja e vagens lenhosas, castanho-escuras, com várias sementes. Florida, era objeto de milhares de fotos, profissionais e amadoras. Souvenir!!!
Um dia, como acontecerá a cada um de nós, Lico partiu. Foi ensinar anjos e querubins a tocar harpa no céu. A Família sofreu um enorme abatimento. Era o âncora da família e do estabelecimento, aos quais dedicava 20 horas por dia, sempre sorridente.
A propriedade cobriu-se com uma mágica cortina. E foi posta à venda. Não tinha mais utilidade; nem confeitaria, nem padaria, nem charmoso bar. Adquiriu-a um conhecido capitalista balzaquiano, pela sua volúpia por dinheiro. E, imediatamente, quis livrar-se do tradicional prédio e do estupendo flamboyant. Mas este já não era mais da Família e, sim, da população joinvillense. Aí o impasse.
Mas, como qualquer personagem de Balzac na sua imortal Comédia Humana, buscou um meio de se desfazer da árvore incômoda. E o preparou para um domingo cedinho. Alguém nos deu o alerta ! Mas o que fazer num sábado à tarde? Era pensar rapidamente ou perder aquele tesouro da cidade.
Tivemos o estalo do Padre Vieira. Embarcamos no carro e fomos à redação da Notícia, chegando e pedindo um pedaço de papel e uma máquina de escrever. No domingo, desde a madrugada uma multidão estava defendendo pacificamente a “nossa árvore”, após ter lido no jornal o convite para assistir à derrubada dela.