GUILHERME AUGUSTO EMÍLIO TIBURTIUS

GUILHERME AUGUSTO EMÍLIO TIBURTIUS

GUILHERME AUGUSTO EMÍLIO TIBURTIUS (*1892, Berlim-Alemanha +1985, Curitiba-PR)

Guilherme Tiburtius nasceu em Berlim/Alemanha, em 17 de outubro de 1892, filho mais velho de Hermann Franz Carl Christian Tiburtius e Marie Anna Auguste Plehser.

         Em 1908, então com 16 anos emigrou pela 1ª vez com os pais para o Brasil e se estabeleceram em Jatobá, na Grande Belo Horizonte/MG. Desde cedo Guilherme teve o instinto de colecionador e acreditava que na nova terra seria fácil encontrar peças para coleção. Seu interesse aumentou ao tomar conhecimento da existência de artefatos indígenas e objetos procedentes dos sambaquis. Foi lá que encontrou seu primeiro machado de pedra…

Contudo, com a dificuldade de sobrevivência e, sem o sucesso esperado, a família retornou para a Alemanha. Porém, em 1910 a família decidiu voltar para o Brasil, dessa vez para o interior de Santa Catarina – Anitápolis, a 110 km da capital, Florianópolis.

Mais uma vez os Tiburtius foram subjugados a uma situação controversa naquele interior então inóspito, e com a morte prematura do pai Hermann  decidiram se mudar para Curitiba/Paraná.

Lá Guilherme Tiburtius conseguiu um emprego, mas o salário não cobria a pensão em que se abrigara. Com muitas horas extras trabalhadas e o máximo de economia, deu início à sua fábrica de artefatos de madeira – Tiburtius e Cia. – que obteve crescente sucesso até a chegada da 2ª Guerra Mundial, quando foi obrigado, por sua ascendência alemã, a encerrar as atividades da fábrica.

Guilherme Tiburtius nunca teve oportunidade de frequentar um curso universitário. Mas como marceneiro autodidata reuniu conhecimentos que permitiram sua evolução como colecionador e pesquisador. 

Antes da Guerra, todos os custos de viagens de bicicleta, de carroção e mais tarde de automóvel – e demais despesas para suas escavações foram providas pela sua próspera fábrica, que mantinha mais de 100 empregados. “A cada nova notícia a respeito de um sítio de sambaqui, Guilherme Tiburtius se punha na estrada em busca de novidades, ou seja, das antiguidades de, talvez, milhares de anos”, comenta o filho Edgard Paulo Tiburtius, no livro Guilherme Tiburtius I.

Em 1949, quando recebeu a visita do professor Dr. João José Bigarella, professor titular da Universidade Federal do Paraná, que se mostrou um grande amigo e que mais tarde escreveria o prefácio do seu livro “Arquivos de Guilherme Tiburtius I”, ele já havia construído um rancho para abrigar o bem organizado museu no quintal de sua casa, composto de peças e objetos resgatados em suas escavações, todos com anotações, meticulosos registros, estudos e descrições.

Guilherme e Bigarella aproveitaram a oportunidade para visitar diversos sambaquis, e com pesar verificaram que muitos já haviam sido destruídos, cujo material havia sido utilizado nas caieiras e no ensaibramento de estradas. Lamentaram a extinção de tamanho patrimônio pré-histórico de valor inestimável.

Na época começaram também alguns problemas. Como não era especialista em arqueologia, Guilherme foi proibido pelo diretor do museu do Paraná, de continuar as pesquisas. Assim, algum tempo depois, por intermédio do filho Edgard, residente em Joinville foi estimulado a buscar novas regiões a serem exploradas, em Santa Catarina. Visitou sambaquis em Joinville, Araquari, São Francisco do Sul e outros lugares da região. Edgard acabou se tornando o motorista do pai nas idas aos sambaquis da região. Era também na residência do filho Edgard que Guilherme se hospedava com sua esposa Clara, quando pesquisava em Santa Catarina. Encontravam muitas preciosidades pré-históricas, enquanto a casa em Curitiba ficava cada vez mais abarrotada de itens, alguns doados por pesquisadores de várias partes do mundo.  

Todas as 12 mil peças arqueológicas que Guilherme Tiburtius conseguiu reunir são fruto de escavações realizadas durante 40 anos, no litoral sul do Paraná e litoral norte de Santa Catarina. E, em 1963, então com 71 anos, quando os filhos não demonstraram interesse em ficar com o acervo do museu, para a sua alegria, 8.500 peças foram adquiridas pela Prefeitura de Joinville e estão até hoje cuidadosamente preservadas no Museu Arqueológico do Sambaqui em Joinville – MASJ. Inicialmente as mais de 8,5 mil peças foram integradas ao Museu Nacional de Imigração e Colonização, e só depois foram instaladas no prédio do Sambaqui, inaugurado em 1972.

O que mais agradou aos arqueólogos e historiadores de Joinville foram a organização das peças, os registros e catálogos com desenhos e dados de cada objeto, as fichas e anotações de Guilherme Tiburtius, que também compõem o acervo, e o que motivou o então prefeito Helmuth Falgatter a compra-las. Ainda em 10 de outubro de 2012, alguns últimos manuscritos foram integrados à coleção pelo filho de Guilherme ainda vivo e residente em Curitiba, Ewaldo Oscar Tiburtius, então com 87 anos, que fora seu acompanhante nas pesquisas realizadas no Paraná, que fez questão de doá-los.

Ainda em vida e em reconhecimento às suas atividades de arqueólogo, Guilherme Augusto Emílio Tiburtius recebeu homenagens importantes pelo trabalho realizado, como da Sociedade Brasileira de Heráldica e Medalhística, no dia 9 de março de 1964 em São Paulo e o título de Cidadão Benemérito de Joinville, em 21 de janeiro de 1977, da Câmara de Vereadores de Joinville.

Além de “Arquivos de Guilherme Tiburtius I”, Guilherme escreveu mais dois livros: “Cemitério de um povo desconhecido no Sambaqui de Enseada, no Estado de Santa Catarina, Sul do Brasil” e “Sambaqui Morro do Ouro, Santa Catarina, Sul do Brasil”.

Guilherme faleceu em 03/12/1985, em Curitiba/PR, aos 93 anos.

 

(Pesquisa e redação: Nelci Seibel)

 

Referências

PORTO, Fabrício. Jornal Notícias do Dia, 11.10.2012.

Livro: Arquivos de Guilherme Tiburtius I – Copyright by MASJ – 1996,

págs. 9 a 17.

TIBURTIUS, Roberto Guilherme. [Depoimentos] 10 e 12.4.2019. Entrevista concedida a Nelci Seibel.

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