Habemus Papam (Onévio Zabot)

 

HABEMUS PAPAM

 

No momento em que  mais  um Papa é eleito (maio de 2025, dia 8) – agora um americano do norte, mas também do sul –,  o glamour é geral. Impressionante a força do cristianismo. E o legado papal, algo instigante. Robert Francis Prevost, entronado Leão XIV, chama a atenção  pela espontaneidade. Parece que nasceu Papa. Simples. Direto. Embora filho de Chicago – terra de Al Capone – consolidou sua trajetória missionaria nas selvas peruanas, na singela Chiclayo.

Pés no chão, portanto, é o que não lhe falta. A exemplo do padre argentino José Brochero – santo das montanhas de Córdoba –, percorria  distâncias nada modestas no lombo de uma montaria. Arreios caprichados. Alegre e tranquilo. Sempre sereno. Mão amiga. Afetuoso. Certo de sua missão pastoral. Oh, quanta alegria vê-lo ungido, vê-lo sucessor de Pedro, o pescador.

Nessa hora vem-me à mente o livro: As Sandálias do Pescador, de Morris West. Um clássico. Virou filme. Filme de sucesso. A história gira em torno de Kiril Lokota, de origem modesta, peregrino ucraniano. Embora as agruras e percalços, torna-se arcebispo. E num momento desses de vácuo espiritual, é eleito papa.

Leão XIV porta algo assim,  um claro enigma  o diferencia dos papas anteriores: é agostiniano. O primeiro  eleito pela ordem.  E Santo Agostinho, doutor da Igreja Católica, bispo de Hipona, Norte da África, inspira gerações. Eminente professor de retórica marcou época em Roma.  Mundano na juventude –  convertido por sua mãe, Santa Mônica, e ao ouvir os sermões de Santo Ambrósio –,  muda de vida. Torna-se cristão. E, em obras como As confissões e Cidade de Deus, com imensa sabedoria, discorre sobre aspectos fundamentais do cristianismo. Doutor da Igreja, é referência obrigatória, a exemplo São Tomás de Aquino e tantos outros.

Leão XIV chama a atenção por três aspectos principais: 1) por evocar Leão XIII, cuja epistola  – Rerum Novarum –,   firmou as bases da doutrina social da igreja em face da revolução industrial, especialmente no que tange à luta de classes preconizada por Karl Marx; 2) pela busca da unidade na Igreja. Unidade cristã, não importa a corrente doutrinária, embasada no lema  de Santo Agostinho: “In illo uno unum (Em aquele que é um, somos um só)”; e 3) pela busca da paz como valor universal.

Certamente, a  busca da “pax in terra”, o maior dos  desafios, haja vista a magnitude  dos conflitos atuais, caso da guerra russo-ucraniana. E no oriente médio, árabes e israelenses.

A corrida armamentista, preocupa, e muito,  pois  aloca recursos escassos para a indústria bélica, a indústria da morte. E esses recursos fazem falta, especialmente na eliminação da pobreza. E, por que não, da fome. E essa condição  é simplesmente inaceitável no atual estágio da convivência humana.

Certamente as Igrejas, não apenas a Católica, mas todas, não importa a corrente doutrinária, cabe superar esse triste paradigma da corrida armamentista. Alguém com propriedade afirmou: “ A Idade da Pedra não acabou apenas por falta de pedras.

E, ao encontrar-se com Bartolomeu I da Igreja Ortodoxa,  lavra um tento e tanto. É hora de aproximação. De diálogo. Que venham, portanto, as floradas das oliveiras do Bósforo. Floradas da conciliação e da paz, a verdadeira aliança dos povos, independente de  raças, crenças e atitudes. Boa sorte, Papa Leão XIV.

 

Joinville, 23 de maio de 2025

 

Onévio Antonio Zabot

Engenheiro Agrônomo

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