Flores no banheiro (Andreia)
Flores no banheiro
Há flores no meu banheiro.
Quando eu saí de casa, um dia pela manhã, elas não estavam lá. Foi um dia difícil. Dentro do corpo, algo me amassava o coração, comprimia meu estômago e aprisionava lágrimas pesadas. Alguns dias são mais espinhudos que outros. Só que algo mágico aconteceu entre minha saída e meu retorno. Cheguei em casa no fim de tarde, dei um beijo no marido e um afago no gato, fui ao banheiro. Ao lavar as mãos, dei de cara com um vasinho vermelho, tão vermelho quanto as minúsculas flores que me sorriam de volta. Há magia nas mãos que escolheram as flores que alegrariam minha chegada em casa.
Houve um tempo em que eu não recebia flores do meu marido (quando ele ainda era meu namorado). Flores custam caro e duram tão pouco… Eu me queixava: queria flores, embora não tivesse maturidade para cuidar delas com o apreço que elas exigiam. Flores, diferente dos gatos, não miam pedindo comida nem água — e não preciso dizer que trágico destino tinham as flores que me eram confiadas.
Houve outro tempo em que eu precisava ganhar as rodovias para estar com meu marido, porque quase duzentos quilômetros nos separavam. Eu ia, passava o fim de semana e retornava na noite de domingo para amargar as saudades por cinco longos dias. Um dia, fui recepcionada por flores. Não era um buquê, nem um vaso: ele havia plantado flores do lado de fora da janela do apartamento, assim, eu sempre seria recepcionada por crisântemos e margaridas.
As flores no nosso banheiro vicejam. São pingos de açúcar nas manhãs amargas. É para elas que eu olho quando as pálpebras não querem acordar, quando o dia nem clareou ainda, mas a responsabilidade me chama à realidade que nega os sonhos da noite. Flores despertam a beleza que trazemos na alma.
Há flores no meu banheiro, mas há mais que isso. Flores são um afago, um carinho sem tato. Foram trazidas para casa de um jeito mudo e silencioso, deixadas num lugar inesperado com a intenção de me fazer abrir um sorriso de satisfação ao me deparar com a surpresa. Gestos de amor sempre me arrancam sorrisos.
Andreia Evaristo